Tanta berraria, tanta indignação,
tanta ameaça para desaguar num “documento” amorfo e muito ambíguo, que não é um
“plano”, nem um “programa”, nem uma “bíblia” e que, no conjunto, não passa de
uma espécie de “emenda” à política do Governo. Não admira que a direita não
gostasse (o CDS e o PSD) e que também a esquerda não gostasse (o Bloco e o PCP;
não contando com a UGT e com a CGTP).
O PS ficou sozinho no meio das
querelas portuguesas, com um arzinho responsável e sabichão, mas terrivelmente
desamparado. Quem vai votar por ele? A direita não, por costume e prudência. A
esquerda não, porque vê nas contorções de Costa uma segunda “evolução na
continuidade”, que não muda o essencial e se finge inovadora e salvífica. O
eleitorado, esse, que não sabe interpretar as contas da “comissão” dos sábios
do partido, por enquanto não se manifesta.
O Syriza, demonstrando a futilidade da intimidação e do escândalo, fez bem ao dr. António Costa. O PS, como um bom aluno, um dos melhores da classe, jura agora respeitar os compromissos que Portugal tomou e, principalmente, os credores da sua imensa dívida — com a Europa e os mercados não se brinca. Mas, respeitando a autoridade, não lhe sobra grande espaço para promover o crescimento ou para aliviar a vária miséria dos portugueses. Depois de muito anseio e algumas voltinhas, Costa acabou por engolir a receita tradicional: “aliviar” a crise, prolongando por mais tempo a austeridade. Isto evidentemente não traz, no imediato, um especial alívio ao português comum: e — pior ainda — não garante que o alívio de hoje não seja amanhã o princípio de um novo desastre.
De qualquer maneira, o PS nem
nesta sua versão respeitosa se consegue libertar dos seus velhos vícios.
Primeiro, o de tratar o dinheiro do contribuinte como se ele nascesse do chão:
falando muito do “capitalismo de casino”, o que ele propõe é um “socialismo de
casino”. Aumenta as despesas e corta as receitas, e a diferença pagará — com a
maior facilidade — se por acaso as coisas correrem bem. E, se não correrem,
quem puder que se arranje. Entretanto, os funcionários públicos irão recuperar
rapidamente os seus privilégios, como compete; o funcionalismo não diminuirá; a
TSU desce tanto para trabalhadores como para patrões; o emprego precário vai
diminuir (“penalizando” as empresas com excesso de “rotatividade”); e, em
homenagem ao igualitarismo da seita, o imposto sucessório ressuscita para
perseguir os “ricos”, como eles merecem, e presumivelmente para ajudar a classe
média e animar o investimento. Deus nos perdoe.
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