John
Stuart Mill escreveu dois livros famosos:
The Subjection of Women (1869) – que se transformou num dos
panfletos mais extraordinários do movimento feminista – e On Liberty
(1859), uma apologia da liberdade do individuo. On Liberty, traduzido
para português, umas vezes, Sobre a Liberdade, outras Da Liberdade,
é muito conhecido, mas muito pouco lido. Sem razão alguma, pois tem cerca de
200 páginas e está escrito com grande simplicidade. Além do mais, são traduções
baratas. A nossa custou-nos 1,5 euros!
Mill
aprendeu Grego aos três anos. Aos cinco lia os clássicos e com seis dominava os
fundamentos da Geometria e da Álgebra. Contudo, teve a particularidade (e
capacidade) de escrever de forma simples temas complicados. Aliás, o que
escreve em Da Liberdade, não passa de “banalidades”. Ideias comuns, que
qualquer mortal poderia ter escrito. Todavia, este ensaio é hoje um clássico do
Liberalismo. Trata-se da defesa de liberdades burguesas: de consciência, de
opinião, de expressão e de acção.
A
principal tese da obra é a seguinte: a liberdade do individuo é absoluta em
todos os âmbitos em que o seu pensamento, palavra e obra não prejudiquem
terceiros. As leis do Estado, bem como o juizo moral da sociedade, não podem
limitar a liberdade do individuo.
Jamais
um pensador foi tão longe como Mill neste “pequeno” livro.
Estaremos
sempre com Mill. Qualquer baboseira pode ser dita no campo da liberdade de
expressão. Criticar um individuo, uma instituição, uma raça, uma religião, ou o
quer que seja, é próprio da natureza intelectual humana. Desde que essa critica
não prejudique seja quem for. Ou seja, criticar uma religião é aceitável, o que
não é aceitável é incitar ao ódio. Porque incitar ao ódio é crime. Por outras
palavras. Como individuos temos a liberdade (e o direito) de proferir
baboseiras como: os muçulmanos,(o mesmo para cristãos, judeus, católicos e por
aí adiante) são patifes. O que não podemos dizer é: por essa razão devem ser
todos mortos. Porque, neste caso, estamos a incitar ao ódio. Estamos a cometer
um crime. Estamos a prejudicar terceiros.
Posto
isto, pergunta-se: Em que é que os cartonistas do Charlie prejudicaram os
muçulmanos? Em nada. Limitaram-se, dentro daquilo que é a liberdade de
expressão, a satirizar o representante
da sua religião. Não incitaram ninguém ao ódio. Pelo contrário, os terroristas
que os assassinaram, prejudicaram terceiros, e até quartos e quintos: a eles,
cartonistas, às esposas e filhos dos mesmos.
A
civilização ocidental tem uma tradição longa de liberdade de expressão. Todas
as tragédias gregas são formas de critica (aos homens e aos deuses). Assim como as comédias. Aristófanes
foi dos mais sarcásticos. Não poupou ninguém. E, porém, não foi assassinado por
isso. Muito antes, já Confúcio, na China, criticava os poderes. E apelava para
os clássicos antigos. De há mil anos!
Armando
Palavras
Actualizado a 21 de Janeiro, 2014
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