Voo Gelado
Deixou
a natureza a tosca pedra,
Que
vais trabalhar até morrer,
enquanto
tiveres vivo o sofrimento,
e
o ruído alimentar a tua rua...
Mesmo
que o sol se vá por um momento,
terás
por recompensa a luz da Lua.
Fronteira
foi sempre o teu caminho,
Na
corrente da água que passou,
A
brisa que em fúria te amainou
Gelou
o voar de um passarinho.
Já
a eira vazia te secou,
Ali
chegado do ventre doce e puro,
Quando
a pobre sombra te encontrou,
Queimou-te
pela rama já maduro...
*
Abílio Bastos – em Nova Iorque, em Maio de 1977
Nota:
O poeta soldadou em Timor, aventurou-se, fugazmente, a terras de França e, de
seguida, emigrou para Nova Iorque em 1977, ONDE TRIUNFOU, e regressou em 2010.
Por lá pelejou na arte de urbanizar a madeira e as saudades da família, que
deixava em Braga, abafavas em versos. Entre os amigos, as referências eram
invariáveis: o «Abílio dos States» já foi para Nova Iorque; ou então, «o Abílio
já veio». Voltava e partia como as aves de arribação, mas, sem quadro biológico
ou temporal definido. A emigração colou-se aos mais audazes portugueses, em
busca de uma vida melhor. O sucesso do Abílio em «Terras do Tio Sam»,
prendem-se com o bom berço, o engenho e o desejo de vencer. Engenho e arte para
trabalhar a madeira não lhe faltavam e era nas tábuas amigas, enquanto
respirava e traçava o caminho mais curto entre o início e o fim de um trabalho,
que lavrava a maioria dos versos. Tempo de respiração, de criação e de meditação.
Depois, aproximava-se o tempo de as tabuinhas cumprirem a sua função e o Abílio
tinha que fazer o exercício de fixação na retina da memória. E assim, guardou
vários dos poemas que criou e se vão aqui publicando. (Jorge Lage)
Sem comentários:
Enviar um comentário