Tilman Riemenschneider, Última Ceia, painel central do retábulo do Santo Sangue, 1499-1504, São Jacob, Rothenburg ob der Taube |
A Páscoa que no período pré-mosaico era
uma festa dos pastores no inicio da Primavera, para os Cristãos passou a ser o
momento de celebrarem a ressurreição de Cristo. Um dos momentos descritos nos
evangelhos é a Última Ceia, que os
Cristãos celebram na Quinta-feira.
A ceia é um dos momentos
mais importantes da narrativa evangélica. É ela que institui um dos principais
sacramentos da liturgia cristã: a Eucaristia[1].
Iconograficamente, esta
ceia realizada em Jerusalém, a última com os doze Apóstolos antes da traição de
Judas, é bem diferente das outras descritas nos relatos evangélicos.
Como era costume entre os
judeus, Jesus e os seus Discípulos dirigiram-se a Jerusalém para celebrarem a
Páscoa[2].
Nos relatos evangélicos
(Math. XXVI, 20-29; Marc. XIV, 10-25; Luc. XXII, 14-23; Joh. XIII, 21-38) estão
bem patentes três grandes questões: o anúncio da traição[3]; a instituição mística da
Eucaristia, repetida no rito da missa católica e o adeus aos Apóstolos,
descrito por João (Joh. XIII, 31-38); aos onze que restam depois de Judas sair
para cumprir a sua traição. O número de comensais não é preciso,
depreendendo-se que apenas tenha sido realizada por Cristo e pelos doze
Apóstolos.
Além de Judas, o outro
apóstolo destacado foi sempre João, normalmente representado junto ao peito do
Mestre. Atitude apenas mencionada no Evangelho de João (XIII, 23) e imposta
pela tradição, também confirmada na literatura apócrifa[4].
[1]
O momento em que Jesus ,
simbolicamente através do pão e do vinho, oferece o seu corpo e o seu sangue
aos Apóstolos (Math. XXVI, 26-29; Marc. XIV, 22-25; Luc. XXII, 19-20). João, o
mais simbólico dos evangelistas, é omisso quanto à Santa Ceia Sacramental. Nesta ceia sacramental se inspirou a
segunda iconografia da Santa Ceia
(capela-mor), concebida simbolicamente como a Comunhão dos Apóstolos, ou por outras palavras, a Instituição do
Sacramento da Eucaristia e do Sacrifício da Missa. É assim, o símbolo do
Sacramento da Comunhão.
[2]Em
rigor, havia duas festas distintas: a Páscoa, que só durava um dia, e a Festa
dos Pães Ázimos, que durava os sete dias seguintes.
[3]O
relato de João, em certos detalhes, não coincide com os relatos sinópticos.
Para Mateus, o traidor é o que mete a mão no prato. De acordo com Lucas é o que
tem a mão sobre a mesa. No Anúncio da Traição de Judas, João (XIII -29) descreve-o com a bolsa e faz referência
àquele a quem Jesus deu o pão ensopado (XIII- 26).
[4]
No Livro do Descanso (42-45), Maria
já próxima da morte, dirigindo-se a João o primeiro apóstolo a chegar,
lembrou-lhe que Jesus o amara mais do que aos outros. Mais recentemente James
D. Tabor, em A Dinastia de Jesus (A Esfera dos Livros, Lisboa,
2006, p. 301), refere outras tradições sobre Tiago, o Justo, conhecido na
comunidade primitiva cristã como o irmão do Senhor, sustentadas pelo Evangelho de Tomé e pelo Evangelho dos Hebreus.
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