Jorge Lage |
Por um lado, é requisitado, várias vezes por ano, pela comunidade
científica para estudar novos ecossistemas ou outros ameaçados em todo o mundo.
Em Portugal, pelos políticos, é quase desconhecido ou ignorado. Só assim se
explica que nunca tenha sido destacada a sua obra.
Mas é venerado pelos Professores e Alunos que se preocupam com a
biodiversidade, sobretudo com o Ambiente e Floresta. Desloca-se a qualquer
Escola do país e nem o bilhete de comboio aceita que lhe paguem.
Das várias missões científicas sobre a biodiversidade marinha, este ano o
tema das Boas-Festas é a «Biodiversidade das Pradarias Marinhas» e que partilho
com os amigos leitores:
«A vida começou na água há cerca de 35 biliões de anos. As plantas e os
animais, ao saírem desse meio, para sobreviverem no meio terrestre, evoluíram
para seres vasculares. As plantas vasculares marinhas imersas evoluíram de
antófitas (plantas com flor) terrestres por re-adaptação à vida aquática, há
cerca de 100 milhões de anos. Assim, todas estas plantas vasculares marinhas
imersas (cerca de 60 espécies em todo o globo) são monocotiledóneas herbáceas,
vivazes, com um rizoma horizontal (raramente lenhoso), rastejante, ramificado,
não muito profundo, com nós de onde despontam raízes e caules curtos com
fascículos de folhas ou caules longos com folhas, sendo estas capiliformes,
lineares ou alongadas (raramente laminares) e achatadas, arredondadas no ápice.
As flores são nuas ou com perianto indiferenciado (tépalas), assim como os
frutos são imersos e a polinização é hidrofílica. Têm uma grande relevância
ecológica, principalmente nos ecossistemas costeiros tropicais e subtropicais
de substracto sedimentar (lodoso ou arenoso), por vezes rochoso (frequentemente
coralígeno). Estando Portugal em parte incluído na Região Mediterrânica, não é
de estranhar que, dos géneros de monocotiledóneas marinhas que ocorrem no
Mediterrâneo (Posidónia, Cymodocea,
Zostera e, em águas salobras, Ruppia, Zannichellia e Potamogeton, ocorrendo
ainda, introduzido, o género tropical Halophila), estejam assinaladas para
as nossas costas algumas espécies (11) destes géneros, pertencentes a 6
famílias.
Nas regiões tropicais, com águas mais quentes e luminosidade mais intensa,
e no Hemisfério Sul existe uma maior diversidade de espécies, até de outros
géneros como, Althenia Lepilaena,
Halodule, Syringodium, Thalassia, Thalassodendron, Phyllospadix e Amphibolis,
um género unicamente dos mares australianos.
Nestas pradarias marinhas, como não podia deixar de ser, ocorre, também,
uma grande quantidade de plantas não vasculares, as algas castanhas, vermelhas
e verdes.
Estas plantas (algas e vasculares), por serem fotossintéticas, são
relevantes produtoras primárias de biomassa, constituindo, por isso, a base das
cadeias tróficas destas pradarias marinhas. Assim, observam-se miríades de
pequenos seres vivos que se alimentam delas, desde peixes herbívoros a imensos
moluscos e seres microscópicos e como é expectável, outros animais que se
alimentam destes herbívoros. São pois, ecossistemas de elevada biodiversidade e
a sua preservação é extraordinariamente relevante para a riqueza piscícola de qualquer país com litoral marinho, pois,
tal como os sapais e os mangais, são relevantes “maternidades” e “berçários” da
vida marinha. Nos trópicos. Até há duas espécies de mamíferos marinhos que se
alimentam destas ervas, o manatim (Trichechus senegalensis), na África
Ocidental, e o dugongue (Dugong dugong), na África Oriental e costas do
Pacífico.
Infelizmente, as pradarias marinhas, por serem ecossistemas imersos, são,
praticamente, desconhecidos, até dos que vivem da pescaria, que, frequentemente
as destroem com as redes de pesca de arrasto.
Que a época festiva do final
do ano ilumine a consciência humana para a preservação das pradarias marinhas».
O meu cartão de Boas-Festas termina: «Para
o Amigo Jorge Lage, os votos de Feliz Natal – Próspero Ano Novo, com elevada
estima e amizade do Jorge Paiva».
Nota: O texto apesar de escrito com grande clareza utiliza algumas palavras
mais técnicas. O que não podia deixar de ser, porque este seu cartão/lição de
biodiversidade sobre as pradarias marinhas se dirige a muita da comunidade
científica internacional. Da nossa parte entendemos que é preciso conhecer para
se preservar e daí a partilha que faço com amigo leitor e que, também, correrá
mundo.
Jorge Lage
Jorge Lage
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