domingo, 13 de março de 2016

O futuro da vida e a ética de Wilson


Edward O. Wilson, é um dos maiores biólogos do século XX (e deste XXI). A sua obra publicada assim o diz. Em 2001 publicou “O Futuro da Vida”, onde procura responder a duas questões filosóficas: “de onde viemos” e “para onde vamos”.
Wilson demonstra que o homem deixou de ser um mero habitante do planeta, lutando pela sua sobrevivência (aliás, como as outras espécies), para se tornar uma “força geofísica”, intervindo na Natureza, transformando a própria dinâmica do planeta em relação ao equilíbrio do clima global e da saúde dos ecossistemas.
Inicia a narrativa com descrições “mirabolantes” da diversidade, como os seres microscópios – bactérias capazes de sobreviver em ambientes hostis como as grandes temperaturas vulcânicas ou pressões altíssimas nas profundezas marinhas ou de enorme radiação.
Se um dia a vida da superfície desaparecesse, seres microscópios resistiriam a três quilómetros de profundidade. São esses seres que dão esperança aos cientistas. Se um dia o Homo sapiens desaparecer, a vida permanecerá. Por essa razão, Wilson acrescenta que não é a biosfera que precisa da humanidade. Pelo contrário, esta é que precisa da biosfera.
O erro do Homem, diz-nos o biólogo, é destruir as espécies sem ter acumulado conhecimento sobre as mesmas. E Wilson usa os números como se de um economista se tratasse. Se o Homem tivesse que pagar os serviços que recebe gratuitamente da Natureza, gastaria (há 15 anos atrás) 33 trilhões de dólares. O dobro do PIB de todos os países do mundo. Diz-nos ainda Wilson, que estes números não contabilizam o potencial medicinal das espécies que ainda não foram catalogadas e estudadas pela ciência.
E quais são esses serviços gratuitos prestados pela Natureza? O equilíbrio do clima e da atmosfera; a reposição de água doce; o enriquecimento do solo; o ciclo de nutrientes; a absorção de dejetos; a polinização; a reposição de fontes de energia alimentar, como os stocks de peixes marinhos; a produção de fibras, madeira e outros materiais. E por aí fora.
Para Wilson, o desenvolvimento não deve ser pensado (ou calculado) com base no Produto Interno Bruto (PIB). Nesses cálculos devem ser incluídos os custos ambientais do progresso. O problema do ser humano é que apenas está comprometido a curto prazo com a Natureza. É, pois, necessário criar uma nova ética ambiental a longo prazo, para que a evolução humana tenha continuidade. Até porque existe, além da prática que envolve a sobrevivência humana, uma razão moral para proteger a biodiversidade. É a memória biológica da Terra e da nossa própria história evolutiva. Wilson, nesta questão, faz uma comparação interessante. Diz. Aniquilar a diversidade biológica equivale a queimar todos os registos das gravações dos Beatles e todas as obras de arte.
No futuro próximo, em 2100, se a Humanidade continuar com este comportamento actual em relação à Natureza, transformar-se-á numa comunidade mundial envelhecida, socialmente desigual (com agravamentos), geneticamente homogenia (devido à globalização e ao casamento entre pessoas de várias nacionalidades); a Amazónia totalmente destruída, mais de metade das espécies extintas, com os cientistas a tentar criar geneticamente, ecossistemas que os seus pais e avós destruíram.
O biólogo termina dizendo que não é tarde demais para mudar. A solução está nas mãos de todos. Dos governos, da iniciativa privada, da ciência e tecnologia.
E de nós como indivíduos também, acrescentamos.  

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