sábado, 21 de fevereiro de 2015

A Grécia e Portugal

O Massacre de Chios - Delacroix


Que Portugal não é a Grécia em relação à situação presente – cumprir com o programa de ajustamento, está à vista de todos. Só os tolos não vêem.
Mas será que Portugal não é a Grécia?
Tomemos como exemplo a história recente. No inicio do século XX, todas as monarquias parlamentares do sul da Europa, se encontravam com um atraso de décadas em relação ao resto do continente. Eram sociedades rurais, pouco industrializadas, onde os proprietários imobiliários, com o apoio da Igreja e do Exército, detinham o poder. Não é difícil de concluir que, nestas condições, os regimes republicanos (entre 1910-1930), tivessem dado rapidamente lugar a ditaduras militares, apoiadas pelas velhas estruturas. Não sendo fascistas nem nazis, sobreviveram À Segunda Guerra Mundial.
Neste contexto apontam-se como exemplos, os países da Europa Meridional, principalmente Portugal, Espanha e Grécia. Deixemos a Espanha em paz, debrucemo-nos sobre a Grécia e Portugal.
Portugal rompe com a monarquia, depois do assassinato de Dom Carlos em 1908. A Republica é implantada a cinco de Outubro de 1910. As greves, os golpes de Estado, os assassinatos, a balbúrdia, levaram a que Oliveira Salazar iniciasse uma ditadura prolongada, depois da eleição, em 1928, para a presidência da Republica do General Carmona.
Na Grécia o rei Jorge II abdicou em 1923, e a República foi proclamada em Março de 1934. De 1928 a 1932, o primeiro ministro Venizelos tentou uma via democrática. Mas colidiu com os interesses do Exército. A monarquia foi restaurada em Novembro de 1935, contudo, o poder foi parar às mãos do general  Metaxas, que estabeleceu uma ditadura militar. A partir de 1968 estabeleceu-se o “regime dos coroneis”, com a crise aberta pela demissão do socialista Papendreou, em 1965.
As diferenças, pelos vistos, são residuais. E se percorrermos o período pós ditaduras, verificamos a mesma coisa. E já agora acrescenta-se que em Espanha se passou o mesmo, exactamente da mesma maneira. É claro que tanto a Grécia como a Espanha, mesmo assim, foram mais sangrentas.
Será que isto é obra do acaso? Claro que não. A nossa herança é grega (em primeiro lugar), judaica, romana e cristã (com muitas influências helenísticas). Os gregos influenciaram o mediterrâneo, e os romanos espalharam a sua cultura pelo império (ao qual pertencia a Hispânia). A Igreja, mais tarde, tratou do resto, e a autoridade dos gregos (dos clássicos, principalmente de Aristóteles) só no século XVII foi posta em causa.
A única desculpa a que a Grécia se pode agarrar, é que o seu estado moderno é recente. Esteve séculos sob o domínio Otomano e quando se tornou independente (1830) sofreu administrativamente dos defeitos otomanos. Ora Portugal a isto não se pode agarrar porque, como nação, é o país mais antigo da Europa, e quando os gregos, como país moderno, se viam “gregos” para funcionar administrativamente, já Portugal tinha cerca de setecentos anos de experiência admnistrativa. E mesmo assim, não deixou de ter os mesmos corruptos, os mesmos vigaristas, os mesmos ladrões, e por aí fora. Os casos recentes de ministros (as) condenados (as) pela Justiça, ilustram bem o que se disse. Como o caso de detenção em edifício prisional de um ex primeiro ministro!
Mais ilustrativo ainda, é o episódio protagonizado pelo rei Dom Pedro V de Portugal, nas suas anotações de margem no livro de Edmond About (A Grécia Contemporânea, c. 1860), que Vasco Pulido Valente trouxe ontem em crónica no jornal Público.
Armando Palavras

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