segunda-feira, 23 de maio de 2016

A cegueira dos jornalistas


Sofia Vala Rocha - jornal Sol
Marcelo Rebelo de Sousa é do centro a cair para a esquerda em matéria económica. Defende que o Estado tem o papel central na economia. Ainda recentemente defendeu (e participou) na interferência governativa nos negócios dos bancos. Mas em matéria de costumes é profundamente conservador e católico praticante. Foi sempre um ativista contra a legalização do aborto, é contra o casamento gay, contra a adoção pelos homossexuais e contra as barrigas de aluguer.
Cavaco Silva, em matéria económica, apontou para um certo neokeynesianismo, mas menos entusiasta do que Marcelo Rebelo de Sousa. É conservador, mas não tão fervorosamente católico. Sabe-se das suas reticências em matéria de costumes, mas nunca foi ativista contra – nem em referendos, nem em petições.
António Costa é de esquerda em matéria económica. Defende o consumo interno como motor da economia. Não aposta nas empresas nem nas exportações. Não se preocupa com o défice. Não é adepto do rigor das contas públicas. Defende todas as causas fraturantes: legalização do aborto, a favor do casamento gay, a favor da adoção pelos homossexuais e a favor das barrigas de aluguer.Passos Coelho é o oposto de António Costa em matéria económica. Defende que o consumo interno não pode ser motor da economia. Aposta nas empresas e nas exportações. Quer controlar o défice. É adepto do rigor das contas públicas. Em matéria de costumes defende as causas fraturantes: legalização do aborto, casamento gay, adoção por homossexuais e barrigas de aluguer.
Aliás, Passos Coelho é o único líder do PSD, desde a sua fundação, que defendeu estas causas. Cavaco Silva, Marcelo Rebelo de Sousa, Durão Barroso, Santana Lopes, Marques Mendes, Manuela Ferreira Leite, nenhum defendeu na sua ação política, como líder do partido ou como primeiro-ministro, simultaneamente todas estas causas. E se defenderam alguma, fizeram-no envergonhadamente, para não perderem o apoio da Igreja Católica.
Passos Coelho é simplesmente o líder mais progressista em matéria de costumes que a direita já teve em Portugal. Só por isso já merece o seu lugar na História.
Ora, a quase totalidade dos jornalistas das televisões e dos jornais é profundamente progressista. Todos defendem, nas suas colunas, peças, reportagens e redes sociais a legalização do aborto, o casamento gay, a adoção pelos gays e as barrigas de aluguer.
Aqui começa a minha perplexidade. Marcelo Rebelo de Sousa é o político mais popular do país. Idolatrado pelos jornalistas. Mas do ponto de vista dos costumes, sendo os jornalistas progressistas e o Presidente da República não, não entendo como não lhe criticam a agenda conservadora e católica.
Simetricamente, não entendo como, tendo os jornalistas e Passos Coelho as mesmas ideias em matéria de costumes, não lhe gabam a ousadia.
É como se os jornalistas fechassem um olho para não verem o conservadorismo de Marcelo – e fechassem o outro para não verem a audácia de Passos.
Esta cegueira, meus amigos, não é séria.

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