BARROSO da FONTE |
Quem
desequilibra as temperaturas não é o povo. Mas é ele que apaga todos os fogos,
com a sua paciência, tolerância, resignação e às vezes com a própria vida.
Num só dia (7 de Agosto) ocorreram 455 fogos.
E o Secretário de Estado dessa área veio dizer que está provado terem esses
crimes início, entre as 8 h da noite e as 8 h da manhã. Esta afirmação, tão
clara e tão evidente, deveria ser correspondida com medidas drásticas: em vez
de ter o policiamento nas cidades, nas festas, à porta das discotecas, nas
inaugurações, a vigiar comícios, residências de ex-políticos e jantaradas
privadas com foguetes de artifício, poderiam fazer noites de vigilância nos
montes, uma vez que dos pontos mais altos, seria muito mais fácil identificar
os malfeitores. Um estudo prévio às zonas a vigiar, mal a labareda fosse
localizada, graças à facilidade que hoje há, com os telemóveis e GPS, seria
caça certa. Assim o poder político entenda acabar com a segunda guerra mais
mortífera, mais cara e mais dramática em Portugal. Quem viu e ouviu as
reportagens televisivas, com o país a
arder desde Trás-os-Montes à Madeira, nos dias 7 e 8 do corrente, vendo a a
fragilidade dos meios aéreos e os gritos de desespero das populações, irrita-se
contra o ministro do ambiente que se limitou a dizer que «apesar dos 455 fogos de Domingo e os quase tantos no dia
seguinte, a área ardida é inferior à dos anos anteriores». É deplorável, é
ridículo e é provocante. O Secretário de Estado garantiu que «a maior parte dos
incêndios é fogo posto, entre as 8 da noite e as 8 da manhã». O ministro
deveria preocupar-se com esse elemento conhecido: «a mão humana». Com desculpa
esfarrapada o Ministro Matos Fernandes, preferiu desviar a água do capote, como
se a gravidade dos incêndios se possa media pela área ardida...Valha-nos Deus,
Sr. Ministro...
Quando
se conhecem as origens dos crimes públicos, o tipo de criminosos, as horas e os
métodos e não se tomam medidas, dispondo de todos os meios, incluindo
políticos, é ser conivente com essa trágica realidade. Se António Costa que
nesses dias ser mostrou no Algarve em calções de banho, fosse mais coerente com
a responsabilidade política que a todo o custo assumiu, tinha interrompido as
férias, mais cedo, para coordenar as operações. Mas cada país tem os políticos
que merece.
A saga dos incêndios nasceu com a liberdade de
fazer tudo o que é mau para a sociedade, mas é bom para alguns que sempre
viveram da chulice, da fraude, da anarquia e da brandura das leis.
Todos os anos, tememos o verão, por causa dos
incêndios. Se está provado que existe uma epidemia social e política que
aterroriza, aqui, ali e acolá, de noite e de dia, no campo e na cidade que se
vale da escuridão, da morosidade da justiça, das amnistias e do faz de
conta. 41 anos depois desta saga, já
deveriam os políticos ter aprendido com os erros de cada ano que passa. As
vidas que se perdem, os martírios que as populações sofrem, os prejuízos que se
causam a quem vive da terra, mais os encargos com as máquinas, aéreas e terrestres, com os animais que o fogo
queima, merecem alterações profundas. A vigilância das florestas e dos locais
que possam servir de esconderijo dos criminosos devem estudar-se, mediante
formação atempada e com critérios seletivos, com base no caráter e espírito
cívico. O recrutamento deveria ser feito entre desempregados que tenham
garantia de trabalho sazonal. E nunca deverá prescindir-se do apoio dos
militares e militarizados porque se trata de um serviço cívico de que não podem
alhear-se.
Sabendo-se
que este é o flagelo social mais revoltante, mais terrífico e mais prejudicial
à vida nacional, qual a razão por que não preparar o exército, a marinha e a
força aérea, mais as diversas polícias, para, em conjugação com os Bombeiros,
prestarem ao País e aos seus habitantes, a tranquilidade a que têm direito? A
ministra da Administração Interna – e muito bem - «descobriu» uma série deles,
nas messes, bares e «impedidos» e «gratificados». Acabem com esse luxo!
Este
drama é tão grave nos dias de hoje, como foi nas décadas de sessenta e setenta,
a guerra do Ultramar. Façam bem as contas e digam aos políticos que tenham a
coragem de olhar mais para a realidade social do que para as guerrinhas de
alecrim e manjerona. Que em vez de escandalizarem com boleias duvidosas para irem ver jogos de
futebol ou outras diversões censuráveis, discutam. Decidam e tranquilizem os cidadãos.
Nunca percebi que ocupações são essas de milhares de jovens dos dois sexos que nos
três ramos das forças armadas somam anos e anos, sem que o país conheça os benefícios que produzem. Não
havendo guerras a enfrentar, o país continua a pagar a oficiais e sargentos do
quadro permanente. Continuamos a ter, às dúzias, generais, coronéis, majores,
capitães, tenentes, alferes e sargentos de vários graus, como se ainda houvesse
guerras no solo português.
Sabe-se que, de longe a longe, vão alguns
desses militares cumprir missões internacionais. Mas que fazem os outros em tantos quartéis que
nada produzem de útil à sociedade?
De longe a longe há paradas militares, guardas
de honra. Chegam bem equipados, com fardas bonitas, galões dourados e estrelas
brilhantes, ornando as peitaças. Executam, ao toque de instrumentos
apropriados, continências, gestos e frases de guerra. Não significa que percam
esse estatuto. Mas o país sente-se mais
solidário, mais coerente e mais justo.
Barroso
da Fonte
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