O Poema do Pedinte *
Deixem passar o poema do pedinte!
Não lhe coloquem escolhos onde tropece,
Se ele só junta frases que conhece
E nunca abandona as palavras do seguinte!
Atira-as para o ar, em remoinho,
Deixa
que o vento as afague com ternura
E destiladas pelas nuvens em água pura,
Vão matar a sede a alguém noutro caminho.
São relâmpagos de sonhos construídos,
Em pensamentos nobres mas ousados,
Porque são tantos os cérebros cansados
Que partiram com inventos bem vestidos.
*Abílio Bastos, Inédito
O Abílio teve uma vida dura, mas gostava
de aprender novas matérias na Escola. Terminada a 4.ª classe os meninos e
meninas que tinham posses foram para o Colégio de Refojos – Cabeceiras de
Basto. Ele contentava-se, numa dor d’alma, em se sentar no muro em frente ao
Colégio a chorar por os pais serem pobres e não lhe poderem pagar os estudos.
Depois, foi ganhar a vida a plantar árvores na floresta, na arte de
carpinteiro, na vida militar em Timor, por França e América. Os poemas
surgiram-lhe em momentos excepcionais, mais entre os 13 e os 18 anos e
caíam-lhe como folhas. Retém a maioria dos poemas na memória e recita-os com
facilidade.
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