sábado, 31 de janeiro de 2015

Francisco Louçã ao "Dinheiro Vivo"


Podemos discordar ideologicamente de alguém, mas isso não tira o discernimento de lhe reconhecer inteligência e pertinência. Francisco Louçã nesta entrevista é pertinente e acertivo, principalmento no que respeita ao Partido Socialista de António Costa. Leiam-na e tirem as conclusões:
Hugo Neutel, Vítor Rodrigues Oliveira (TSF), e Gerardo Santos (Vídeo) |  31/01/2015 | 00:00


O antigo líder do Bloco de Esquerda diz que a vitória do Syriza na Grécia é a melhor coisa que podia ter acontecido à Europa. No plano nacional, Louçã ataca o Livre de Rui Tavares, um partido "sem espaço".
Francisco Louçã é uma voz incontornável da vida pública portuguesa. Fundou o Bloco de Esquerda em 1999 e liderou-o durante o período de ouro do partido, levando-o do estatuto de partido sem representação parlamentar até ao resultado histórico de 2009, altura em que a bancada bloquista teve 16 deputados, tornando-se o quarto maior partido da altura. Saiu da liderança em 2012.

A Europa está agitada com a situação grega. O Syriza, um primo do Bloco de Esquerda, formou um governo de coligação com uma força de direita. A única coisa que estes dois partidos têm em comum é o discurso antiausteridade. Quanto tempo acha que este governo vai aguentar?

O que têm em comum não é só o discurso antiausteridade, é o compromisso com medidas concretas antiausteridade. Ainda não está esgotada a primeira semana e este governo tem provocado um enorme incómodo, porque, ao contrário daquilo a que estamos habituados, começou a cumprir as suas promessas: restaurou o salário mínimo, ou seja, recuperou salários que tinham sido abatidos, parou as privatizações. Vamos ver quanto vai durar. Tem um mandato de quatro anos e uma tarefa dificílima nas próximas semanas e meses. Na situação em que a Grécia está, tudo se decide no curtíssimo prazo. Ou consegue renegociar a dívida para abater os pagamentos que estão a destruir a economia e a sociedade, ou aceita um programa de austeridade, o que é contrário ao seu programa. As opções são muito claras.

Esta coligação com uma força de direita não lhe causa nenhuma inquietação?

É certamente uma força conservadora, vem do principal partido de direita. Tem um discurso errado sobre imigração, mas não tem nada que ver com Le Pen e não tem nada que ver até com alguns extremos que o CDS utilizou em Portugal. O Syriza, não tendo maioria, e tendo que a constituir, tinha duas opções: ou se juntava a partidos do centro, o Pasok ou o #To Potami - e isso teria um custo enorme para o Syriza porque são os dois partidos que pensam que a Grécia tem de aceitar a imposição europeia -, ou procurava um compromisso com um partido que, ao contrário dos outros, nunca aceitou as medidas da troika. Creio que fez uma prova de força ao constituir, em poucas horas, um governo com esta coligação, porque deu uma prova de força perante a Europa, dizendo que a questão da dívida é a questão decisiva, é sobre ela que o governo se vai concentrar, é por ela que faz um acordo, é em nome dela que governa.


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