JORGE LAGE |
Investigar sobre a memória do
castanheiro e da castanha foi fruto de um contacto com o Posto de Turismo de
Vouzela, depois identifiquei com ajuda do município os locais mais importantes
onde poderia recolher informação a tratar no meu próximo livro. Vouzela, que
deve o seu nome ao rio Vouga e à ribeira Zela, pertence à região de Lafões,
situada entre os maciços das serras da Gralheira e do Caramulo, fazendo parte
da sub-região mais ocidental da Região Centro. O rio Vouga, depois de receber
nos seus calmos braços o rio Sul, banha terras de Vouzela (e de Lafões). Eu
apenas conhecia Vouzela por ter os famosos «pastéis de Vouzela» e onde os
«Irmãos Maristas» tiveram uma casa de formação (eu estudei seis anos no Colégio
Marista dos Pousos – Leiria), e foi em conversa com a técnica de Turismo,
Filomena Vilafanha, que fiquei desassossegado para visitar um castanheiro
centenário na freguesia de Campia. Depois de concluir que iria visitar as
freguesias de Campia, Ventosa e Fornelo do Monte (lá bem no cimo da encosta
Norte do Caramulo), contactei os seus Presidentes, Carlos Duarte, Graça
Carvalho e Sérgio do Vale, respectivamente. Por razões alheias à minha vontade
e de última hora, acabei por não ir à Ventosa. Fornelo do Monte foi mais um
passeio nas alturas e muita simpatia, já quase não havia memória a recolher.
Desde que, em tempos, fui visitar dos castanheiros na Guarda e terei passado a
uma meia-dúzia de metros e não os vi, decidi não procurar castanheiros
classificados de interesse público, em terreno desconhecido. Por isso, não o
visitei o castanheiro centenário da freguesia de Cambra por não ter guia
municipal ou da freguesia. Salvou-se, e bem, a minha ida a Campia, que fica a
uns 1.500 metros da A25, saindo-se desta, no cruzamento de Oliveira de
Frades/Caramulo. E vale a pena ir a Campia, pelo seu belo arranjo de calceta
granítica, das jovens esculturas que a embelezam e enriquecem, pela sua Igreja
Matriz e se estiver com o estômago vazio, o restaurante «O Sacristão» (do
Carlos Duarte), que tem casa cheia, aos fins-de-semana, devido à rubra carne da
vitela de Lafões (naco na brasa ou assada), criada nas pastagens, e ao
bacalhau. Bem servida e a preços moderados a clientela aflui, até de longe. O
Presidente da Junta de Freguesia, tal como o filho que me recebeu são de uma
atenção e préstimos que me tocaram. Não é habitual ver presidentes de junta tão
preocupados com o património arbóreo como o Carlos Duarte. Com muitos afazeres,
dispôs-se a acompanhar-me a visitar o centenário «Castanheiro de Adside», junto
ao café Cruzeiro, em Adside. Pegou na carrinha todo o terreno e levou-me por um
circuito de paisagens deslumbrantes, com castanheiros e carvalhos centenários
com uma enorme potencialidade de turismo da Natureza (arbóreo e paisagístico).
Para compor o quadro figurativo o rio Alcofra (ou Alfusqueiro?) selvagem,
deslizando entre seixos e cortejado pela fauna e flora ripícolas específicas,
dão-nos paz e bem-estar. O circuito «turístico» feito regressámos a Campia e
cada um de nós foi à vida. A mim, aguardava-me o «Centro Social de Campia»
(junto ao Santuário da imponente Virgem Milagrosa) e a animadora social, Ana
Laranjeira, com uma dezena de velhos, bem-dispostos, tal como a animadora e
passámos um curto tempo de convívio e de felicidade. Rara é a vez que entro num
lar ou centro de dia de velhos e não os deixo mais felizes do que há partida.
Devido à novidade anunciada que represento e pela cordialidade que mantenho nas
conversas em que faço as recolhas de memória imaterial castanhícola. Sai do lar
encantado, comovido, de alma molhada de emoção e gratidão pela forma como fui
recebido. Para compor toda a generosidade sou brindado com uma caixinha dos
conventuais (oriundos das freiras clarissas do Convento de Sta. Clara, do Porto)
«pastéis de Vouzela», uma das melhores delícias doceiras de Portugal. Claro que
hei-de voltar a Campia para rever gente tão afável e hospitaleira e para entrar
num naco de vitela do restaurante «O Sacristão».
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