quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

BIODIVERSIDADE DAS PRADARIAS MARINHAS


 Jorge Lage
Todos os anos em tempo de Natal o ilustríssimo botânico e académico coimbrão, Prof. Jorge Paiva, edita um postal de «Boas-festas» bilingue, aproveitando o espaço gráfico para dar a amigos portugueses e estrangeiros uma lição e enviar uma mensagem intemporal. Além de o ter como conselheiro nas dúvidas fitológicas quando escrevo, considero-o de «Missionário da Biodiversidade».
Por um lado, é requisitado, várias vezes por ano, pela comunidade científica para estudar novos ecossistemas ou outros ameaçados em todo o mundo.
Em Portugal, pelos políticos, é quase desconhecido ou ignorado. Só assim se explica que nunca tenha sido destacada a sua obra.
Mas é venerado pelos Professores e Alunos que se preocupam com a biodiversidade, sobretudo com o Ambiente e Floresta. Desloca-se a qualquer Escola do país e nem o bilhete de comboio aceita que lhe paguem.
Das várias missões científicas sobre a biodiversidade marinha, este ano o tema das Boas-Festas é a «Biodiversidade das Pradarias Marinhas» e que partilho com os amigos leitores:
«A vida começou na água há cerca de 35 biliões de anos. As plantas e os animais, ao saírem desse meio, para sobreviverem no meio terrestre, evoluíram para seres vasculares. As plantas vasculares marinhas imersas evoluíram de antófitas (plantas com flor) terrestres por re-adaptação à vida aquática, há cerca de 100 milhões de anos. Assim, todas estas plantas vasculares marinhas imersas (cerca de 60 espécies em todo o globo) são monocotiledóneas herbáceas, vivazes, com um rizoma horizontal (raramente lenhoso), rastejante, ramificado, não muito profundo, com nós de onde despontam raízes e caules curtos com fascículos de folhas ou caules longos com folhas, sendo estas capiliformes, lineares ou alongadas (raramente laminares) e achatadas, arredondadas no ápice. As flores são nuas ou com perianto indiferenciado (tépalas), assim como os frutos são imersos e a polinização é hidrofílica. Têm uma grande relevância ecológica, principalmente nos ecossistemas costeiros tropicais e subtropicais de substracto sedimentar (lodoso ou arenoso), por vezes rochoso (frequentemente coralígeno). Estando Portugal em parte incluído na Região Mediterrânica, não é de estranhar que, dos géneros de monocotiledóneas marinhas que ocorrem no Mediterrâneo (Posidónia, Cymodocea, Zostera e, em águas salobras, Ruppia, Zannichellia e Potamogeton, ocorrendo ainda, introduzido, o género tropical Halophila), estejam assinaladas para as nossas costas algumas espécies (11) destes géneros, pertencentes a 6 famílias.
Nas regiões tropicais, com águas mais quentes e luminosidade mais intensa, e no Hemisfério Sul existe uma maior diversidade de espécies, até de outros géneros como, Althenia Lepilaena, Halodule, Syringodium, Thalassia, Thalassodendron, Phyllospadix e Amphibolis, um género unicamente dos mares australianos.
Nestas pradarias marinhas, como não podia deixar de ser, ocorre, também, uma grande quantidade de plantas não vasculares, as algas castanhas, vermelhas e verdes.
Estas plantas (algas e vasculares), por serem fotossintéticas, são relevantes produtoras primárias de biomassa, constituindo, por isso, a base das cadeias tróficas destas pradarias marinhas. Assim, observam-se miríades de pequenos seres vivos que se alimentam delas, desde peixes herbívoros a imensos moluscos e seres microscópicos e como é expectável, outros animais que se alimentam destes herbívoros. São pois, ecossistemas de elevada biodiversidade e a sua preservação é extraordinariamente relevante para a riqueza piscícola  de qualquer país com litoral marinho, pois, tal como os sapais e os mangais, são relevantes “maternidades” e “berçários” da vida marinha. Nos trópicos. Até há duas espécies de mamíferos marinhos que se alimentam destas ervas, o manatim (Trichechus senegalensis), na África Ocidental, e o dugongue (Dugong dugong), na África Oriental e costas do Pacífico.
Infelizmente, as pradarias marinhas, por serem ecossistemas imersos, são, praticamente, desconhecidos, até dos que vivem da pescaria, que, frequentemente as destroem com as redes de pesca de arrasto.
Que a época festiva do final do ano ilumine a consciência humana para a preservação das pradarias marinhas».

O meu cartão de Boas-Festas termina: «Para o Amigo Jorge Lage, os votos de Feliz Natal – Próspero Ano Novo, com elevada estima e amizade do Jorge Paiva».

Nota: O texto apesar de escrito com grande clareza utiliza algumas palavras mais técnicas. O que não podia deixar de ser, porque este seu cartão/lição de biodiversidade sobre as pradarias marinhas se dirige a muita da comunidade científica internacional. Da nossa parte entendemos que é preciso conhecer para se preservar e daí a partilha que faço com amigo leitor e que, também, correrá mundo.

 Jorge Lage


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