Aqueles que se embriagaram com o poder e se aproveitaram dele, mesmo por um ano, nunca renunciarão a ele de livre vontade.
Edmund Burke
Paul Joseph Goebbels |
O nazismo, nos doze anos que durou, trouxe a morte e sofrimento indescritível a milhões de pessoas. Cerca de 50 milhões de seres humanos perderam a vida no conflito desencadeado por Hitler e pelo grupo de vagabundos que o rodearam e idolatraram.
No início da década de 20, o Capitão Truman Smith[1] informava sobre a capacidade extraordinária de Hitler para “influenciar audiências”. Os americanos, porém, não lhe deram ouvidos. A Truman e a Murphy, cônsul na Alemanha. No Reino Unido o único a compreender o perigo dos nazis foi Winston Churchill. Também lhe não deram ouvidos. Neville Chamberlain, à época primeiro-ministro, acreditava na negociação, na diplomacia, Hitler com passado obscuro, acreditava na intimidação.
Quando Chamberlain regressou da tristemente célebre Conferência de Munique, em 1938, com a assinatura do chanceler alemão, num documento que garantia “ a paz no nosso tempo”, os londrinos cantaram-lhe loas à porta da residência: For He Is a Jolly Good Fellow.
Churchill lamentava: “ A Grã-bretanha e a França tinham de escolher entre a guerra e a desonra. Escolheram a desonra. Terão a guerra”. E tiveram. E muitos dos londrinos que cantaram loas a Chamberlain, viram as bombas caírem-lhe em cima da cabeça.
Nenhum outro mortal afectou a vida de tantos seres humanos como Hitler. Que subiu ao poder por via constitucional e escolhido pelo Povo Alemão. Mas não o fez sozinho. Teve a ajuda de um grupo de homens implacáveis que constituía o seu círculo íntimo. Um grupo sinistro que antes vadiava pelas ruas de Berlim. Indivíduos bêbados e que se dedicavam a práticas homossexuais[2].
Estes inadaptados, reunidos em torno de Hitler e do seu partido Nacional – Socialista, iriam formar uma fraternidade sinistra que atraiu apoiantes como se fosse um íman. E para isso contaram com Paul Joseph Goebbels, o chefe da propaganda. Este Doutor em filosofia, considerado o “intelectual do nazismo”, foi um vagabundo académico, rejeitado pelos editores, tinha uma estatura quase anã, e era aleijado de uma perna. Manipulador, “Pinóquio”, ingrato e vaidoso, adquiriu um poder sem precedentes para dominar editores e jornalistas, com a lei de imprensa de 4 de Outubro de 1933. Renunciou ao catolicismo mas recebeu várias bolsas católicas para conseguir estudar.
Com Goebbels na propaganda o Nacional-socialismo alastrou-se por toda a Alemanha. Enquanto se pediam sacrifícios à população, este círculo de aduladores abusava do privilégio, da autoridade, da corrupção e do crime vulgar.
Hitler e o seu círculo intímo e sinistro em 1933. |
A máquina da propaganda foi de tal monta que mesmo no fim da guerra, no momento da derrocada, o povo Alemão não acreditava que fosse possível que os nacional-socialistas tivessem praticado os horrores que se conhecem. Quando os americanos entraram na Alemanha[3] viram-se na obrigação de transportar das cidades próximas, camiões cheios de cidadãos comuns para que observassem, com os próprios olhos, os horrendos factos dos fornos crematórios existentes nos campos de concentração. Só observando in loco passaram a acreditar que tinham dado o seu voto a um monstro!
Mesmo os intelectuais, cidadãos esclarecidos, pasmaram com os factos. Raymond Aron[4] e Günter Grass[5] são dois desses exemplos. O primeiro, nas suas Memórias diz: as câmaras de gás, o assassinato industrial de seres humanos, não, confesso, não os imaginei e, como não os podia imaginar, não soube deles. O segundo afirma: (…) por muito que a missão pedagógica dos Americanos nos obrigasse a ver aquelas imagens documentais a nós, que tínhamos dezassete, dezoito anos, tinha uma só resposta, dita e não dita, como consequência, mas de igual modo inabalável: Nunca os Alemães poderiam ter feito, jamais fizeram uma coisa destas [referindo-se claro está, a Treblinka, Sobibór e Auschwitz]. Nas palavras de Hannah Arendt[6]: monstruosidades que à partida ninguém teria julgado possíveis.
E isto porque a máquina da propaganda nacional-socialista funcionou até ao fim.
Hitler foi hábil e manipulador. Soube capitalizar o medo associado à fragilidade humana. Foi astuto. Só quando atingiu o topo, enganando o eleitorado que o escolheu, abandonou o civismo fingido. E, como comenta Robert E. Conot no seu livro bem documentado, Justice at Nuremberg, “não nos esqueçamos que Hitler aproveitou a liberdade que lhe fora concedida pela Constituição de Weimar para destruir a república alemã”.
À fraternidade supra juntou-se o poder do dinheiro. Os nacional-socialistas eram incomparáveis na angariação de fundos. E tiveram o apoio financeiro dos magnatas alemães: Albert Vögler, Hugo Stinner, Ernest Borsig, August Diehm, George von Schmitzler, August Rosterg e Otto Wolf.
Os principais, contudo, foram Emil Kirdorf, o barão do carvão do Ruhor, Fritz Thyssen, o fundador das Fábricas Unidas do Aço, que contraiu um empréstimo no banco de Roterdão para financiar os nacional-socialistas e, finalmente, Gustav Krupp, o maior produtor de armamento, que sugeriu o Fundo Adolf Hitler da Indústria Alemã, para onde foram canalizadas grandes somas dedutíveis nos impostos dos grandes capitalistas, a um ritmo trimestral.
Nota: Em próxima ocasião dedicaremos artigo análogo para o estalinismo e fascismo.
[1] Adido militar ligado à embaixada americana em Berlim.
[2] São numerosos os livros que abordam o tema. A tal propósito cf. MARACIN, Paul R. A Noite das Facas Longas, Texto e Grafia, 2010.
[3] Pois. Não foi o Povo alemão que o derrubou, embora Hitler tenha sido alvo de, pelo menos, um assassinato movido pelos alemães (que ficou conhecido por operação Valquíria). Foram os aliados que o derrubaram. O povo alemão estava manipulado e, sobre ele, Hitler e apaniguados exerciam o terror e o medo.
[4] Memórias, Guerra e Paz, 2007
[6] Responsabilidade e Juízo, Dom Quixote, 2007
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