Por: Costa Pereira
Hoje o Tiago está no Carmo a recolher e coordenar testemunhos do 25 de Abril de
1974, e convidou-me para ir lá contar o que vi e sei desse histórico
acontecimento. Entendi declinar o convite porque certamente ia dizer ali coisas
que alguns telespectadores não gostavam e por isso não vou. Dei-lhe algumas
dicas do pouco que sobre o assunto escrevi e divulguei por diversos jornais, e
ultimamente até online já abordei o assunto
Para
dizer que “Toda história está
deturpada, há-de reparar que logo ao falar-se do dia 25 de Abril ninguém fala
do Coronel Rameiras, o Comandante de Cavalaria 7, que saiu com os blindados
para o Terreiro do Paço e acabou por não fazer uso da força. Regressando ao
quartel.Se o tivesse feito era um banho de sangue, ainda voltou ao quartel e só
depois foi detido por um alferes. Era um grande amigo de Costa Gomes e
por isso nunca lhe perdoou o não o ter informado. Só que o Costa Gomes à data
devia sabia tanto como eu. Nada. Mas ninguém fala nesta passagem porque não
assistiram a ela. Eu assisti por casualidade e fui o único além dos
intervenientes na operação. Isto, porque nesse dia, e a essa hora, (umas 06h20)
tinha me comprometido a ir a Santa Apolónia esperar um meu conterrâneo que
vinha da terra, e ao chegar à porta de Cavalaria 7, Calçada da Ajuda, dei a
baixo com aquele espectáculo dos blindados a sair para a rua e comandante a
barafustar, deixou-me passar por ser conhecido, mas da Praça do Império não
passei porque não houve transportes”.
Também por ocasião do falecimento do Marechal Spínola que foi o XVº Presidente
da Republica Portuguesa, escrevi e relatei como vi e vivi o 25 de Novembro: “Nasceu em Estremoz a 11 de Abril de
1910 e faleceu em Lisboa a 13 de Agosto de 1996. Autor de "Portugal e o
Futuro", o Marechal Spínola é quem dá os primeiros sinais de que está para
breve a queda do nosso domínio em território ultramarino. O que também lhe
valeu por isso ser escolhido pelos "capitães de Abril" para seu
"escudo" na hora das aflições... Mas por pouco tempo, dado
que Vasco Gonçalves tinha no então General Costa Gomes mais
confiança e fé...Na véspera em que Spínola tomou posse como presidente
passei pelo Palácio de Belém e dei do ilustre militar as melhores
referências a quem as pediu e com ele ia trabalhar. Era civil, não era o meu
amigo General Manuel Monge. Do 25 de Novembro só recordo que o facto de
hoje estar vivo é um autêntico milagre, que o diga quem ao meu lado, no 2º
Escalão das OGME, na Calçada da Ajuda, assistiu à tomada do Quartel de
Lanceiros 2, pelos briosos soldados do Coronel Jaime Neves, e que no ataque só
por sorte me não atingiram mortalmente, que nada tinha a ver com a
intervenção. Não foi por isso, mas muito cá para nós, talvez por
isso, eu tenha ficado satisfeito quando mais tarde fui condecorado
com a medalha de D. Afonso Henriques, Patrono do Exercito. Se o 25 de Novembro
se não tivesse dado, Portugal não seria o mesmo que é hoje, se melhor ou pior
deixo ao critério dos leitores". O meu testemunho 41 ano depois~.
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