Não são previsíveis conflitos
militares generalizados, como os da 1.ª e 2.ª Guerras Mundiais. Todos sairiam
derrotados.
Dos conflitos em actividade,
apenas existe um que pode ser considerado “guerra entre Estados”. Trata-se da
guerra entre o Sudão e o Sudão do Sul. Os restantes caracterizam-se por serem
conflitos internos de um Estado contra um actor não estatal que, com frequência,
recebe apoios operacionais de um outro Estado, como fornecimento de material e
equipamento ou de equipas de conselheiros e/ou instrutores, embora normalmente
negue tais apoios.
Não são previsíveis conflitos
militares generalizados, como os da 1.ª e 2.ª Guerras Mundiais que
caracterizaram o século XX, porquanto os efeitos destruidores dos armamentos e
equipamentos mais modernos são de tal dimensão, que eles acabavam sem vencedores.
Todos sairiam derrotados.
Por outro lado, os conflitos
militares envolverão combates no ciberespaço, alguns deles de tal modo
demolidores que, paralisando as infra-estruturas críticas do adversário, o
poderão obrigar a ajoelhar.
Segundo o relatório anual do
Instituto de Heidelberg de Pesquisa Internacional de Conflitos, foram
contabilizados no “Barómetro de Conflitos de 2014” um total de 46 considerados
“altamente violentos”, dos quais denomina 21 como “guerras” e 25 como “guerras
limitadas”, num total de 424 conflitos que se verificaram em todo o mundo, 223 com
o emprego da violência.
Com base neste último relatório,
pode afirmar-se que o número de conflitos altamente violentos aumentaram para
46, por ter sido acrescentado aos 45 de há dois anos o conflito que se
desenvolve desde o ano passado no Leste da Ucrânia. Entre outros conflitos em
curso podem referir-se os do Afeganistão, Síria, Paquistão, Iraque, Mali,
República Centro-Africana, Sudão contra Sudão do Sul, Egipto, Filipinas,
República Democrática do Congo, Líbia, Tunísia, Turquia, e no México, Brasil e
Colômbia contra traficantes e entre cartéis de droga. Note-se que 11 deles
ocorrem na África Subsaariana.
Para além destes, a China disputa
o cordão de ilhas que se situam ao longo da sua costa: com o Japão, a ilha
Dyao; e com o Vietnam, as Filipinas, a China, Taiwan, Brunei e Malásia (todos
Estados ribeirinhos do Mar do Sul da China) disputa os arquipélagos Paracel e
Spratley, cujas águas são ricas em combustíveis fósseis. Outro motivo de
conflito na região é a decisão de Pequim alargar um (para já) atol com
múltiplas dragagens de areia, dando-lhe a dimensão de ilha, assim alargando as
suas águas territoriais.
De um modo geral, todos estes
conflitos, quando atingem a violência, caracterizam-se por serem altamente
móveis, utilizando pequenos efectivos, raras vezes superiores ao escalão
companhia (batalhão, no caso da Ucrânia), entre formações que, frequentemente,
integram combatentes descaracterizados, ou seja não usando uniforme – os
famosos pequenos homens de verde que atuam na Ucrânia. Grande parte dos efeitos
destas operações joga-se ao nível da tentativa de produzir percepções que
favoreçam os contendores em termos de relações de forças, através da utilização
adequada da informação por intermédio de um “departamento” específico.
Os combatentes do Estado Islâmico
são, em parte significativa, os militares de Saddam Hussein e as tribos sunitas
do Iraque. Zarqawi, o feroz líder da Al-Qaeda no Iraque que aí combateu os
norte-americanos, é talvez o melhor exemplo destes procedimentos: comandava um
contingente estruturado basicamente em pequenas unidades capazes de se moverem
com grande mobilidade. E tinha uma equipa de televisão como principal organismo
operacional, com que filmava os episódios mais violentos e sangrentos do
combate, para os inserir em sites apropriados da internet, que serviriam para
atrair milhares de jovens fanáticos às fileiras jihadistas. Actualmente, o seu
sucessor, Al-Bagdadi, utiliza a mesma metodologia.
Por outro lado, a Turquia tem, há
muito, o objectivo de se tornar no país mais influente da região sunita a Norte
de Bagdad, não colocando de lado a hipótese de promover a constituição de um
Sunistão independente que englobe os sunitas sírios e iraquianos, cuja aliança
permitiria massa crítica a Ancara para disputar a hegemonia regional com o Irão
e a Arábia Saudita. E mantém ligações com ex-oficiais baasistas e outros
sunitas, agora na jihad, que combateram a Al-Qaeda no Iraque a partir de 2006/7,
ao lado dos norte-americanos.
Tudo isto poderá explicar a
negação da utilização de bases turcas pelos EUA aquando da invasão de 2003 ao
Estado de Saddam, e ajuda-nos a compreender o atraso na declaração pública da
adesão de Ancara à coligação contra o EI, explicando também o modo como
recuperou os seus 41 diplomatas do consulado turco de Mossul feitos
prisioneiros pelo EI ao conquistar esta cidade. Repare-se que a administração
desta importante cidade foi entregue a um grupo sunita aliado do EI, liderado
pelo “ás de copas”, título que os norte-americanos deram ao general iraquiano
sunita n.º 2 de Saddam, que posteriormente terá morrido em combate.
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