Manoel António Gomes,
mais conhecido como Padre Himalaya (nomeada herdada dos seus tempos de
Seminário, por ser muito alto. Media cerca de um metro e noventa), nasceu em
Cendufe (Minho) no ano de 1868.
Cedo demonstrou o
desejo de viajar. Viveu na Alemanha, França, Inglaterra, EUA e Argentina. Viajava
com dois obejectivos: alargar conhecimentos e conseguir apoio financeiro e
institucional para os seus diversos projectos.
Em 1899 foi professor
de Físico-química no Porto, onde publicou numerosos artigos científicos em
revistas especializadas. Debruçou-se sobre as mais diversas áreas da actividade
humana - Ciência, Ecologia, Educação, Filosofia, Religião ou a Economia. Tinha
um espírito progressista. Opunha-se à imposição do celibato, e desaprovava os
jejuns, que, segundo o sacerdote, só serviam para afastar os fiéis da Igreja.
Acreditava que o conhecimento e a prática científica, juntamente com a
educação, deveriam conduzir a uma democratização dos recursos naturais e à
construção de um mundo (ecologicamente sustentado) mais feliz.
Atribuía importância a
uma alimentação saudável por oposição aos efeitos nocivos que uma dieta desequilibrada
invariavelmente provoca, não apenas no dia-a-dia de cada indivíduo, mas no
desenvolvimento da sociedade no seu todo. Para Himalaya, apoiante da Sociedade Vegetariana
do Porto, uma alimentação saudável não poderá, em circunstância alguma, incluir
o consumo de animais.
Homem genial, foi na
Ciência que se distinguiu. Com apenas dezassete anos construiu uma máquina que
conseguia transformar nitrogénio para aumentar os índices de fertilidade do
solo. O seu interesse pelas propriedades medicinais das plantas levou-o a
iniciar uma investigação minuciosa que terminou com a criação de um vasto
repertório de medicamentos naturais. Um destes medicamentos – os Sais Orgânicos
– foi comercializado com sucesso na época.
Retirado do link de Jacinto Rodrigues |
Em 1900, começou as
suas experiências com a energia solar em França, na região de Sorède, através
da construção de uma máquina que denominou de pireliófero. Era constituído por
um forno solar gigantesco com uma lente igualmente impressionante que recebia e
transformava a energia solar em electricidade. Depois de algumas tentativas
falhadas com protótipos imperfeitos, conseguiu construir uma nova máquina,
apresentada em 1904, na Exposição Universal de St. Louis, nos Estados Unidos, o
expoente máximo da sofisticação tecnológica e científica. Uma multidão
estupefacta observou como a gigantesca máquina, que ocupava cerca de 80 m2 e
alcançava os 3500 graus de temperatura, derretia instantaneamente o granito e o
basalto. O Júri da Exposição atribuiu a Himalaya o primeiro prémio do concurso
e com ele o cientista português inscrevia, na primeira década do século XX, o
seu nome, e o nome de Portugal, na história das energias renováveis.
Apesar do seu êxito na
Exposição, o pireliófero não chegou a ser nunca comercializado. O aparelho era
demasiado caro para ser usado na Indústria e os seus princípios eram contrários
à Economia dominante baseada quase exclusivamente no consumo de petróleo.
Iniciou de seguida
experiências de um explosivo não poluente, fabricado através de produtos de
origem vegetal e mineral, económicos e fáceis de obter. Chamou-lhe himalayite. Destinou-se
exclusivamente ao uso na exploração mineira, florestal e outras actividades
económicas.
Para além do
pireliófero e da himalayite, foi ainda o inventor de um motor directo e de um
turbo-motor, uma farinha alimentar à base de crustáceos e farelo, e um sistema
de reciclagem e transformação de esgotos em adubos.
Por tudo isto, não será
um exagero concluir que o Padre Himalaya foi um pioneiro no domínio da inovação
científica, tendo inaugurado, em Portugal, há cerca de cem anos atrás, o
conceito de desenvolvimento ecologicamente sustentado.
O Padre Himalaya
acreditava que a humanidade possui todos os recursos indispensáveis para a
promoção de uma sociedade mais justa e mais solidária. Cabe ao ser humano
reunir conhecimentos, coragem, energia e imaginação suficientes para o fazer.
Foi, sem dúvida, um
homem de acção que lutou sempre para colocar os seus ideais progressistas e
liberais, os seus inventos tecnológicos e as suas descobertas científicas ao
serviço de todos, sem excepção. Mas foi também um visionário que ambicionava
decifrar os códigos secretos da Natureza e um filósofo prático, cujas inúmeras
propostas, formuladas, por vezes, num tom profético, permanecem verdadeiramente
actuais e inovadoras.
Nota:
Texto fundamentado em
escritos de Jacinto Rodrigues, Márcia Lemos, Luís Tirapicos, Helena Simões e no
programa da TSF transmitido a 9/5/2015 por Fernando Alves.
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