“Walter Benjamim morreu aos 48 anos, em
Portbou, na província de Girona, depois de acossado pelo avanço dos nazis. Não
teve a mesma sorte que outros. Não conseguiria chegar a Portugal, depois de
atravessar os Pirenéus a pé. Ainda hoje os pormenores do que aconteceu não são
claros. Hannah Arendt (Homens em tempos
sombrios, Relógio d’Àgua, 1991), contudo, acredita que se tenha suicidado
porque “não havia ninguém mais isolado do que Benjamin, ninguém tão
absolutamente só”. O trágico deste episódio é que um dia antes Benjamin teria
passado a fronteira sem dificuldade. “Só naquele dia era possível a catástrofe”,
diz-nos Arendt.
Se homens como Benjamin, um pensador
admirável, não têm morrido antes de tempo, o mundo seria, com certeza, muito
melhor”.
De vez em quando retomamos os escritos
fragmentários de Walter Benjamin. Discípulo de Adorno, iniciou a sua escrita
como marxista assumido, como eram aliás todos os judeus de determinada “facção”
da sua geração, e da sua condição social, na Alemanha de então. Mais tarde
abandonou o marxismo. Destas razões não trataremos neste escrito.
O que importa agora é relacionar alguns
dos seus fragmentos sobre a Moscovo de então, com o Portugal de hoje. Se o não
foi, a realidade de hoje diz-nos exactamente que Benjamin foi profeta.
Em Imagens
de Pensamento, no fragmento VI, diz-nos sobre a cidade de Moscovo dos anos
20 do século passado: “Cada pensamento, cada dia e cada vida se encontram aqui
como sobre a mesa de um laboratório. E, como se fossem um metal do qual se tem
de extrair por todos os meios uma substância desconhecida, eles têm de se
submeter a todas as experiências até à exaustão. Não há organismo nem
organização que se possam furtar a este processo. Reagrupam-se, transferem-se,
mudam-se de lugar os funcionários nas empresas, as repartições nos edifícios,
os móveis nas habitações (…).
Os regulamentos alteram-se todos os dias
(…). O país está mobilizado dia e noite; à frente de tudo, naturalmente, o
partido. De facto o que distingue o bolchevique, o comunista russo, dos seus
camaradas ocidentais é esta disponibilidade absoluta para a mobilização. A base
da sua existência é tão estreita que ele está sempre pronto a mudar de vida a
qualquer momento”.
No fragmento VII, diz-nos:” O bolchevismo
acabou com a vida privada. A burocratização, a actividade politica, a imprensa,
são tão poderosas que não resta tempo para interesses que não coincidam com
elas. Nem tempo, nem espaço (…). O lugar onde vivem é a repartição, o clube, a
rua”.
E termina no fragmento VIII com o
seguinte: “Qualquer cidadão de Moscovo tem os dias preenchidos ao máximo.
Reuniões, comissões, são marcadas a qualquer hora (…). Existe uma espécie de
selecção natural e uma luta pela
sobrevivência nessas assembleias. (…) Mas quantas vezes elas têm de se repetir
até que uma delas seja bem sucedida, viável, adequada, e se realize! Nada acontece
como estava planeado (…), fazem de cada dia um tempo esgotante e de cada vida
um instante”.
Tornar a Benjamin (no caso português) é
concluir que não melhoramos em nada desde 2005/2011, período onde se impuseram
as situações descritas por Benjamin sobre a cidade de Moscovo da década de 20
do século passado. O interregno de 2011 a 2015 apenas manteve o status quo adormecido. As escolas estão cheias deste
folclore. Melhorar o ensino não é criar provas disto e daquilo, aula
daqueloutro, reuniões atabalhoadas, sessões, seminários, acções interesseiras.
Melhorar o ensino é ir ao âmago da questão – corrigir os erros cometidos nestes
últimos dez anos (durante a governação socialista de José Sócrates). Ou seja, criar
uma legislação decente, colocar nos lugares os melhores e erradicar os caciques. Armando Palavras
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