Ao pé do Estádio da Luz, ao lado do Colombo, há um quartel de
bombeiros, e ao lado deste fica o Hospital da Luz. O quartel vai ser demolido
para o hospital poder ser ampliado. Foi António Costa quem deu a ordem.
Estávamos em 2014 e Costa era presidente da Câmara de Lisboa,
sendo Manuel Salgado o vereador do urbanismo. Decidiram demolir um quartel de
bombeiros novo e moderno (é o mais moderno de Lisboa e tem apenas dez anos)
para o Hospital da Luz poder crescer.
A Câmara alterou mesmo o plano de pormenor (em abril de
2014), prevendo expressamente o alargamento daquela unidade hospitalar. Mas
decidiu vender o terreno do quartel em hasta pública - para, segundo Manuel
Salgado (que, por coincidência, fora o projetista do Hospital da Luz), garantir
«transparência e equidade». Disse até que servia para aparecerem outros
interessados no negócio.
Curiosamente, em fevereiro de 2014, quando a Câmara ainda não
tinha discutido a revisão do plano, a Espírito Santo Saúde anunciou o aumento
em 40% da área construída do Hospital da Luz - com um investimento de 60 a 70
milhões de euros, a realizar até 2018. Ora, o hospital só poderia crescer na
vertical, ou então para o lado onde estão os bombeiros...
Quando na CML se começa a discutir a demolição do quartel
para vender o terreno, o executivo assume que é uma «pretensão» do hospital.
«Existe essa pretensão, e essa pretensão é pública por parte dos responsáveis
do Hospital da Luz».
A hasta pública tem lugar, o terreno vai à praça por 15
milhões e meio de euros, mas a Espírito Santo Saúde não vai a jogo porque era
nesse momento alvo de uma oferta pública de aquisição. Mal esta termina, porém,
faz uma proposta à Câmara de Lisboa: 15,5 milhões, que era o valor mínimo de
licitação. E teve ainda um desconto de 10% pelo pronto pagamento.
Nos finais de 2015, os donos do Hospital da Luz anunciam um
investimento total de 100 milhões de euros: 14 milhões para o terreno, 86
milhões para obras, 1200 novos empregos.
A Espírito Santo Saúde é um dos cinco grupos privados de
saúde que mais têm crescido com as receitas da ADSE - o subsistema de saúde dos
funcionários públicos. As contribuições para a ADSE mais do que duplicaram nos
últimos anos.
O que é a ADSE? É a ‘porta do cavalo’ que permite aos
funcionários públicos furarem as filas de espera do SNS de meses e até anos
para consultas, tratamentos e cirurgias. Ou seja, o Estado sabe que o SNS é
lento e manda as suas centenas de milhares de funcionários públicos para os
hospitais privados.
E os funcionários públicos não têm nojo ideológico de ir aos
hospitais privados, de enriquecer os grupos privados de saúde? Não. Os
funcionários públicos estão satisfeitos. Os privados investem milhões, criam
postos de trabalho, têm lucro, fazem a economia crescer.
Não tenho nada contra. Nem eu nem António Costa, como se vê
pelo Hospital da Luz.
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