Há uns anos a esta parte que recebo as
«Boas-Festas» especiais do muito ilustre botânico e biólogo, Prof. Jorge Paiva.
Digo especiais por que são sempre bilingues (Português e Inglês). São
especiais, ainda, por que são apreciadas em muitos cantos do mundo e já
estiveram expostas em Londres. Depois, o Prof. Jorge Paiva, jubilado da
Universidade de Coimbra, mantendo gabinete no Jardim Botânico, é requisitado
pela comunidade científica internacional, cerca de uma dezena de vezes por ano,
para missões científicas internacionais de biodiversidade.
A seguir transcrevo o seu sábio postal de
boas-festas:
«Longevidade:
Plantas e Animais
Há
muitas semelhanças e diferenças entre os animais e as plantas. De entre eles os
que mais se assemelham são os que possuem vasos (vasculares): artérias e veias
nos animais; vasos liberinos ou floema e vasos lenhosos ou xilema nas plantas.
Nesses vasos circula um líquido, sangue (arterial e venoso) nos animais, e
seiva (elaborada e bruta) nas plantas, que transporta para todas as células do
corpo substâncias vitais: nutrientes, oxigénio e água.
Ambos se reproduzem sexuadamente por
fecundação da célula sexual feminina (óvulos nos animais; oosfera nas plantas).
O ôvo desenvolve-se até à formação do ser no útero (nos animais) ou no óvulo
(nas plantas), que está incluído no ovário, que se transforma em fruto, nas
plantas com flor e fruto. Nos animais o novo ser emerge através do parto, nas
plantas com a germinação da semente.
Ambos necessitam de alimentos (os
“combustíveis” biológicos), mas as plantas não precisam de comer, porque são
seres vivos capazes de os sintetizar, utilizando a energia solar e substâncias
existentes no meio ambiente (CO2 e H2O). Como os animais não são capazes de
fazer isso, têm que comer plantas (herbívoros) ou comerem animais que já tenham
comido plantas (carnívoros). Nós, espécie humana, tanto comemos plantas como
animais, por isso, dizemos que somos omnívoros. As plantas são, pois,
produtoras de biomassa; os animais consumidores.
Há muitas outras diferenças relevantes.
Assim, nos animais, após o parto, o novo ser tem que ter protecção dos
progenitores nos primeiros tempos de vida; nas plantas, a semente é abandonada
e o embrião só germinará quando tiver condições, isto é, água (já se fez
germinar sementes de trigo com cerca de mil anos). A circulação dos líquidos
(sangue e seiva) não pode ser interrompida (acidente vascular), pois dar-se-á a
morte da parte do corpo ou do órgão não irrigado. Nos animais, isso acontece
naturalmente, pois os vasos, com a idade, vão envelhecendo e, por vezes,
espessando as paredes por deposição de gorduras, até entupirem. Nas plantas
vasculares, isso não acontece, porque elas produzem vasos novos todos os anos
(normalmente duas vezes por ano). Por isso, nas plantas não há acidentes
vasculares (apenas provocados por agentes externos). Desta maneira, as plantas
têm vida muito mais longa do que os animais. A árvore mais velha que se conhece
é um pinheiro (Pinus longaeva D.K.Bailey) que tem cerca de 5.065 anos (U.S.A.);
não há nenhum animal que tenha atingido as três centenas de anos (em Março de
2006, morreu uma tartaruga de Aldabra, Aldabrachelys gigantea Schweigg., com
255 anos). Além do mais, há clones de árvores (Populus tremuloides Michx.,
U.S.A.) com mais de 80.000 anos, pois as plantas reproduzem-se vegetativamente
e os animais não.
Que
a época festiva do final do ano ilumine a consciência humana e não se derrubem
árvores, produtoras de biomassa, despoluidoras e fábricas de oxigénio.
Para o amigo Jorge Lage, os votos de Feliz
Natal, Póspero Ano Novo, com elevada consideração do Jorge Paiva, 2015».
Minha
nota:
No postal de boas-festas fiz alguns retoques e supressões e alterei o fundo a
pensar nos leitores.
Num postit anexo dizia-me: «Este é o meu
25.ºvotos. ¼ de século a enviá-los (cerca de 2.000/ano). Dispendiosos, mas
valem a pena, pois alguns dos textos estão em livros de Ensino; e há
professores que os utilizam como material didáctico. Boas Festas, J. Paiva.
O Prof. Jorge Paiva, bem mais conhecido e
reconhecido pela nata comunidade científica (de Botânica e de Biologia) é um
exemplo de simplicidade como grande sábio. É para mim um «Missionário da
Biodiversidade». É a ele que recorro nas dúvidas. Por isso, quase não há livro
que eu escreva que não o cite ou
referencie. Sermos mais sensíveis e positivos na defesa do Ambiente, da
Biodiversidade e da «bolinha Terra» é lançarmos sementes de esperança num
futuro melhor para os nossos filhos, netos e demais gerações futuras. Se não
mudarmos um pouco os nossos hábitos consumistas e comodistas e pensarmos mais
que vivemos na «aldeia global», não haverá divindade que salve a demolidora
espécie humana.
Ao amigo Prof. Jorge Paiva, aos amigos
leitores, aos colaboradores e Directores do Notícias de Mirandela desejo um
Feliz Natal e Próspero Ano 2016.
Actualizado a 30 de Dezembro
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