Com
90 anos faleceu Maria Barroso, senhora que foi primeira-dama de Portugal entre
1986 e 1996. Foi actriz diplomada em Arte Dramática pela escola de
Teatro do Conservatório Nacional, e licenciada em Ciências
Histórico-Filosóficas da Faculdade de Letras de Lisboa, onde conheceu o
marido, Mário Soares com quem casou em 1949. Nasceu em Olhão, em 02 de
Maio de 1925 e morreu no Hospital da Cruz Vermelha, em Lisboa, a 07 de Julho de
2015. De seu nome completo Maria de Jesus Simões Barroso Soares, Maria Barroso
foi activista política e social, uma das fundadoras do PS, e professora.
Durante muitos anos directora do Colégio Moderno, esta generosa senhora dirigiu
varias associações de solidariedade e um dos seus últimos cargos públicos foi
a presidência da Cruz Vermelha Portuguesa, em cujo hospital viria a
falecer. Mãe de dois filhos João e Isabel Soares, a conversão desta distinta
senhora ao catolicismo deve-se de forma assumida, a um acidente quase mortal do
seu filho João Soares, num acidente de avião na Jamba [território controlado
pela UNITA, em Angola}, em Setembro de 1989. Maria Barroso disse sempre que não
gostava de falar da sua conversão, por fazer parte da sua vida íntima, mas
admitiu várias vezes que, nessa altura, muito mudou. Contou ela:
“Era
de noite, o meu marido já se tinha deitado, e eu estava a fazer as malas,
porque no dia seguinte partíamos numa visita de Estado à Holanda e à Hungria.
Foi curioso... Nessa noite, não conseguia dormir. A certa altura, a minha filha
telefonou a dar a notícia de que o João tinha tido um gravíssimo desastre na
Jamba, em Angola, e que estava muito mal. E soube que o João tinha sido levado
para a África do Sul, para um hospital em Pretória”, disse ao Expresso numa
entrevista em 2009.
Já no hospital, continuou a contar, encontrou João
Soares em estado grave. "Quase não reconheci o meu filho. E todos os dias
perguntava ao médico: ‘Como está o meu filho?’ Ele dizia-me sempre: ‘Um
bocadinho melhor, mas continua muito doente. Peça a Deus’”. E Maria Barroso
conta que pediu. Mal recebeu a notícia do acidente, lembra que ligou a uma
amiga: "’Vá ter com o senhor padre da igreja do Campo Grande [em Lisboa] e
peça-lhe que reze pelo meu filho!’ Porque eu estava angustiadíssima. Foi um
afastamento de muitos anos. Pode haver um fenómeno que nos toque, que nos fira,
que provoque uma angústia, um desejo de nos agarrarmos a qualquer coisa que nos
dê força para aguentar. Deus ajudou-me”, disse na mesma entrevista.
O pároco da igreja do Campo Grande, Vítor Feytor
Pinto, não fala desse momento da vida passada de Maria Barroso e daquele seu
momento de aproximação à fé, por fazer parte “da sua intimidade espiritual”.
Prefere falar do presente. Maria Barroso ia à missa das 19h todos os domingos,
mas "chegava sempre uma hora antes". "Era de uma grande ternura,
atendia e falava com toda a gente que vinha ter com ela. É um exemplo muito
bonito de uma cristã que praticava o amor aos outros.” O seu corpo vai estar em câmara ardente em
Colégio Moderno, e a Missa de corpo presente será amanhã, dia 08, às 10h00, na
igreja do Campo Grande, a que se segue o funeral para o cemitério dos Prazeres.
Uma verdadeira esposa e mãe. Descanse em paz.
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