sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Presidenciais: nove contra um a lembrar o compasso da Páscoa - Barroso da Fonte



Barroso da Fonte
As eleições presidenciais e as intrigas do futebol transformaram o país num velório que desacredita as duas classes. Os políticos lembram os refugiados orientais na disputa da malga do caldo. Os futeboleiros televisivos, dão murros nas mesas dos debates, propalam grosserias e impingem mentiras que as imagens demonstram ser verdades como punhos.
  Os cidadãos pagam nas faturas da luz, as taxas da rádio e dos canais de serviço público e, em vez de serem formados e informados, como a deontologia obriga, são comidos por lorpas, nos canais generalistas e nos temáticos. As televisões, todas elas, transformaram-se em comícios permanentes de baixa política e de anti-desporto. Quem não liga importância ao futebol  e apenas tem os quatro canais generalistas é obrigado a engolir, como guloseima, aquela vozearia infernal, quer nos debates sobre políticos quer dos boleiros que fazem das suas preferências clubísticas, tal como na política, algazarra selvática.
 Esta algazarra que mais lembra o tempo da barbárie, vem-se agudizando. E as consequências desta bandalheira têm de ser reconhecidas como causa primeira do caos social, laboral e ético que, nestes quarenta anos de democracia, transformaram o ambiente cívico numa verdadeira manta de retalhos. Os assaltos, os crimes de sangue, a agressão familiar, a desobediência nas escolas, o desemprego, as falências, a desorientação na justiça, são efeitos crescentes da concorrência desleal desses meios audiovisuais. É o exemplo da campanha para as presidências. Como não houve acordo partidário para uma distribuição séria, coerente e civilizada dos tempos de antena, entrou-se num caos.  Esse caos viu-se num debate radiofónico em que além dos dez candidatos, levaram, cada um, um enxame de comissários, de apoiantes e de costureiros que mal cabiam no salão especial preparado para esse fim. E esse cenário tem-se repetido diariamente nos canais televisivos, mais parecendo o ofertório para o Bento da Porta Aberta ou a distribuição da sopa nas cantinas da Santa Casa da Misericórdia.
Tal cenário já se vira na entrega das assinaturas de cada um dos dez candidatos. Eles próprios fazem questão em mostrar quem mais legos faz com as pastas, que comissões de apoio têm e os pesos pesados em que se estriba cada um. Aquela que o Tino de Rans mostrou ao pegar e transportar no cesto das vindimas, as folhas de papel com os nomes dos seus apoiantes, ficará na retina de quem já não tem paciência para tanta lata. A democracia, para ser um regime político decente, dispensa bem estas gabarolices e máscaras carnavalescas.
  O tipo de debates que temos vindo a  visionar pela televisão é o espelho do miserabilismo intelectual, moral e cívico que trespassa a sociedade portuguesa. Este miserabilismo que a candidatura revela, contrasta com o aprumo, a sumptuosidade e o prestígio virtual que o eleito, seja ele qual for, vai exibir nos atos cerimoniosos das paradas militares, dos discursos patrióticos e das posses formais dos titulares dos cargos nacionais e internacionais.


 
Escrevo esta crónica, imediatamente a seguir, ao debate na SIC entre Sampaio da Nóvoa e Rebelo de Sousa. Esperava ver, pela primeira vez, uma postura de Estado, um diálogo afável, uma conversa decente. Fiquei desiludido. São ambos catedráticos. Bastaria isso para dignificarem o estatuto mais elevado da carreira académica. Foi grande o meu desencanto. Ao Marcelo já  conheço há 40 anos. Pretendia conhecer o ex-Reitor de uma das mais qualificadas universidades Portuguesas. O que vi? Um vulgaríssimo opositor ao «tempo velho» e um futurível Lenine do «tempo novo». Bastou-me o «argumentário» ressabiado do inexperiente político para decidir o meu voto. Talvez saísse por cima do opositor, se o debate incidisse sobre a gestão universitária. Disso saberá menos Rebelo se Sousa. Mas querer impor autoridade na legislação, no secretismo entre partidários (que nalguns casos é institucional), nas reuniões do Conselho de Estado, na elaboração das leis, nos acordos que se fizeram no tempo do PREC, em que Nóvoa mergulhara e, a custo, se foi afastando, é «argumentário» muito familiar desse candidato, mas muito desajustado da realidade política. Na política é recomendável que se comece pela colagem de cartazes, se passe pela junta de freguesia, pela Câmara, pelo governo e pelo Parlamento. É como na tropa. Não se entra como general, mas como soldado raso. Uma casa não se começa pelo telhado.
 Estudei para Mestrado – e sei que ele tem a tese que publiquei -Alberto Sampaio, autor das Vilas do Norte de Portugal. Nasceu, bem como o irmão, José da Cunha Sampaio, no mesmo ano, nesta cidade em que vivo. Com Antero de Quental, os três fundaram, em Coimbra, a Sociedade do Raio, com o intuito de destituir o Reitor daquela Universidade. Foram todos expulsos. Mais tarde voltaram e ficaram na História. Este candidato é seu descendente e cheguei a pensar nele para meu candidato. Fiquei desiludido. Talvez, por ser mais velho, sou pelo «tempo», do «antes» e do «depois». Sou do país e do «tempo» em que Afonso Henriques, aqui, onde Sampaio da Nóvoa nasceu, naquela «Primeira Tarde Portuguesa» de 24 de Junho de 1128 se travou a Batalha de S. Mamede. Eu prefiro a companhia de quem ao longo de 41 anos defende essa pátria cujo primeiro passo foi dado há 888 anos. Chama-se Portugal e tem uma História rica e invejável. Espero que o novo Presidente da República reconheça este país que tem 888 anos de um tempo velho e novo e por muitos anos.
                                                                         Barroso da Fonte

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