sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Pedro Passos Coelho no Parlamento: “Este Governo foi escolhido pelos deputados nas costas do povo”

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Pedro Passos Coelho considera que os deputados da esquerda usurparam a escolha que os portugueses realizaram de forma soberana.

“Este é o momento e o local apropriado para fazer o balanço político do processo desencadeado após as eleições de Outubro e para perspetivar o futuro. Começo por recordar o elemento mais óbvio para todos os Portugueses, mas também o mais embaraçoso para os que suportam o atual Governo: a Coligação Portugal à Frente foi a formação política que mais votos e mandatos mereceu nas preferências dos eleitores. Por esta razão, o senso comum, alinhado com a prática democrática desde que esta foi instituída na III República, declarou que a Coligação havia ganho as eleições, significando que lhe deveria caber a responsabilidade de governar, ainda que para isso necessitasse de reforçar o diálogo com outras forças políticas representadas no Parlamento”. Estas foram as palavras iniciais de Pedro Passos Coelho no encerramento do debate do Programa do XXI Governo Constitucional.
Contudo, acrescenta o líder do PSD, desde cedo os derrotados das eleições se viraram para o Senhor Presidente da República reclamando que não perdesse tempo a dar posse a quem tinha ganho as eleições, já que estes tinham afinal descoberto um outro vencedor eleitoral. “Não tendo o Presidente da República compreendido o alcance histórico extraordinário transportado pelo vencedor surpresa que então se revelava, os Deputados eleitos reinterpretaram o mandato dos eleitores e decidiram abrir uma crise política, derrubando no Parlamento o Governo saído das eleições e impondo ao País e ao Senhor Presidente da República um Governo novo, cuja investidura parlamentar hoje se materializa. Com isto transformaram a maioria negativa que usaram para derrubar o anterior Governo numa maioria positiva que suporta o novo Governo e por ele plenamente se responsabiliza, mesmo que se furte à aprovação formal de uma moção de confiança. E esta é a marca genética deste novo Governo. Por assim dizer, o seu pecado original. Este Governo, assim como o seu Chefe, não foram escolhidos pelo Povo, foram escolhidos pelos Deputados em nome do Povo mas nas costas do Povo. Quanto mais não seja, só isso acarreta o imperativo político moral de apresentar uma moção de rejeição do respetivo programa. Até prova em contrário, isto é, até prova eleitoral que o desminta, todos, Governo, Chefe do Governo e Deputados que os apoiam, arriscam ser vistos como aqueles que, logo após eleições, se substituíram ao Povo, usurpando a escolha que este havia realizado de forma soberana”.
No que respeita à postura do PS, Passos Coelho recordou que foram os socialistas que se aliaram aos radicalismos de extrema-esquerda, preterindo uma maioria maior, de base pro-europeia e pro-atlântica. “Realmente, há um certo cinismo político em pretender-se acusar-nos de falhar na tarefa de construir uma solução de governo maioritária quando aqueles que fazem a acusação são os mesmos que se negaram a contribuir para que tal solução fosse alcançada. Na verdade, a acusação não passa de uma simulação, pretendendo induzir a ideia de que só teremos em Portugal um Governo liderado pelos socialistas porque quem tinha o ónus eleitoral de construir a solução natural foi incapaz de o fazer. É caso para dizer, não é preciso dissimular. Este Governo sucedeu ao anterior porque o PS, mesmo tendo perdido as eleições, se recusou a viabilizar um para poder liderar outro. Ao fazê-lo, fez uma escolha nada óbvia para os eleitores, admito que mesmo para muitos dos seus eleitores, e colocou-se na posição de favorecer uma soma de minorias que, para ser auto-suficiente, como esta tem a estrita obrigação de o ser, não pode esconder nem disfarçar as raízes anti-europeístas, para não dizer anti-economia social de mercado e de pendor monolítico, logo anti-pluralistas”.
Quanto à posição do PSD, o Presidente do PSD declarou que a perspetiva que temos sobre a situação económica e social que enfrentamos no País não mudou. “Os desafios e os objetivos importantes para Portugal permanecem, apesar da escolha governativa. Quando muito, poderemos afirmar que se tornará bastante mais difícil atingi-los e superá-los através das escolhas refletidas no programa de Governo. Portugal e os Portugueses passaram por muito nestes últimos anos e esforçaram-se ainda mais para suplantar as restrições e os desequilíbrios fortes que durante anos a fio encaminharam as finanças públicas e a economia para a insustentabilidade, a estagnação e a pré-bancarrota”.

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“Quatro anos depois de um difícil processo de ajustamento, os Portugueses conseguiram corrigir a trajetória e forjar novos equilíbrios, sem os quais não haveria sustentação do Estado Social nem crescimento gerador de emprego. Aos défices externos crónicos sucederam-se excedentes consecutivos. Aos défices orçamentais primários e às práticas de desorçamentação sucederam-se excedentes primários e transparência orçamental, estando agora, tal como o demonstra a execução orçamental de Outubro, à beira de poder sair do procedimento por défice excessivo, com o défice e a despesa pública a diminuírem, apesar das eleições. Chegaremos ao final do ano com uma tendência de diminuição da dívida pública. Também o desemprego tem mantido uma trajetória homóloga descendente, encontrando-se praticamente ao nível do registado no início do programa de assistência. Finalmente, a economia, apesar de todas as vicissitudes, tem mantido uma trajetória de crescimento desde o início de 2013, com gradual recuperação do consumo e do investimento privados e com as exportações a registar os valores mais elevados de sempre.
Portugal conseguiu também encerrar o programa de assistência garantindo acesso a financiamento de mercado bastante antes de qualquer política menos convencional desenvolvida pelo BCE e sem necessitar de nova assistência financeira sujeita a condicionalidade, recuperando a sua autonomia e resgatando a credibilidade externa com a saída limpa.
Pena é que quem agora vem designar tal circunstância como resultado desproporcionado para os esforços realizados esteja escudado naqueles que não só não ajudaram a fechar o programa como ainda bastas vezes o tentaram impedir, felizmente sem sucesso”.
A terminar, Passos Coelho reafirmou os princípios que nortearão, agora na oposição como antes no Governo, o PSD. “Sendo uma oposição determinada, séria e responsável, afirmar-nos-emos contra tudo o que represente um retrocesso ou um ataque ao país moderno, aberto, cosmopolita, competitivo, exigente, reformista e justo que defendemos para Portugal, não deixando de apoiar tudo o que promova esta visão positiva da sociedade portuguesa. Não contarão também connosco para sustentar qualquer fachada de cinismo, de propaganda ou de ocultação que ponha em causa os valores de transparência e de dignificação da democracia e das suas instituições. Mas contarão connosco para promover a responsabilização no sistema político e o aprofundamento da maturidade e da liberdade que deve assistir à sociedade civil e aos cidadãos. Quanto à atividade governativa, bem sei que não está na conta dos atuais governantes pedirem-nos apoio para suportar o Governo. Ainda bem, porque quem perdeu as eleições e recusou apoio a quem ganhou não tem autoridade política para destes reclamar apoio no futuro. Mas, insisto, nós avaliaremos sempre, em cada momento, o que considerarmos mais importante para Portugal, independentemente da vontade do Governo. No dia em que o nosso apoio possa ser decisivo para alcançar algum resultado essencial que a maioria que suporta o Governo não for capaz de garantir, apenas esperamos que tenham a dignidade de disso retirarem a consequência natural e devolverem a palavra ao povo, para que seja dessa feita ele mesmo a escolher o futuro Governo de Portugal”.


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