BARROSO da FONTE |
Escrevo
este aviso na noite de «Sexta-Feira às 9», dia 20 de Maio. Quando me preparava
para falar do Ministro da Educação e da guerrilha que gerou entre ensino
público e privado, acabo por dar prioridade ao escândalo que a Jornalista
Sandra Felgueiras confirma e aprofunda na RTP1 no programa Sexta-feira às 9.
Esta jornalista e a sua equipa vêm reforçando
o tipo de jornalismo que eu aprecio e procuro seguir, desde 1953. Deve ter ela,
como referências: Felícia Cabrita, Ana Leal e poucas mais. Mas estas três e
outras (ou outros) que queiram ser jornalistas de referência, devem – como elas
- denunciar, inquirir, incomodar, especialmente, muitos bem instalados que
deveriam estar atrás das grades, como estiveram Sócrates, Oliveira Costa,
Armando Vara, Godinho, e Vale e Azevedo, para citar apenas alguns exemplos mais
mediáticos.
Há oito dias trouxera Sandra Felgueiras, ao
mais temido programa da RTP1 a «bandalheira» que se passa com a administração
do «Cofre de Previdência dos funcionários públicos». Uma cidadã que foi
entrevistada no telejornal dessa noite, a propósito dessa lástima moral e
social, disse que «deveriam estar todos presos».Eu diria o mesmo, embora
desconfie que para alojar, manter e vigiar toda essa cambada, não chegariam
todas as celas, quartéis militares, estádios de futebol, sanitários, latrinas e
cavalariças, de norte a sul do país.
Dia 20, voltou a RTP1 a avolumar a corrupção
não só dos órgãos diretivos desse «Cofre de Previdência dos Funcionários
públicos», como de outro exemplo que mereceu um périplo pelo país, das
colaboradoras de Sandra Felgueiras, numa reportagem que vai fazer doutrina nas
aulas de comunicação social de qualquer universidade séria.
Quer
a generalizada desonestidade que envolve os principais dirigentes desse «Cofre
de Previdência», quer alguns dos esquemas que vários políticos utilizaram para
multiplicarem colégios, cooperativas, escolas privadas, um pouco por todo o
país. Estes casos lembram o polvo que, com seus tentáculos, envolve, afeta e
generaliza a imoralidade que galopa, entre nós, em todas as classes e áreas da
sociedade Portuguesa. Deveriam ser tratados como paradigmáticos da onda de
contaminação que nos afeta, nos amedronta e nos desalenta em relação às futuras
gerações.
Ficou
a saber-se pelas reportagens que este tipo de práticas e nomes de líderes, pelo
bom trabalho que a Polícia Judiciária tem vindo a realizar, que já não há
classes intocáveis, nem líderes impuros.
Os
dirigentes do «Cofre de Previdência», assim como os proprietários de alguns
colégios foram altos quadros e
conhecidos políticos que tiveram procedimentos reprováveis, valendo-se de
influências estranhas e de métodos antidemocráticos que devem ser tratados como
puníveis. Se não há leis ajustadas, urge legislar em consonância com a
modernidade que nos é revelada pelos
acontecimentos de cada dia.
Estas duas reportagens que a RTP1 exibiu
devem servir de ponto de partida para a
revisão da lei da criminalidade. Não bastará destituir os órgãos sociais no
caso «do Cofre de Previdência dos Funcionários do Estado» ou deixar na sombra
os políticos que exerceram cargos para prepararem o terreno que agora exploram
e multiplicam, entre amigos e correligionários.
Importará distinguir o trigo do joio, porque
há colégios e colégios. Aqueles que tiverem exercícios limpos, transparentes e
de utilidade pública garantida, devem prosseguir a sua atividade. Aqueloutros
que nasceram e se multiplicaram à pressa, a partir de situações de favor, não
só devem fechar, como devem os seus responsáveis, sujeitar-se às sanções que o
bom senso recomenda.
Não
pode pagar o justo pelo pecador. De repente, muitos milhares de alunos, de
todos os graus do ensino, interromperam as aulas e vieram para as ruas, com
cartazes e gritos de protesto. Num quase fim de ano letivo, há prejuízos de
todo o género para as crianças. Há transtornos materiais, psicológicos e
profissionais para docentes e discentes. Ninguém estaria à espera deste tipo de
distúrbios.
Mesmo
que António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa, tenham encetado um período de cio
político muito intenso, enigmático e de imprevisíveis consequências para o
futuro da sociedade Portuguesa, não devemos, nem podemos fazer de conta que
vivemos num mar de rosas.
A destruir a esquerda tudo o que a direita
fez de diferente, trabalhar menos e pagar mais, comendo à noite o que se ganhou
durante o dia, ou comprar fiado a contar com o euro-milhões, são receitas
contaminadas. Com o ensino não deve brincar-se e muito menos com as crianças
que são as primeiras e as maiores vítimas. As palavras «publico» e «privado»,
têm o mesmo numero de letras, de sílabas, de vogais e de consoantes. São
antagónicas no significado. Mas ambas são democráticas, legítimas e próprias de
uma sociedade plural. Atribuir-lhes adversidade é próprio de quem nasceu com
maus fígados e não tem capacidade para manter-se ao nível do vizinho. Mais
lembram cães famintos quando disputam um osso, mesmo que difícil de roer.
Barroso da Fonte
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