As profecias sobre o fim do Mundo são tão antigas que se perdem no começo dos tempos[1]. As que maior impacto tiveram na nossa moderna civilização, foram as de Nostradamus e as de Malaquias[2]. Porém, desde tempos imemoriais que relatos catastróficos ficaram registados na história ou na mente humana fruto de lendas e mitos que calcorrearam os séculos. Basta lembrarmo-nos, por exemplo, da epopeia de Gilgamesh[3], do dilúvio bíblico, ou mesmo dos relatos lendários da Atlântida. Já próximo de nós, o aparecimento do cometa Halley em 1910, provocou as mais variadas especulações sobre o fim do mundo[4].
Na primeira metade do século passado surgiu um tipo de literatura que, retomando mitos antigos, previa o fim do Mundo para o início deste século. Género literário renascido nas décadas de 60 e 70 e cujas reminiscências retomaram o curso nesta inicial década do século XXI. E profetas modernos são como os grãos de milho.
Immanuel Velikovsky (1895-1979), psiquiatra de origem russa, um génio da ciência diplomado pelas universidades de Moscovo e de Edimbourg, discípulo de Henri Bergson e amigo de Einstein, escreveu entre 1950 e 1979, uma série de obras que perturbaram (e ainda perturbam) profundamente. “Os Mundos em Colisão”, foi o seu mais célebre livro publicado em 1950. Nele afirma que a Terra, no passado relativamente recente, sofreu cataclismos cósmicos. Nomeadamente a entrada do “cometa” Vénus no nosso sistema solar propulsionado por Júpiter. “Les Grands Bouleversements Terrestres”, foi outro livro de Velikovsky com enorme sucesso. Zecharia Sitchin, russo mas a viver nos EUA, especialista em línguas sumérias, em “The End of Days”, “Anunnaki” e “La 12iéme Planète”, aponta para teorias idênticas. Assim como Robert Charroux em “Livre des Secrets trahis”, Anton Parks em “Secret des Etoiles Sombres, “Adam Génesis”, “Testament de la Virge”, René Boulay (Flying Serpents and Dragons), ou David Icke (The biggest Secret, Children of the Matrix).
Teorias fundamentadas, sobretudo, em lendas dos antigos Sumérios, Hindus e Maias[5], ou em narrativas como a do Antigo Testamento. E que têm como pano de fundo o planeta misterioso, Neberu, um planeta situado muito para além de Plutão (descoberto em 1930), de quem os sumérios já haviam afixado a sua órbita! Para estes ficcionistas, passaria pelo interior do nosso sistema solar em 2012, segundo as previsões do calendário Maia, como atesta Alberto Beuttenmüller em 2012 – A Profecia Maia, o que provocaria deformações nas órbitas dos planetas, levando à sua destruição. Ou poderia mesmo entrar em colisão com a Terra.
Apesar das críticas desfavoráveis que à época foram traçadas por cientistas como Carl Sagan, convém, desde já, reter um facto e uma explicação. Quanto ao primeiro, sabemos da possibilidade de um meteorito chocar com a Terra, que possui 170 crateras de impacto. A maior, Vredefort, na África do Sul, tem 300 Km de diâmetro[6]. O problema situa-se em relação à dimensão. Só haverá perigo se tiver determinada dimensão. E esta possibilidade foi constatada pelos astrónomos recentemente, quando em 1994 observaram a desintegração do cometa Shoemaker-Levy 9 sobre Júpiter. A própria lua é constantemente bombardeada. Quanto ao segundo, podemos ficar descansados. David Morisson, célebre astro biólogo da NASA, afirmou a “Les Grands Mystères de l´histoire, Hors Série”[7] que Neberu (ou Nibiru) nunca existiu e sobre a questão do calendário Maia remata: “Les Calendriers ont été inventés pour garder la trace du passage du temps, et non pas pour prédire l’avenir”.
Convém, no entanto, não iludir os factos. Em média, o Sol está a uma distância de 150 milhões de quilómetros da Terra. Numa região que se estende dos 270 milhões até aos 675 milhões de quilómetros para lá do Sol, uma multidão de Asteróides, formam a chamada cintura de Asteróides (com cerca de 2 milhões com mais de 1 Km de diâmetro) que, em tamanho variam desde o grão de areia aos 950 Km de diâmetro do pequeno planeta (anão) Ceres.
Ocasionalmente a orbita de alguns destes asteróides, atravessa a via orbital da Terra. Em média, as colisões com asteróides com cerca de 5 Km de diâmetro ocorrem em ciclos de 10 milhões de anos. Com asteróides de 1 Km todos os milhões de anos, e com 50 m todos os cerca de mil anos. Um asteróide com cerca de 5 a 10 metros explode todos os anos na atmosfera superior com a força equivalente à bomba atómica que foi lançada em Hiroshima[8].
Richard Binzel, especialista do MIT, está actualmente inserido num projecto da NASA que tem em vista a missão Dom Quixote, da ESA, cujo objectivo é atingir o asteróide Apophis, de 270 m (outras fontes indicam dimensões diferentes), que se aproximará muito da Terra em 2029[9]. Pretende-se afastá-lo da órbita terrestre. Contudo, segundo Binzel, “poderá regressar em 2036. A possibilidade de colisão é de uma em 250 mil (outras fontes indicam outras probabilidades)[10]. O cientista diz, no entanto, que estamos preparados para resolver estes casos: através de explosões nucleares ou de mudanças de órbita com naves espaciais colocadas junto dos asteróides. Precisamos, porém, de os conhecer com cerca de 30 anos de antecedência. Se, por ventura houvesse colisão, esta não devastaria o planeta porque a dimensão (270 m ) não o permite, mas causaria danos consideráveis, até mesmo apocalípticos[11].
Devastado teria ficado o planeta, seria mesmo o Fim do Mundo, como refere Christopher Potter em Você está Aqui[12], se em 23 de Março de 1989 o asteróide 4581 Asclepius, de 300 metros de diâmetro, tivesse colidido com a Terra. Passou a um voo rasante de 700.000 Km. Ou seja, passou exactamente onde a Terra estivera seis horas antes. Calcula-se que se tivesse atingido o planeta, a explosão daí resultante teria tido a força de uma bomba do tamanho da de Hiroshima detonada a cada segundo durante 50 anos!
Armando Palavras
[1]cf. Jean-Paul Bourre, A Mensagem dos Profetas, Vega, 2008.
[2]cf. Jorge Blaschke, entre outros, História Oculta da Igreja, ed. Estampa, 2006; Les Grands Mystères des sciences sacrées, nº22, 2008; Eduardo Amarante, Profecias, ed. Apeiron, 2010.
[3] cf. Samuel Noah Kramer, A História começa na Suméria, Europa-América, 1997
[4] cf. Joaquim Fernandes, Halley, Circulo de Leitores, 2010
[5]Que um planeta desconhecido entra no sistema solar em ciclos de 3600 anos. E que o ano 2012 corresponderia ao términus de um desses ciclos.
[6]Aliás, pensa-se que o desaparecimento dos dinossauros há 60 milhões de anos e de 90% das espécies se deva a uma situação destas.
[7] nº 10, 2009.
[8] Um asteróide com alguns 50 metros explodiu sobre o vale do rio Tungusha, na Sibéria, em 1908. Destruiu 2000 quilómetros quadrados de floresta.
[9] Super Interessante, nº 149, 2010.
[10] Sabe-se que o asteróide 1940DA, com 1 km de diâmetro, poderá colidir com a Terra a 16 de Março de 2880. Mas a essa distância, estarão os cientistas aptos para resolver o problema.
Alguns autores chegaram a afirmar que as Aparições de Fátima se relacionavam com o fim do Mundo. A Virgem teria feito avisos nesse sentido: dois desses autores (Louis Picard e Pierre Jovanovic), publicaram dois livros: des Miracles de Notre-Dame de Fátima e Notre-Dame de lÁpocalypse. O tema foi ainda tratado por Jorge Buescu (O Fim do Mundo está próximo? Gradiva, 2007). Outros, apontam para a via dos extraterrestres. Isaac Asimov (Civilizações Extraterrestres, Europa-América), foi um dos pioneiros destas conjecturas, mas não sobre o Fim dos Tempos. Pelo contrário. Foi um escritor sensato e nos últimos quatro capítulos da sua obra, elaborava considerações sensatas sobre hipotéticas civilizações “noutras paragens”.
[11] cf. Les Enigmes du Sacré, Hors-Serie, nº2, Septembre, 2010.
[12] Casa das Letras, 2009.
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