domingo, 15 de março de 2015

Funcho

Funcho

Caros Colegas!
Tomo a liberdade de vos enviar mais um texto simples e interessante sobre as propriedades do «Funcho» e que na minha região se chama «Fiolho».
Tenho saudades de comer uns chícharros cozidos com fiolho que a minha mãe cozinhava no pote de ferro, ao lume crepitante da lareira. Regado com azeite das oliveiras que o meu pai e o meus avós plantaram (ainda é desse azeite que como ou temperamos na cozinha) e acidulado com umas gotas de vinagre de vinho. A acompanhar podiam ser umas azeitonas curadas na tanha, um ovo cozido, uns pimentos ou tomates de vinagre ou um pedaço de alheira assada na grelha à lareira.
Afinal, como a maioria das plantas silvestres têm muitas virtudes.
O texto anexo é do ilustre amigo «Miguel Boieiro».
Saudações,
Jorge Lage


       Assunto: O funcho
         
o protagonista da habitual lição de fitoterapia. É que às 16 horas haverá também uma "oficina" na Biblioteca dos Coruchéus e os participantes irão saborear um "chá" de funcho da minha própria produção.

Abraços!
 
Miguel

A toponímia constitui um manancial precioso de informações de carácter histórico, geológico, etnográfico ou botânico. Em Portugal, são inúmeros os nomes das terras que referenciam a biologia vegetal: Figueira da Foz, Figueiró dos Vinhos, Olivais, Olival Basto, Tojal, Coentral, Sobreira Formosa, Sobral, Zambujal, Zambujeira do Mar, Rosmaninhal, Castanheira, Carrasqueira, Esteval, Sabugal, Pinhal Novo, Arruda dos Vinhos, Alandroal, Freixial, Amoreira, Amendoeira, Pereiro, Malveira, Murtosa, Silvares, Aveleira, Cardal, Faial, Moita, Samouco (?), etc., etc., etc.
Veio-me este considerando à baila porque me lembrei do Funchal, a bela capital da “Pérola do Atlântico” e do provável grande número de pessoas que não a associam ao funcho. Pois é: quando os primeiros colonizadores chegaram ao sítio, havia (e ainda há) grande quantidade de funcho. Naturalmente até já provaram os famosos rebuçados de funcho que se vendem na Madeira, ao mesmo tempo tão saborosos e tão bons para a rouquidão. Mas não nos dispersemos!

O Foeniculum officinale L. pertence à família das Umbelíferas ou apiáceas que, devido à configuração das suas panículas florais, é uma das famílias botânicas mais fáceis de identificar. Trata-se de uma planta aromática com imensas variedades e hibridações (o funcho da Madeira não é exactamente o mesmo do que o continental), sabiamente utilizada desde que a espécie humana surgiu na Terra.
Julga-se que o funcho silvestre é originário da Europa meridional, mas hoje, as suas variegadas espécies cultivam-se em todas as regiões temperadas e subtropicais. Dá-se bem em todos os solos, mas prefere os terrenos calcários e secos bastante ensoalhados.
É herbácea perene com múltiplos caules rectos canelados que podem ir até dois metros de altura, de cor verde mais ao menos azulada (glauca), consoante a secura e a radiação solar. A raiz é esbranquiçada, suculenta, fusiforme e alongada, da grossura de um dedo. As folhas são compridas, alternas e delgadas, terminando em segmentos filiformes flexíveis. As inflorescências formam umbelas de 20 a 50 pequenas flores amarelas, hermafroditas e polinizadas por insectos. Elas geram frutos oblongos ou sementes de forte aroma anisado, que não têm mais do que 8 mm de comprimento e 3 de largura.
Na constituição química do funcho podemos encontrar hidratos de carbono, fibras, cálcio, fósforo, sódio, potássio, magnésio, pró vitamina A, vitamina C e anetol que é um óleo essencial. Anote-se que as percentagens de cada constituinte dependem muito de cada variedade e das condições climatéricas.

O funcho é um legume cotadíssimo em culinária, sendo utilizado de muitas maneiras. Pessoalmente, prefiro uma variedade denominada “funcho de florença” que é mais doce do que aquele que se encontra vulgarmente à beira dos caminhos. As suas folhas perfumam magistralmente a sopa de vegetais e as sementes pulverizadas compõem uma agradável especiaria condimentar.
Existe também uma espécie provida de bolbo que é muito apreciado, recheado e assado, como entrada vegetariana.
A gastronomia chinesa usa o funcho com frequência, mas são os italianos os grandes mestres da culinária do funcho.
Naturalmente que, como planta provida de óleo essencial fortemente aromático, também a perfumaria tira partido das várias espécies de “Foeniculum”.

Sob o ponto de vista medicinal, o funcho é referido como anti espasmódico, aperitivo, digestivo, emenagogo, expectorante, galactagogo, tónico, vermífugo e vulnerário. Por isso, é indicado para tratar aerofagias, bronquites, diarreias, frigidez, impotência, falta de lactação, meteorismo, obesidade, rouquidão e tosses.

 Algumas receitas:
Para gases intestinais – cozimento de 30g de sementes num litro de água. Beber o “chá” a seguir às refeições;

Para a bronquite – infuso, durante cinco minutos, de 50g de folhas secas num litro de água a ferver. Beber duas chávenas por dia;

Para aumentar a secreção do leite materno – infuso, durante 10 minutos, de 30g de sementes num litro de água a ferver. Beber quatro chávenas diariamente.


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