BARROSO da FONTE |
No
preciso dia 1 deste dezembro sombrio, enquanto acompanhava pela tv a cerimónia
alusiva à data, relia eu uma entrevista de José Mattoso à «História JN, nº 3».
Aí afirma que «Portugal é um país que (ainda)
procura o seu destino. A identificação nunca é definitiva. Por isso
Portugal vai sendo» aquilo que os nossos políticos quiserem. E, como eles
preferem o mediatismo, o espalhafato e a confusão, deles só podem
esperar-se aberrações, excrescências e remoques. O verdadeiro povo não foi ver
nem ouvir. Está cheio da baixa política.
Pelo que vi e ouvi durante a sessão solene dos 376 anos do 1º de Dezembro,
que restaurou a independência de Portugal. Sempre fui e serei pela celebração
de todos os feitos que a História registou, e que pelas razões com que acima
aduzo, ainda não tiveram o discernimento de corrigir as datas maiores da Nossa
História. Embora, também eu concorde que o 1º de Dezembro nunca deveria ter
acabado, senti-me identificado com o politólogo Joaquim de Aguiar que
acompanhou, como convidado, aquela sessão.
O que ele disse era aquilo que eu gostaria de dizer, se tivesse palco e
competência para me fazer ouvir. É por isso que lhe dedico este artigo de
opinião. Nunca falei com ele, nem sei em
que águas toma banho. Mas apoio incondicionalmente os seus comentários. Como
apoio os argumentos que José Ribeiro e
Castro, coordenador-geral do Movimento 1º de Dezembro, que assinou na «Praça da
Liberdade» do JN do dia 29.
Aquele naipe de nomes reais, hipotéticos,
fictícios e gracejantes, atribuídos à RTP que, convidada a transmitir, em
direto e integralmente, o desfile Nacional de Bandas Filarmónicas, com 35 presenças, imitando o que fez em 2013
e 2014, recebeu a nega dos administradores e diretores da televisão pública.
Gravíssimo e a merecer forte reprimenda por parte de quem ignorou o cumprimento
deste verdadeiro serviço público. Mas chamar «data maior da História de
Portugal ao dia da restauração» não perfilho nem perfilharei, enquanto por
aqui andar e mantiver a lucidez que
julgo ter. Digo isto, de novo, ao ex-deputado da AR, como já lho havia dito em
diversos artigos de imprensa e em carta pessoal que lhe mandei, na qualidade do
sócio nº 1 e de Presidente da Direção, durante vinte anos, da Associação
Nacional de Combatentes do Ultramar.
É fácil de explicar: apenas se restaura aquilo
que já existe. Aquilo que em 1640 se restaurou, já tinha 512 anos. O 24 de
Junho de 1128 é, contra ventos e marés, a data maior da História de Portugal.
Não é preciso ir a Coimbra para se compreender este raciocínio. José Mattoso
chamou-lhe «aquela primeira tarde Portuguesa». Ainda hoje, volvidos 888 anos,
no Alto da Bandeira, na freguesia de Creixomil, às portas do Campo de S.
Mamede, em Guimarães se realiza, todos os anos, a Festa popular e religiosa da
Senhora da Luz. Esta celebração encerra a fenomenologia religiosa em honra da
Senhora desse nome, que prolongou a luz do dia para que a Batalha de S. Mamede
tivesse êxito total e claridade bastante
para se consumar a vitória da emancipação do Condado Portucalense. Foi aí que o
Condado acabou e o Reino de Portugal teve o seu início. Por isso mesmo, ainda
hoje se lhe chama o Dia Um de Portugal.
Incompreensivelmente ainda não houve coragem
política, nem lucidez científica bastante para hierarquizar a importância das
datas da História de Portugal. Quando tal se fizer, o 24 de Junho de 1128, o 25
de Julho de 1139, o 14 de Agosto de 1385 e o 1º de Dezembro de 1640, deverão
ter escalonada a sua importância.
Até
lá, a data da Restauração tem um simbolismo menor em relação a todas essas datas, porque sem elas não teria ocorrido a
Restauração, em 1640. Em história como na vida das pessoas, há precedências que
têm de respeitar-se, a partir do dia de nascimento. Sem nascimento nada existe.
O meu nacionalismo tal como o patriotismo que
me levou à guerra, em Nuambuangongo, no Norte de Angola, sem saber porquê, mas
que aceitei como dever cívico, é o mesmo com que defendo este diferendo
Histórico. Não podemos nem devemos num império de 888 anos, valorizar apenas
376. É que sem os 512 que a data de 1 de Dezembro lhe retira, Portugal não
seria hoje o reino que fomos e o país que somos. Joaquim Aguiar acusou Marcelo
de ser uma ironia de si mesmo. E António Costa um pau mandado da esquerda
anquilosada.
O
que se viu na última Quinta-Feira não foi uma invocação histórica. Foi um
palanque e um ajuste de contas entre políticos. Uma orquestra bem afinada entre
dois órgãos de poder que se valeram da História propagandística, a tal a que
José Mattoso chamou de mentira, porque «os políticos em Portugal, nunca
conseguiram, ou não quiseram, verdadeiramente, unir o país, antes quiseram
dividir para reinar». A prova provada de que o PR e o PM estabeleceram um pacto
de não agressão mutua, rejeitado pelo povo, foi esse espetáculo degradante. Foi
preciso improvisar transeuntes para tirar a foto dos afetos. Joaquim Aguiar
definiu o PR como a «ironia de si mesmo».
Sem comentários:
Enviar um comentário