Faz pena assistir ao naufrágio de
um homem em quem os portugueses passageiramente confiaram.
António Costa deu uma entrevista
à televisão que veio confirmar o pior sobre a vacuidade e as fantasias do
Partido Socialista. A culpa não é dele.
Em si próprio, o socialismo não
significa nada: não tem uma filosofia, não tem uma doutrina, não tem uma estratégia
universal ou local. Nada do que Costa disse é particularmente socialista, no
sentido em que não poderia ser dito, por exemplo, por Passos Coelho. O PS não
pára de protestar contra o “pensamento” único. Mas, no fundo, está reduzido
como a Direita a defender uma democracia liberal (multiculturalista), com o
apêndice do Estado Social. Tudo o que o distingue é um sentimento vago (embora
injustificado) de que sofre mais com a pobreza e a exclusão; e de que a direita
não se importa com o destino do povo desprotegido.
Mas, na verdade, o que separa
Costa de Passos Coelho é simplesmente a questão da política de desenvolvimento,
em que as duas partes se iludem com o mesmo fervor e se perdem na mesma
irrelevância. Tirando a má-fé, a que por situação e profissão em geral não
escapam, acabam ambas num vácuo, que meia dúzia de tecnocratas se esforçam por
disfarçar com uma conversa esotérica para iniciados. Ainda por cima, a “zona
euro”, como já abundantemente se provou, favorece os fortes e conserva os
fracos na usual miséria. Paul Krugman, de que a esquerda tanto gosta, ganhou um
prémio Nobel por explicar essa evidência. Na Europa de hoje, Portugal, como o
sul de Itália (o antiquíssimo Mezzogiorno), será perpetuamente uma região
esfolada e desprezada, sem esperança de regeneração.
Não admira por isso que, na
ausência de uma clara concepção do Estado e do seu papel e de uma clara visão
do estatuto e possibilidades de Portugal na Europa, António Costa reverta a
ilusões, sem fundamento nem desculpa. No plano doméstico, à velhíssima crença
de que a educação – e a formação – contribuem para o crescimento económico: uma
tese desacreditada desde o princípio do século XX. E, no plano externo, à
estranhíssima ideia de que os beneficiários da “zona euro” acabarão voluntariamente
ou com alguma chantagem por reduzir os seus privilégios por amor aos pequenos
países de que eles neste momento tiram a sua prosperidade e o seu equilíbrio.
António Costa ainda julga que irá negociar o nosso desastroso estatuto. Mas
ninguém irá negociar com ele. As coisas são o que são; e faz pena assistir ao
naufrágio de um homem em quem os portugueses passageiramente confiaram.
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