quinta-feira, 9 de junho de 2016

Voo Gelado *

 
Voo Gelado

Deixou a natureza a tosca pedra,
Que vais trabalhar até morrer,
enquanto tiveres vivo o sofrimento,
e o ruído alimentar a tua rua...
Mesmo que o sol se vá por um momento,
terás por recompensa a luz da Lua.


Fronteira foi sempre o teu caminho,
Na corrente da água que passou,
A brisa que em fúria te amainou
Gelou o voar de um passarinho.


Já a eira vazia te secou,
Ali chegado do ventre doce e puro,
Quando a pobre sombra te encontrou,
Queimou-te pela rama já maduro...

* Abílio Bastos – em Nova Iorque, em Maio de 1977

Nota: O poeta soldadou em Timor, aventurou-se, fugazmente, a terras de França e, de seguida, emigrou para Nova Iorque em 1977, ONDE TRIUNFOU, e regressou em 2010. Por lá pelejou na arte de urbanizar a madeira e as saudades da família, que deixava em Braga, abafavas em versos. Entre os amigos, as referências eram invariáveis: o «Abílio dos States» já foi para Nova Iorque; ou então, «o Abílio já veio». Voltava e partia como as aves de arribação, mas, sem quadro biológico ou temporal definido. A emigração colou-se aos mais audazes portugueses, em busca de uma vida melhor. O sucesso do Abílio em «Terras do Tio Sam», prendem-se com o bom berço, o engenho e o desejo de vencer. Engenho e arte para trabalhar a madeira não lhe faltavam e era nas tábuas amigas, enquanto respirava e traçava o caminho mais curto entre o início e o fim de um trabalho, que lavrava a maioria dos versos. Tempo de respiração, de criação e de meditação. Depois, aproximava-se o tempo de as tabuinhas cumprirem a sua função e o Abílio tinha que fazer o exercício de fixação na retina da memória. E assim, guardou vários dos poemas que criou e se vão aqui publicando. (Jorge Lage)

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