A escritora Luísa Dacosta, um dos nomes cimeiros
daliteratura portuguesa contemporânea, unanimemente reconhecida como tal pela crítica, faleceu no
dia 15 de Fevereiro
de 2015, em Matosinhos, onde vivia desde longa
data. De seu nome verdadeiro Maria Luísa Saraiva Pinto dos Santos,
nasceu em Vila Real em 16 de Fevereiro de
1927.
Faleceu pois na véspera de completar 88 anos.
A sua obra, muito diversificada e de grande qualidade
literária, abrange a ficção, a crónica, o ensaio e a literatura infantil. O
Grémio Literário Vila-Realense tinha dedicado o Dia das Letras
Trasmontanas e Alto-Durienses, em 16 de Março
de 2012, a esta importante figura de escritora, prestando-lhe uma
homenagem de que constaram o descerramento
de uma placa na rua onde nasceu (Cândido dos Reis), em que se pode ler
um excerto do livro de contos Província, evocando essa mesma rua nos
anos da juventude da Escritora, e uma palestra pela Dr.ª
Maria Hercília Agarez.
Joaquim Ribeiro
Aires, que tem ultimamente andado algo arredio da poesia, para se dedicar a
trabalhos de fôlego notável de natureza
historiográfica, regressou recentemente
à modalidade em que iniciara a sua carreira literária em 1985, ano de publicação do
livro de poemas Esta cidade onde moro. Fê-lo com o livro Desassossegos,
em que reúne mais de meia centena de poemas, divididos por temas muito diversificados.
Trata-se de uma
poesia de fácil e amena leitura, que recusa as escabrosidades herméticas de
certa poesia moderna.
Poemas marcados a fogo por uma certa insatisfação: «Estes são os versos/
Da minha inquietação/ Que é um não sei
quê/ Permanente/ De nunca estar contente.»
O livro, que sai
com uma bela capa de Chi Pardelinha, é da responsabilidade da editora
vila-realense Maronesa.
A Assírio & Alvim, uma das nossas mais prestigiadas editoras de
poesia, acaba de publicar um grosso volume
que reúne toda a obra poética de Rui Pires Cabral, à excepção dos
livros de poemas-colagens que apareceram
nos
anos mais recentes, de que é exemplo Oh! Lusitania.
Inclui ainda Evasão
e Remorso — um conjunto de poemas que ainda não havia sido publicado em
livro — e uma secção final com alguns textos
dispersos e inéditos, para além de alguns desenhos de Daniela Gomes (artista
vila-realense) e uma colagem de Martin Copertari na capa.
Tem o singelo título de Morada. A obra dá-nos
uma perspectiva completa sobre a poesia de Rui Pires Cabral, onde estão
presentes os seus cenários recorrentes:
o paraíso perdido da infância, onde houve inúmeros momentos de felicidade e
companheirismo, revisitado com referência explícita
a muitos dos lugares
onde decorreu; as andanças pela Europa, fonte de conhecimento mas também de
angústias; o quotidiano baço de Lisboa, igualmente motivador de inquietações e
inadequações. O poeta dirige-se frequentemente a si próprio, modo de pôr a tónica na permanente questionação do sentido da
existência — ou da falta de sentido, ou mesmo,
muitas vezes, do seu absurdo. «Se nos cruzássemos nas ruas desta cidade// entre
desconhecidos de toda a sorte, talvez/ nos sentássemos a falar da nossa vida,
isto é,/ de como vamos ficando cada vez mais
órfãos/ de nós próprios.
Ou, pensando bem, talvez não.»
Faleceu no dia 1
de Março de 2015 o escritor Amadeu Ferreira,
vítima de doença que o minava há alguns meses — mais um rude golpe na cultura
e literatura trasmontanas.
Contava 64 anos.
Amadeu Ferreira,
que era Presidente da Direcção da Academia de Letras de Trás-os-Montes, deixa
uma imagem de homem afável e generoso, de uma energia inquebrantável e de uma
multiplicidade surpreendente de interesses e actividades. Para além de
professor de Direito e de vice-presidente da Comissão de Mercado de Valores
Mobiliários, o Grémio Literário Vila-Realense recorda-o sobretudo como
romancista e poeta de elevada qualidade, e
também como o grande paladino do Mirandês, língua para a qual traduziu, sob o
pseudónimo de Fracisco Niebro, obras importantes como Os Lusíadas, os
Evangelhos, a Mensagem, de Fernando Pessoa, entre outras.
Em 5 de Março
realizou-se a sessão de lançamento na Faculdade de Direito da Universidade Nova
de Lisboa da sua Biografia (O fio das
lembranças,
da autoria de Teresa
Martins
Marques), e do seu último livro de poesia, Belheç / Velhice (bilingue
mirandês / português).
Vítima de doença prolongada, faleceu no passado dia 19 de Março o poeta
Nélson Vilela.
Nélson Vilela
era natural de Vilarinho da Samardã, onde nasceu
em 1933 de uma família muito numerosa. Apesar de ter
cursado Teologia, nunca se dedicou à vida eclesiástica, tendo em vez
disso exercido funções docentes em diversas escolas, acabando por se aposentar
como professor da Escola Básica 2,3 André Soares, em
Braga, cidade onde residia.
Homem de grande modéstia e discrição, Nélson Vilela afastava-se
voluntariamente de toda e qualquer publicidade,
o que de algum modo terá influenciado a circulação restrita das suas obras.
Publicou os seguintes títulos: Saudade, Asas de
espuma, Inquietação, Sobre a terra e sobre o mar, Mar e sombras, Pedaços do
mesmo sonho, Regresso, Sempre em caminho,
O livro de Carla,
Entre urgueiras e carquejas, e O sal e as lágrimas. Publicou também um
ensaio, Linguagem humana, e organizou o volume Una vista de olhos
pela poesia portuguesa.
In: Revista Tellus, nº 62 (Junho de 2015)
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