Helena Cristina Coelho –
in: Económico
António Costa prepara-se para
governar o tal país “bastante diferente” que, há nove meses, elogiou num
encontro com a comunidade chinesa – ou será um Portugal mais empobrecido por
uma estratégia que andou meses a criticar por acreditar que só gerou
desemprego, emigração e asfixia económica?
A herança que recebe hoje tem,
certamente, o melhor e o pior destes dois mundos. Por um lado, o novo governo
vai beneficiar do esforço de equilíbrio das contas públicas conduzido pelo
anterior Executivo, de uma ligeira retoma da economia, de uma maior confiança
dos empresários, de um esperado alívio da carga fiscal, de uma certa folga
orçamental que permitirá, a curto prazo, devolver aos portugueses parte dos
rendimentos que a austeridade comeu nos últimos anos. Quase tudo o que António
Costa precisa para fazer boa figura.
Por outro lado, vai ser o gestor
de velhos riscos e novas incertezas. A missão que o espera – e que volta a
transformar o ministro das Finanças no elo mais forte de um governo – implica
manter a disciplina orçamental nos eixos, promover condições para que a recuperação
económica não perca fôlego e ajude a criar mais emprego, garantir a
sustentabilidade do Estado Social, definir as reformas institucionais que os
credores ainda reclamam e de que o país precisa. Tudo isto ao mesmo tempo que
tenta provar que não há um modelo único na zona euro para cumprir metas do
défice e da dívida e promover a competitividade, que é possível uma política
macroeconómica alternativa em Portugal. Não vai ser tarefa fácil. O novo
governo está confiante de que a conjuntura, tal como o Bloco e o PCP, estarão
sempre do seu lado nos próximos tempos. Acredita que as finanças públicas vão
beneficiar dos ventos de recuperação que a economia sopra e que os portugueses
vão regressar aos níveis de consumo que tinham antes da crise – e que isso ajudará
a sustentar o crescimento económico e o ímpeto despesista do Estado que o
governo antecipa.
É um exercício de equilibrismo
manhoso, agravado pela necessidade de estar em constante negociação com os seus
novos aliados. Uma partilha de poder com a extrema-esquerda que está a servir
lindamente os seus interesses pessoais e políticos mais imediatos, mas que terá
ainda de enfrentar o “choque com a realidade”. E, quando isso acontecer, os
riscos adensam-se. Primeiro, porque a chamada “viragem política” pode levar a
radicalizações que ameaçam muito do que foi conseguido no país até agora.
Depois, porque a potencial necessidade de aplicar medidas mais severas, pode
fracturar a esquerda e os seus acordos, abrindo a porta a novos impasses e
instabilidades. E, por fim, porque a condição de refém em que o PS se colocou
neste processo vai afastar o partido, cada vez mais, do centro, e enfraquecer a
sua própria identidade.
Ao perfil de equilibrista,
António Costa vai assim ter de juntar o de malabarista para sobreviver. E para
que o programa político que tem nas mãos conduza ao tal Portugal “diferente”,
para melhor, sem recurso a mais truques. Mas quem disse que era fácil?
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