domingo, 5 de fevereiro de 2017

Canções de Hénonville


David Boder, um psicólogo americano de origem russa e judeu, captou no ano de 1946, em antigas bobinas de arame, melodias que os prisioneiros judeus cantavam nos campos de concentração, em iídiche e em alemão.
Com o fim da Guerra, Boder decidiu gravar o sofrimento das vítimas, dando voz aos sobreviventes, para tentar perceber o impacto psicológico daquelas atrocidades sofridas.
Percorreu vários campos de refugiados (França, Itália, Suíça e Alemanha), onde entrevistou 130 sobreviventes judeus. Gravou um total de 200 daquelas bobinas de arame, nas quais os entrevistados contavam as suas histórias pessoais e as suas experiências nos campos de concentração. Entre essas duas centenas de bobinas, uma continha as canções dos prisioneiros, que Boder gravou nesse verão no campo de Hénonville, em França.
Mais tarde, o psicólogo que faleceu em 1961, referiu em livro a bobina com as canções, mas pensava-se que estava perdida.
Andaram perdidas durante 70 anos, mas a sua descoberta, por mera casualidade, numa velha bobina mal catalogada, e um rasgo de inventividade tecnológica de uma equipa da Universidade de Akron, nos Estados Unidos, resgataram do passado um conjunto de canções do Holocausto: as Canções de Hénonville.
Também nos campos estalinistas a música tinha sentido simbólico. Em kolimá, quando os pelotões fuzilavam sem descanso Varlam Chalamov diz-nos: “Durante meses, de dia como de noite, por ocasião das chamadas da manhã e da noite, foram lidas inúmeras condenações à morte. Com um frio de cinquenta graus negativos, os prisioneiros músicos – de delito comum – tocavam uma marcha antes e depois da leitura de cada ordem. As tochas fumegantes não conseguiam atravessar as trevas e concentravam centenas de olhares nas folhas de papel fino cobertas de gelo em que estavam inscritas as horríveis mensagens”.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Breve História da Arte

                          https://www.wook.pt/livro/breve-historia-da-arte-susie-hodge/22237887