Circula online nas redes
sociais, desde a manhã de quinta-feira,
30 de Junho, a seguinte notícia: « a Polícia Judiciária (PJ) deteve,
esta quinta-feira de manhã, o diretor do Museu da Presidência da República,
Diogo Gaspar, na sua casa por alegadamente ter cometido vários crimes
económicos. É suspeito dos crimes de tráfico de influência, falsificação de
documento, peculato, peculato de uso, participação económica em negócio e abuso
de poder, revela a Procuradoria-Geral da República (PGR) em comunicado. Diogo
Gaspar será presente a um juiz de Instrução Criminal. O Departamento de
Investigação e Ação Penal (DIAP) de Lisboa e a Unidade Nacional de Combate à
Corrupção da PJ fizeram várias buscas na Secretaria-Geral e no Museu da
Presidência, em Lisboa; no Palácio da Cidadela em Cascais (que também faz parte
do património da Presidência), em várias residências particulares na área da
Grande Lisboa e Portalegre. Ao início da tarde, em comunicado, a PJ informou
que foram apreendidos "relevantes elementos probatórios, bem como diversos
bens culturais e artísticos que, presumivelmente, terão sido desencaminhados de
instituições públicas". A operação, avança, chama-se Cavaleiro. Esta
investigação começou em Abril de 2015 e não foi a Presidência da República que
fez a denúncia, sabe o PÚBLICO. Participam na operação oito magistrados do
Ministério Público e cerca de três dezenas de elementos da PJ que investigam
suspeitas de favorecimento de interesses de particulares e de empresas com
vista à obtenção de vantagens económicas indevidas e suspeitas de solicitação
de benefícios como contrapartida da promessa de exercício de influência junto
de decisores públicos, refere a PGR no seu comunicado. Investigam-se, ainda, o
uso de recursos do Estado para fins particulares, a apropriação de bens móveis
públicos e a "elaboração de documento, no contexto funcional, desconforme
à realidade e que prejudicou os interesses patrimoniais públicos",
acrescenta. Diogo Gaspar, que está no Museu da Presidência desde o seu início,
em 2001, era então Presidente da República Jorge Sampaio, foi condecorado pelo
Presidente socialista e, em Fevereiro deste ano, por Cavaco Silva, com o grau
de Cavaleiro da Ordem de Santiago, numa cerimónia de Imposição de Insígnias.
Diogo
Gaspar nasceu em Lisboa, a 23 de Abril de 1971, e foi também na capital, na
Faculdade de Letras que se licenciou em História, variante de História de Arte,
aos 22 anos Quatro anos depois, especializou-se em Ciências Documentais, opção
Arquivo. Nessa altura, já havia iniciado funções no Instituto dos Arquivos
Nacionais Torre do Tombo, onde chegou a ser coordenador do Gabinete de Leitura
Pública. Em Setembro de 2001, nomeado pelo então chefe de Estado Jorge Sampaio,
torna-se o primeiro e único coordenador do recém-fundado Museu da Presidência
da República (só três anos depois assume o cargo de diretor, que não existia
anteriormente). Também deu aulas na Universidade Lusófona de Humanidades e
Tecnologias, no Instituto Superior de Línguas e Administração, na Associação
Portuguesa de Bibliotecários, Arquivistas e Documentalistas e no Instituto
Superior de Línguas e Administração de Bragança. Em Março de 2006 foi
condecorado por Sampaio com o grau de comendador da Ordem Nacional do Infante
D. Henrique. Em Junho do mesmo ano, vence o Prémio Europa Nostra, na Categoria
de Investigação, pelo trabalho desenvolvido no museu. Já este ano, em
Fevereiro, Cavaco Silva condecorou-o com o grau de Cavaleiro da Ordem de
Santiago».
Moralidade
pública: ubi est?
Até
aqui transcrevemos os factos. Cabe-nos perguntar: que critérios foram usados
para selecionar e condecorar, para lugar de tanta responsabilidade, um
cadastrado que tem uma simples licenciatura em história e umas aulas na
Universidade Lusófona que, na mesma manhã, é humilhada pelo Ministério da
Educação, quando anula a licenciatura de Miguel Relvas, «acusando-a de falta de
rigor nas informações prestadas publicamente, criando expectativas infundadas aos alunos, num processo em que se
cometeram ilegalidades e não irregularidades»? E em que predicados se
fundamentaram Jorge Sampaio e Cavaco Silva para, no mais solene ato anual que é
o dez de Junho, condecorarem com os graus da Ordem Nacional do Infante D.
Henrique (em 2006) e de Cavaleiro da Ordem de Santiago, pouco depois, por Cavaco
Silva.
Não será esta uma matéria essencial para
acabar, de vez, com esta bandalheira, leiloeira, ou brincadeira democrática, em
que mergulhámos todos»
Barroso da Fonte
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