quinta-feira, 19 de maio de 2011

Como Organizar Portugal

Fernando Pessoa

Cartaz de promoção de autosuficiência (1942)

A actual situação de bancarrota em que o País se afundou em seis anos, não é situação nova como é do domínio público. O que é novo é a gravidade do problema. Esta bancarrota é muitíssimo mais gravosa que as outras. Sabemos que além desta, na época democrática já por duas vezes o FMI tinha intervindo na reestruturação do País. No fundo é o retrato da elite politica nacional que nos tem “governado”[1]. E os resquícios de um passado não muito longínquo. Finais do século XIX. Nessa altura um grupo de intelectuais como Guerra Junqueiro, Eça de Queirós ou Ramalho Urtigão, souberam elevar a voz para retratar o estado da Nação. O próprio Fernando Pessoa, já em pleno século XX, lançou a público um pequeno opúsculo[2], publicado na Acção[3] e intitulava-se precisamente Como Organizar Portugal.

Cartaz de promoção de autosuficiência (1942)

Abre com uma apreciação sobre a Alemanha. A sua força provinha da sua organização, diz o poeta. Adiante, critica as ideias da Revolução Francesa e dos bolchevistas. Acrescenta uma teorização sobre a organização social de um Estado, principalmente sobre Portugal. Distingue as três partes dessa teorização[4] relembrando as obras de Aristóteles (A Política) e de Maquiavel (O Príncipe), não esquecendo (na segunda parte) de alertar para que os lugares nessa organização devem ser ocupados pelos mais competentes.

Cartaz de promoção de autosuficiência (1942)

Cartaz de promoção do consumo da fruta

Analisa dois tipos de forças: a progressiva e a conservadora. E é no equilíbrio entre ambas que “reside a vitalidade de uma Nação”. Da perda do mesmo resultam a quebra da coesão social, baixando a vitalidade nacional e a desnacionalização. Acontecendo isto, as forças progressivas tornam-se “servilistas e idiotas” e o “País cai na anarquia”. E as forças conservadoras estagnam a Nação. A sociedade entra então em decadência.
A solução então, para Pessoa, é uma transformação profissional. “E como se trata de um país atrasado, e todos os países atrasados são predominantemente agrícolas, é evidente que a única transformação profissional a fazer, e que preenche todas as condições exigidas, é a industrialização sistemática do país”.
Isto foi escrito há 92 anos! Em 1919!


[1]Portugal possui, actualmente, a pior dívida pública dos últimos 160 anos (mesmo não incluindo PPPs e empresas públicas); pior taxa de desemprego dos últimos 90 anos (duplicou em 6 anos); maior dívida externa dos últimos 120 anos; dívida externa bruta em 1995 de 40% do PIB; dívida externa bruta em 2010 de 230% do PIB; dívida externa líquida em 1995 de 10% do PIB; dívida externa líquida em 2010 de 110% do PIB; dívida pública em 2005 de 82.000.000.000€; dívida pública em 2010 de 170.000.000.000€; nos últimos 10 anos, Portugal tem sido o 3º país do mundo com pior crescimento económico; nos últimos 10 anos tem sido o 4º país do mundo com maior contracção de dívida; em 2011 só Portugal, Grécia e Costa do Marfim estarão em recessão no Mundo; em 2012Portugal estará em recessão no Mundo (estes dados foram-nos fornecidos via Internet. Normalmente não os usamos por não garantirem total fiabilidade. Mas desta vez a fonte é segura).
[2] Agora reeditado pela Ática.
[3] Nº I, Lisboa, 1919.
[4] Limita-se ao estudo das sociedades civilizadas.

2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Como já é hábito, de há longos anos para cá, todos os políticos se embeiçam pelo POTE. Uns comem mais que outros, mas todos comem. Como diz Pepetela "você até pode ser o homem mais sério da zona, mas quando entra na política fica aldrabão", só assim sobrevive. O problema deste país, é continuar a ter crédito, por sinal sempre muito interessado e solícito de todos aqueles que continuam a SUBJUGAR-NOS. Sem excepção continuamos a baixar a CORNADURA... e se continuarmos impávidos e serenos, iremos continuar a ser ENGANADOS! Muito bom blogue, parabéns!

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