O Massacre de Chios - Delacroix |
Que
Portugal não é a Grécia em relação à situação presente – cumprir com o programa
de ajustamento, está à vista de todos. Só os tolos não vêem.
Mas será
que Portugal não é a Grécia?
Tomemos
como exemplo a história recente. No inicio do século XX, todas as monarquias
parlamentares do sul da Europa, se encontravam com um atraso de décadas em
relação ao resto do continente. Eram sociedades rurais, pouco industrializadas,
onde os proprietários imobiliários, com o apoio da Igreja e do Exército,
detinham o poder. Não é difícil de concluir que, nestas condições, os regimes
republicanos (entre 1910-1930), tivessem dado rapidamente lugar a ditaduras
militares, apoiadas pelas velhas estruturas. Não sendo fascistas nem nazis,
sobreviveram À Segunda Guerra Mundial.
Neste
contexto apontam-se como exemplos, os países da Europa Meridional,
principalmente Portugal, Espanha e Grécia. Deixemos a Espanha em paz,
debrucemo-nos sobre a Grécia e Portugal.
Portugal
rompe com a monarquia, depois do assassinato de Dom Carlos em 1908. A Republica
é implantada a cinco de Outubro de 1910. As greves, os golpes de Estado, os
assassinatos, a balbúrdia, levaram a que Oliveira Salazar iniciasse uma
ditadura prolongada, depois da eleição, em 1928, para a presidência da
Republica do General Carmona.
Na
Grécia o rei Jorge II abdicou em 1923, e a República foi proclamada em Março de
1934. De 1928 a 1932, o primeiro ministro Venizelos tentou uma via democrática.
Mas colidiu com os interesses do Exército. A monarquia foi restaurada em
Novembro de 1935, contudo, o poder foi parar às mãos do general Metaxas, que estabeleceu uma ditadura
militar. A partir de 1968 estabeleceu-se o “regime dos coroneis”, com a crise
aberta pela demissão do socialista Papendreou, em 1965.
As
diferenças, pelos vistos, são residuais. E se percorrermos o período pós
ditaduras, verificamos a mesma coisa. E já agora acrescenta-se que em Espanha
se passou o mesmo, exactamente da mesma maneira. É claro que tanto a Grécia
como a Espanha, mesmo assim, foram mais sangrentas.
Será que
isto é obra do acaso? Claro que não. A nossa herança é grega (em primeiro
lugar), judaica, romana e cristã (com muitas influências helenísticas). Os
gregos influenciaram o mediterrâneo, e os romanos espalharam a sua cultura pelo
império (ao qual pertencia a Hispânia). A Igreja, mais tarde, tratou do resto,
e a autoridade dos gregos (dos clássicos, principalmente de Aristóteles) só no
século XVII foi posta em causa.
A única
desculpa a que a Grécia se pode agarrar, é que o seu estado moderno é recente.
Esteve séculos sob o domínio Otomano e quando se tornou independente (1830)
sofreu administrativamente dos defeitos otomanos. Ora Portugal a isto não se
pode agarrar porque, como nação, é o país mais antigo da Europa, e quando os
gregos, como país moderno, se viam “gregos” para funcionar administrativamente,
já Portugal tinha cerca de setecentos anos de experiência admnistrativa. E
mesmo assim, não deixou de ter os mesmos corruptos, os mesmos vigaristas, os
mesmos ladrões, e por aí fora. Os casos recentes de ministros (as) condenados
(as) pela Justiça, ilustram bem o que se disse. Como o caso de detenção em edifício
prisional de um ex primeiro ministro!
Mais
ilustrativo ainda, é o episódio protagonizado pelo rei Dom Pedro V de Portugal,
nas suas anotações de margem no livro de Edmond About (A Grécia Contemporânea, c. 1860), que Vasco Pulido Valente trouxe
ontem em crónica no jornal Público.
Armando Palavras
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