Luuanda é um conjunto de pequenas histórias escritas por Luandino Vieira há cerca de meio século. A lusofonia é diversa e os seus linguarejares específicos. E é nesta especificidade que a escrita de Luandino deve ser entendida. Como a de João Guimarães Rosa (Grande Sertão Veredas).
O português que esteve
em África lê-o com facilidade e entranha na alma os vários termos da
portugalidade. Este trecho é bem exemplo disso:
“Quatro horas eram já
quase e, à toa, seguiam no passeio do Catonho-Tonho, direcção do mar. Zeca
Santos tinha dado encontro no amigo dele, agarrara-lhe ainda no emprego, nesse
dia Maneco estava sair mais tarde, dia de chuva os carros eram muitos lá na
estação de serviço e queria fazer umas horas na vez de um amigo. Por isso é que
três horas só Maneco veio para almoçar. Saiu logo conversa desse baile do
último sábado, a peleja que tinha passado por causa a Delfina, e Maneco gabou
Zeca:
- Você arreou-lhe uma
bassula de mestre! Possa! A malta gramou!
Gabado, Zeca Santos
endireitou o corpo magro e as orelhas-de-abano – ele tinha raiva essas orelhas,
todas as pequenas gostavam lhe gozar e só depois, quando adiantava falar, elas
esqueciam na música das palavras – ficaram a arder, quentes”.
(p.58).
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