domingo, 17 de julho de 2016

Cadastrado- feito herói à força


                                 Circula online nas redes sociais, desde a manhã de quinta-feira,  30 de Junho, a seguinte notícia: « a Polícia Judiciária (PJ) deteve, esta quinta-feira de manhã, o diretor do Museu da Presidência da República, Diogo Gaspar, na sua casa por alegadamente ter cometido vários crimes económicos. É suspeito dos crimes de tráfico de influência, falsificação de documento, peculato, peculato de uso, participação económica em negócio e abuso de poder, revela a Procuradoria-Geral da República (PGR) em comunicado. Diogo Gaspar será presente a um juiz de Instrução Criminal. O Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) de Lisboa e a Unidade Nacional de Combate à Corrupção da PJ fizeram várias buscas na Secretaria-Geral e no Museu da Presidência, em Lisboa; no Palácio da Cidadela em Cascais (que também faz parte do património da Presidência), em várias residências particulares na área da Grande Lisboa e Portalegre. Ao início da tarde, em comunicado, a PJ informou que foram apreendidos "relevantes elementos probatórios, bem como diversos bens culturais e artísticos que, presumivelmente, terão sido desencaminhados de instituições públicas". A operação, avança, chama-se Cavaleiro. Esta investigação começou em Abril de 2015 e não foi a Presidência da República que fez a denúncia, sabe o PÚBLICO. Participam na operação oito magistrados do Ministério Público e cerca de três dezenas de elementos da PJ que investigam suspeitas de favorecimento de interesses de particulares e de empresas com vista à obtenção de vantagens económicas indevidas e suspeitas de solicitação de benefícios como contrapartida da promessa de exercício de influência junto de decisores públicos, refere a PGR no seu comunicado. Investigam-se, ainda, o uso de recursos do Estado para fins particulares, a apropriação de bens móveis públicos e a "elaboração de documento, no contexto funcional, desconforme à realidade e que prejudicou os interesses patrimoniais públicos", acrescenta. Diogo Gaspar, que está no Museu da Presidência desde o seu início, em 2001, era então Presidente da República Jorge Sampaio, foi condecorado pelo Presidente socialista e, em Fevereiro deste ano, por Cavaco Silva, com o grau de Cavaleiro da Ordem de Santiago, numa cerimónia de Imposição de Insígnias.

Diogo Gaspar nasceu em Lisboa, a 23 de Abril de 1971, e foi também na capital, na Faculdade de Letras que se licenciou em História, variante de História de Arte, aos 22 anos Quatro anos depois, especializou-se em Ciências Documentais, opção Arquivo. Nessa altura, já havia iniciado funções no Instituto dos Arquivos Nacionais Torre do Tombo, onde chegou a ser coordenador do Gabinete de Leitura Pública. Em Setembro de 2001, nomeado pelo então chefe de Estado Jorge Sampaio, torna-se o primeiro e único coordenador do recém-fundado Museu da Presidência da República (só três anos depois assume o cargo de diretor, que não existia anteriormente). Também deu aulas na Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, no Instituto Superior de Línguas e Administração, na Associação Portuguesa de Bibliotecários, Arquivistas e Documentalistas e no Instituto Superior de Línguas e Administração de Bragança. Em Março de 2006 foi condecorado por Sampaio com o grau de comendador da Ordem Nacional do Infante D. Henrique. Em Junho do mesmo ano, vence o Prémio Europa Nostra, na Categoria de Investigação, pelo trabalho desenvolvido no museu. Já este ano, em Fevereiro, Cavaco Silva condecorou-o com o grau de Cavaleiro da Ordem de Santiago».

Moralidade pública: ubi est?

Até aqui transcrevemos os factos. Cabe-nos perguntar: que critérios foram usados para selecionar e condecorar, para lugar de tanta responsabilidade, um cadastrado que tem uma simples licenciatura em história e umas aulas na Universidade Lusófona que, na mesma manhã, é humilhada pelo Ministério da Educação, quando anula a licenciatura de Miguel Relvas, «acusando-a de falta de rigor nas informações prestadas publicamente, criando expectativas  infundadas aos alunos, num processo em que se cometeram ilegalidades e não irregularidades»? E em que predicados se fundamentaram Jorge Sampaio e Cavaco Silva para, no mais solene ato anual que é o dez de Junho, condecorarem com os graus da Ordem Nacional do Infante D. Henrique (em 2006) e de Cavaleiro da Ordem de Santiago, pouco depois, por Cavaco Silva.

 Não será esta uma matéria essencial para acabar, de vez, com esta bandalheira, leiloeira, ou brincadeira democrática, em que  mergulhámos todos» 
Barroso da Fonte

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