Por mais argumentos que fabricam em causa
própria, é uma violência despejar alunos, de um momento para o outro, num meio
desconhecido e que lhes poderá ser hostil. Gostava de saber o percurso desses
alunos no oficial, comparando-os com o que vinham fazendo no público. Só
entendo a educação livre quando os pais dos alunos têm opção de escolher a
escola para os seus filhos, seja pública ou privada. Nos meus impostos também
devia ter uma palavra a dizer e quando assim não é... Quando os gastos dos
nossos impostos são opacos e ao serviço dos interesses das clientelas não nos
sentimos obrigados a cumprir escrupulosamente os deveres fiscais. Era fácil
calcular o custo da educação de cada aluno por ano e o Governo da Geringonça
limitava-se a dar ao estabelecimento educacional a verba exacta por cabeça. Nas
escolas em que o ensino público e o ambiente escolar têm mais qualidade, o
privado receberia o «refugo» e quando o privado fosse melhor passar-se-ia o
inverso. Pessoalmente, pelo «forró» na escola pública que o meu filho frequentou
tive que andar dois anos a pagar explicações de Matemática bem caras. O caso
merecia ir para os anais do ensino público. Pois bem, foi mais ou menos isto. O
meu filho aprendia com bastante facilidade e com uma memória prodigiosa, como o
avô paterno. No 6.º ou 7.º ano respondeu a um teste de História com as mesmas
palavras do manual escolar. A professora, ignorante em pedagogia, humilhou-o,
chamando-lhe «copião», na frente de toda a turma. Só porque o teste estava
exacto. Tive que ir à escola e explicar à directora de turma que o meu filho
tinha uma memória privilegiada que me foi referenciada pela freira do
pré-escolar privado. Era um espanto! Os meninos traziam pequenas quadras de
casa ensaiadas pelos pais e de imediato o meu filho repetia-as primeiro que
eles. Também, como tinha uma letra nervosa e de difícil leitura, uma ou outra
professora acusavam-no de escrever de forma ilegível (eu tive também
dificuldades em ter uma letra de fácil leitura) e lá tive que voltar à escola e
explicar-lhes que aquela era a sua letra. Na Matemática, com os algarismos a
situação foi outra e hilariante. No 10.º
ano o professor, em todo o ano, deu 25 a 30% do programa. No primeiro período
ao receber a nota de Matemática, que se aproximava do 20 sobre 20, fiquei
descansado. No final do 2.º período apercebi-me que o meu filho quase não tinha
dado matéria e dirigi-me à Escola (apesar de eu ser quadro do Ministério da
Educação), pedi para o meu filho ter aulas de recuperação da matéria que não
foi dada. Os professores com responsabilidades que abordei até se riram de mim.
Trabalhar mais para quê, se o vencimento vem ao fim do mês e ainda há as
explicações bem pagas? Depois de terminar as aulas o meu filho abriu-se comigo,
contando-me, que era ele (com 14/15 anos) que corrigia os testes dos outros
alunos da turma e lhes dava as notas. O professor de Matemática, em troca,
pagava-lhe o trabalho com uns escudos. Assim, apesar das notas altas que teve e
até substituir o professor, pelo menos dois terços da matéria ficou por dar. O
remédio foi eu arranjar um bom explicador de Matemática, no 11.º e 12.º, anos e
pagar-lhe bem. Foi uma vez expulso da sala de aula por incompetência do
professor ou do sistema em não manter a disciplina e o meu filho contou-me a
injustiça de que foi alvo. Foi alvo de bullying que eu tive de resolver perante
uma escola indiferente (a melhor de Braga), Se fosse hoje metia-o num bom
COLÉGIO, ainda que tivesse de me endividar. Se Deus me deixar viver, irei fazer
isso com o meu neto. Para que a minha filha não tenha os pesadelos como os que
eu vivi, não contando com algum ambiente hostil entre alunos ou do salve-se
quem puder. Em nome da qualidade e da transparência e dos valores
civilizacionais de Portugal e do cristianismo, entendo que a escola deve ser
escolhida pelos pais e que uma boa escola ou colégio marca os filhos para
sempre. Muitos papás que defendem o ensino público onde estudaram? E onde metem
os filhos? Nos melhores colégios! E nos cursos superiores enviam-nos para o
estrangeiro. Esta educação cheira um pouco a estalinismo de alguns camaradas.
Porquê tanta pressa em rasgar acordos quando noutros casos empolgam-se os
gastos como, por exemplo, na chusma de administradores da Caixa Geral de
Depósitos. Fossem os camaradas donos dos Colégios e a sua argumentaria corria
no sentido inverso.
Jorge Lage
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