segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

De pároco a capelão

Por: Costa Pereira

Abade Guedes
          Meio século são muitos 365 dias, mais o resto. Que postos ao serviço duma causa ou missão merecem ser realçados e reconhecidos por quem desse labor beneficiou. Reporto-me aqui ao Padre Correia Guedes que durante 50 anos paroquiou a freguesia de Vilar de Ferreiros, onde batizou gerações e confortou em vida e na hora de perdê-la a alma de muitos paroquianos seus. Estou a vê-lo nos primeiros meses da sua chegada a Vilar, numa aldeia sem estrada, sem luz elétrica, nem água potável. Paciente, mas inconformado o “ Gigante com coração de pomba” vai de iniciar a batalha contra o marasmo das forças vivas da terra e do concelho.
          Começando por combater a pobreza vizinha com fazer casa dos pobres, e à Caritas pedir apoio alimentar. Seguiu-se o empenho em ver a rede escolar a contemplar todo espaço da freguesia e por isso bateu-se pela criação de um posto escolar em Vila Chã, que conseguiu. No cumprimento do seu múnus sacerdotal e no zelo pelo património paroquial e defesa os direitos da freguesia, muitas vezes foi forçado a perder a paciência e dizer o que não queria.
          Quando hoje vejo pessoas a queixarem-se da crise que se vive, vem-me à memória os primeiros anos em que este zeloso sacerdote veio, como coadjutor do Abade Miranda, para Vilar de Ferreiros; o único meio locomotivo de então eram as pernas, e para atender os fregueses nos diversos lugares, dava mais trabalho aparelhar o cavalo do que ir a pé.  Lembra-me de uma vez, no pino do Verão, ir com ele a Covas levar os “últimos sacramentos” a um enfermo”, deixando o jantar por comer no prato. Outra, de com ele, pelas Richeiras e Caminho Novo, subir ai “Iteiro da Senhora”, onde o vi, e ajudei também, de pano na mão, a limpar o pó das imagens e do altar de Nossa Senhora.
          Os anos passam e pesam sobre quem carrega com eles. Mas o importante é que no trajeto fique rasto, e o abade Correia Guedes, o “ Padre da Senhora da Graça” enquanto pároco de Vilar e presidente da Irmandade  deixou bem visíveis as suas pegadas no santuário do Monte Farinha, com obra admirável e digna de louvor. Desde a sua ordenação em 1957, que o Padre Manuel Joaquim Correia Guedes - natural de Torgueda – Vila Real, onde nasceu 04 de Julho de 1932 -, foi colocado ao serviço do concelho de Mondim de Basto, primeiro em Pardelhas e Campanhó e quatro anos depois em São Pedro de Vilar de Ferreiros, a 12 de Janeiro de 1961. Onde por ter resignado deixou de paroquiar a 04 de Outubro de 2013, mas por considerar esta terra como sua, continua habitar a residência paroquial e a dar apoio ao Arciprestado do Baixo Tâmega, em particular ao novo pároco que o veio substituir.
           Entretanto foi nomeado Capelão da Santa Casa da Misericórdia de Mondim de Basto, onde vai à segunda, quarta e sexta-feira. Por muito que se tente contabilizar as virtudes e serviços prestados ao nosso concelho por este sacerdote, as contas acabaram sempre erradas por insuficiência de gratidão. Que nesta sua mais recente missão, a Misericórdia Divina ajude no levar da cruz de cada dia, não de rastos, mas bem erguida como é timbre deste verdadeiro gigante do amor à Igreja e homens filhos de Deus.



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