quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Costa e os malabarismos - Helena Cristina Coelho


Helena Cristina Coelho – in: Económico

António Costa prepara-se para governar o tal país “bastante diferente” que, há nove meses, elogiou num encontro com a comunidade chinesa – ou será um Portugal mais empobrecido por uma estratégia que andou meses a criticar por acreditar que só gerou desemprego, emigração e asfixia económica?

A herança que recebe hoje tem, certamente, o melhor e o pior destes dois mundos. Por um lado, o novo governo vai beneficiar do esforço de equilíbrio das contas públicas conduzido pelo anterior Executivo, de uma ligeira retoma da economia, de uma maior confiança dos empresários, de um esperado alívio da carga fiscal, de uma certa folga orçamental que permitirá, a curto prazo, devolver aos portugueses parte dos rendimentos que a austeridade comeu nos últimos anos. Quase tudo o que António Costa precisa para fazer boa figura.
Por outro lado, vai ser o gestor de velhos riscos e novas incertezas. A missão que o espera – e que volta a transformar o ministro das Finanças no elo mais forte de um governo – implica manter a disciplina orçamental nos eixos, promover condições para que a recuperação económica não perca fôlego e ajude a criar mais emprego, garantir a sustentabilidade do Estado Social, definir as reformas institucionais que os credores ainda reclamam e de que o país precisa. Tudo isto ao mesmo tempo que tenta provar que não há um modelo único na zona euro para cumprir metas do défice e da dívida e promover a competitividade, que é possível uma política macroeconómica alternativa em Portugal. Não vai ser tarefa fácil. O novo governo está confiante de que a conjuntura, tal como o Bloco e o PCP, estarão sempre do seu lado nos próximos tempos. Acredita que as finanças públicas vão beneficiar dos ventos de recuperação que a economia sopra e que os portugueses vão regressar aos níveis de consumo que tinham antes da crise – e que isso ajudará a sustentar o crescimento económico e o ímpeto despesista do Estado que o governo antecipa.
É um exercício de equilibrismo manhoso, agravado pela necessidade de estar em constante negociação com os seus novos aliados. Uma partilha de poder com a extrema-esquerda que está a servir lindamente os seus interesses pessoais e políticos mais imediatos, mas que terá ainda de enfrentar o “choque com a realidade”. E, quando isso acontecer, os riscos adensam-se. Primeiro, porque a chamada “viragem política” pode levar a radicalizações que ameaçam muito do que foi conseguido no país até agora. Depois, porque a potencial necessidade de aplicar medidas mais severas, pode fracturar a esquerda e os seus acordos, abrindo a porta a novos impasses e instabilidades. E, por fim, porque a condição de refém em que o PS se colocou neste processo vai afastar o partido, cada vez mais, do centro, e enfraquecer a sua própria identidade.
Ao perfil de equilibrista, António Costa vai assim ter de juntar o de malabarista para sobreviver. E para que o programa político que tem nas mãos conduza ao tal Portugal “diferente”, para melhor, sem recurso a mais truques. Mas quem disse que era fácil?


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