Costa, o chefe deste "governo", anda muito sorridente! |
04/12/2015
António Costa fica à
mercê de um corpo estranho que ele próprio instalou na sua maioria, insensível
a qualquer argumento que venha de fora ou a qualquer tipo de sedução.
Depois dos temores do
professor Vítor Bento, ninguém se deu ainda ao trabalho de examinar o que resta
hoje do partido de Álvaro Cunhal, que sempre seguiu, dentro das suas fracas
forças, a ortodoxia da Internacional ou, se quiserem, da Igreja Comunista. Nesta
última crise, nunca se tocou em alguns pontos que, no entanto, são essenciais.
Um deles é o chamado “centralismo democrático”. Quando se discutia a
ilegitimidade da “frente de esquerda” ou a “legitimidade” da coligação CDS-PSD,
em nenhuma das gritarias que por aí houve se mencionou o facto de o PC
continuar solidamente a ser um partido antidemocrático, em que os dirigentes
superiores decidem e determinam tudo, desde o pessoal ao que dizer em cada
altura e em cada lugar. Se o PS existe, se todo o socialismo existe, é por
terem recusado esta espécie de tirania.
Não vale a pena fazer
aqui a longa lista da gente que saiu do partido por não conseguir aguentar a
vida de caserna que ele universalmente impunha e os métodos policiais com que
vigiava os seus vários suspeitos de indisciplina ou dissidência. Mas vale a
pena registar para memória futura que o PS procurou e, mais do que isso,
aceitou depender de uma máquina que só dura hoje em Portugal e que é sem dúvida
uma das piores aberrações do século XX. António Costa insistiu na
“democratização” dos socialistas (ou seja, nas “primárias”) para remover Seguro
e se instalar ele no cobiçado assento de secretário-geral. Infelizmente os
resultados 4 de Outubro apagaram esses compromissos, que se julgavam sérios,
para permitir uma aliança torpe e o levar depressa a primeiro-ministro,
dignificando de caminho um método político, o “centralismo democrático”, que
matou milhões.
Mas, tarde ou cedo, Costa
pagará esse erro infame. Está agora suspenso das lutas da meia dúzia de
potentados que mandam no PC. Nem ele pode por puro desconhecimento intervir
nelas, nem se pudesse o deixariam intervir. Fica assim à mercê de um corpo
estranho que ele próprio instalou na sua maioria, insensível a qualquer
argumento que venha de fora ou a qualquer tipo de sedução. Não há em última
análise um governo socialista. O que há são dois governos sob a estranha
designação de “maioria”: um do PS, sem força própria para se sustentar, e outro
do PC, que estará quieto e cooperante, enquanto lhe derem o que ele pedir
(conste ou não conste o que ele pedir das ridículas “posições conjuntas” que
por formalidade assinou). Costa e a sua gente vão aprender muito nos próximos
meses.
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