Jorge Lage |
É uma edição fac-similada e bem
coordenada pelo seu filho, João Pedro Miranda, da Editora Cidade-Berço, de
2015, em que Barroso da Fonte usava o pseudónimo raiano de João Montaño. Tem
uma cruz na capa e a contracapa é a reprodução de uma carta manuscrita de
10SET1966, que lhe endereçou o escritor José Régiojá já doente, três anos antes
de falecer, agradecendo-lhe os livros «Neves e Altura» e «Formas e Sombras» e
diz-lhe: «(…)O meu Amigo tem que dizer e di-lo, - não se acorrente à moda dos
formalismos requintados e ocos. (…) Também lhe aconselharia a leitura dos
nossos grandes poetas e prosadores clássicos (…). De vez em vez, há versos
bastante felizes, versos cheios, nos seus poemas (…)».
João Pedro Miranda, na
«Explicação Prévia», diz que o livro assinala «os 57 anos de poeta de Barroso
da Fonte» Em 2013, a Academia de Letras de Bragança tinha celebrado os 60 anos
de jornalismo, ao lá ser apresentada a obra «Barroso da Fonte: 60 anos de
Jornalismo de causas e casos» e o Município de Montalegre associou-se a esta
longa escrita de anos, agraciando-o com a «Medalha de ouro de mérito cultural».
Na explicação prévia e na nota
biográfica das badanas ficamos a saber que «com 19 anos de idade, doze dos
quais a guardar cabras, já tinha escrito 27 poemas», foi seminarista,
funcionário da EDP, oficial ranger no teatro de guerra de Moçambique, Técnico
Superior, Vereador da Cultura de Guimarães, Director-Geral do Norte da
Comunicação Social, Professor do Ensino Superior e Director do Paço dos Duques
de Bragança – Guimarães, entre imensos cargos. É doutorando da Universidade do
Minho.
É vastíssima a obra escrita deste
ilustríssimo barrosão e montalegrense, que nos abstemos de referir, bem como a
intervenção jornalística de pena assombrosa, nunca fugindo à polémica. Neste
campo bateu-se com sucesso pela naturalidade vimaranense de D. Afonso
Henriques, vergando personalidades e instituições mornas, enquanto outros que
deviam dar a cara pela tradição se encostavam a mesa do poder local
«criminosamente» mudos e quedos.
A sua riquíssima vida de cidadão
interventivo na política, no social e no cultural daria, não para algumas
toscas linhas que vos deixo, mas para um extenso livro.
O «Preâmbulo» dos «Braços duma
Cruz» é assinado pelo João Montaño, tão destemido e de rosto inteiro como
Barroso da Fonte que conhecemos e diz-nos: «acima de tudo amo a lealdade.
Poderia ocultar muitos deste versos censuráveis, (…) aproveito tudo quanto
tenho de bom e mau».
Amigo leitor, se tiver
oportunidade, leia este livro raro, de edição limitada, de belos poemas, dum poeta
«antes quebrar que torcer», podendo ser pedido para ecb@mail.pt .
Jorge Lage
Amarga vida
Noites de amor, de enlevo e de
frescura
Que amortalhais o mundo dos
doentes,
Horas breves da minha
escravatura.
Na foz dos anos desta vida escura
Que já por mim passou, magra e
dolente,
Contemplo a face sempre
descontente
Do mau viver de triste creatura.
Foram-se os anos meus
incompreendidos,
De insatisfeita dor acumulados,
Ao longo dos meus dias
desmentidos.
E hoje sofro em prantos
porfiados,
O inquieto viver dos foragidos
Que a sorte determina aos
desgraçados.
(João Montaño, pseudónimo de
Barroso da Fonte in «Braços duma Cruz»)
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