quarta-feira, 13 de maio de 2015

O Padre Himalaia


Manoel António Gomes, mais conhecido como Padre Himalaya (nomeada herdada dos seus tempos de Seminário, por ser muito alto. Media cerca de um metro e noventa), nasceu em Cendufe (Minho) no ano de 1868.
Cedo demonstrou o desejo de viajar. Viveu na Alemanha, França, Inglaterra, EUA e Argentina. Viajava com dois obejectivos: alargar conhecimentos e conseguir apoio financeiro e institucional para os seus diversos projectos.
Em 1899 foi professor de Físico-química no Porto, onde publicou numerosos artigos científicos em revistas especializadas. Debruçou-se sobre as mais diversas áreas da actividade humana - Ciência, Ecologia, Educação, Filosofia, Religião ou a Economia. Tinha um espírito progressista. Opunha-se à imposição do celibato, e desaprovava os jejuns, que, segundo o sacerdote, só serviam para afastar os fiéis da Igreja. Acreditava que o conhecimento e a prática científica, juntamente com a educação, deveriam conduzir a uma democratização dos recursos naturais e à construção de um mundo (ecologicamente sustentado) mais feliz.
Atribuía importância a uma alimentação saudável por oposição aos efeitos nocivos que uma dieta desequilibrada invariavelmente provoca, não apenas no dia-a-dia de cada indivíduo, mas no desenvolvimento da sociedade no seu todo. Para Himalaya, apoiante da Sociedade Vegetariana do Porto, uma alimentação saudável não poderá, em circunstância alguma, incluir o consumo de animais.
Homem genial, foi na Ciência que se distinguiu. Com apenas dezassete anos construiu uma máquina que conseguia transformar nitrogénio para aumentar os índices de fertilidade do solo. O seu interesse pelas propriedades medicinais das plantas levou-o a iniciar uma investigação minuciosa que terminou com a criação de um vasto repertório de medicamentos naturais. Um destes medicamentos – os Sais Orgânicos – foi comercializado com sucesso na época.

Retirado do link de Jacinto Rodrigues
Em 1900, começou as suas experiências com a energia solar em França, na região de Sorède, através da construção de uma máquina que denominou de pireliófero. Era constituído por um forno solar gigantesco com uma lente igualmente impressionante que recebia e transformava a energia solar em electricidade. Depois de algumas tentativas falhadas com protótipos imperfeitos, conseguiu construir uma nova máquina, apresentada em 1904, na Exposição Universal de St. Louis, nos Estados Unidos, o expoente máximo da sofisticação tecnológica e científica. Uma multidão estupefacta observou como a gigantesca máquina, que ocupava cerca de 80 m2 e alcançava os 3500 graus de temperatura, derretia instantaneamente o granito e o basalto. O Júri da Exposição atribuiu a Himalaya o primeiro prémio do concurso e com ele o cientista português inscrevia, na primeira década do século XX, o seu nome, e o nome de Portugal, na história das energias renováveis.
Apesar do seu êxito na Exposição, o pireliófero não chegou a ser nunca comercializado. O aparelho era demasiado caro para ser usado na Indústria e os seus princípios eram contrários à Economia dominante baseada quase exclusivamente no consumo de petróleo.
Iniciou de seguida experiências de um explosivo não poluente, fabricado através de produtos de origem vegetal e mineral, económicos e fáceis de obter. Chamou-lhe himalayite. Destinou-se exclusivamente ao uso na exploração mineira, florestal e outras actividades económicas.
Para além do pireliófero e da himalayite, foi ainda o inventor de um motor directo e de um turbo-motor, uma farinha alimentar à base de crustáceos e farelo, e um sistema de reciclagem e transformação de esgotos em adubos.
Por tudo isto, não será um exagero concluir que o Padre Himalaya foi um pioneiro no domínio da inovação científica, tendo inaugurado, em Portugal, há cerca de cem anos atrás, o conceito de desenvolvimento ecologicamente sustentado.
O Padre Himalaya acreditava que a humanidade possui todos os recursos indispensáveis para a promoção de uma sociedade mais justa e mais solidária. Cabe ao ser humano reunir conhecimentos, coragem, energia e imaginação suficientes para o fazer.
Foi, sem dúvida, um homem de acção que lutou sempre para colocar os seus ideais progressistas e liberais, os seus inventos tecnológicos e as suas descobertas científicas ao serviço de todos, sem excepção. Mas foi também um visionário que ambicionava decifrar os códigos secretos da Natureza e um filósofo prático, cujas inúmeras propostas, formuladas, por vezes, num tom profético, permanecem verdadeiramente actuais e inovadoras.

Nota:
Texto fundamentado em escritos de Jacinto Rodrigues, Márcia Lemos, Luís Tirapicos, Helena Simões e no programa da TSF transmitido a 9/5/2015 por Fernando Alves.


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