Sofia Vala Rocha - jornal Sol |
Marcelo
Rebelo de Sousa é do centro a cair para a esquerda em matéria económica.
Defende que o Estado tem o papel central na economia. Ainda recentemente
defendeu (e participou) na interferência governativa nos negócios dos bancos.
Mas em matéria de costumes é profundamente conservador e católico praticante.
Foi sempre um ativista contra a legalização do aborto, é contra o casamento
gay, contra a adoção pelos homossexuais e contra as barrigas de aluguer.
Cavaco
Silva, em matéria económica, apontou para um certo neokeynesianismo, mas menos
entusiasta do que Marcelo Rebelo de Sousa. É conservador, mas não tão
fervorosamente católico. Sabe-se das suas reticências em matéria de costumes,
mas nunca foi ativista contra – nem em referendos, nem em petições.
António
Costa é de esquerda em matéria económica. Defende o consumo interno como motor
da economia. Não aposta nas empresas nem nas exportações. Não se preocupa com o
défice. Não é adepto do rigor das contas públicas. Defende todas as causas
fraturantes: legalização do aborto, a favor do casamento gay, a favor da adoção
pelos homossexuais e a favor das barrigas de aluguer.Passos
Coelho é o oposto de António Costa em matéria económica. Defende que o consumo
interno não pode ser motor da economia. Aposta nas empresas e nas exportações.
Quer controlar o défice. É adepto do rigor das contas públicas. Em matéria de
costumes defende as causas fraturantes: legalização do aborto, casamento gay,
adoção por homossexuais e barrigas de aluguer.
Aliás,
Passos Coelho é o único líder do PSD, desde a sua fundação, que defendeu estas
causas. Cavaco Silva, Marcelo Rebelo de Sousa, Durão Barroso, Santana Lopes,
Marques Mendes, Manuela Ferreira Leite, nenhum defendeu na sua ação política,
como líder do partido ou como primeiro-ministro, simultaneamente todas estas
causas. E se defenderam alguma, fizeram-no envergonhadamente, para não perderem
o apoio da Igreja Católica.
Passos
Coelho é simplesmente o líder mais progressista em matéria de costumes que a
direita já teve em Portugal. Só por isso já merece o seu lugar na História.
Ora,
a quase totalidade dos jornalistas das televisões e dos jornais é profundamente
progressista. Todos defendem, nas suas colunas, peças, reportagens e redes
sociais a legalização do aborto, o casamento gay, a adoção pelos gays e as
barrigas de aluguer.
Aqui
começa a minha perplexidade. Marcelo Rebelo de Sousa é o político mais popular
do país. Idolatrado pelos jornalistas. Mas do ponto de vista dos costumes,
sendo os jornalistas progressistas e o Presidente da República não, não entendo
como não lhe criticam a agenda conservadora e católica.
Simetricamente,
não entendo como, tendo os jornalistas e Passos Coelho as mesmas ideias em
matéria de costumes, não lhe gabam a ousadia.
É
como se os jornalistas fechassem um olho para não verem o conservadorismo de
Marcelo – e fechassem o outro para não verem a audácia de Passos.
Esta
cegueira, meus amigos, não é séria.
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