As trapalhadas do “eng.” Sócrates permitem, e inspiram, inúmeras graçolas.
O que o “eng.” Sócrates significou e significa para o país não tem graça.
Alberto Gonçalves OBSERVADOR 19 Jul. 2025
Li que José Sócrates, o popular “engenheiro”, se emocionou
no tribunal ao recordar os 450 mil euros que a mãe lhe dera para estudar em Paris. Compreendo perfeitamente: também me emociono sempre que recordo as vezes em que
a minha mãe me deu 450 mil euros. Foram cerca de zero, mas a verdade é que nunca estudei
em Paris, onde a vida deve ser caríssima para um universitário.
É
fazer as contas, como recomendava o homem que lançou politicamente o “eng.”
Sócrates e hoje lança condenações regulares contra Israel [Acredito
que Guterres, como nós todos, também foi aldrabado!!!].
Primeiro, vamos ignorar os milhões que o “eng.” Sócrates, que
admitiu subsistir em relativa penúria, terá consumido das contas do amigo, fantástico amigo, Carlos
Santos Silva. Depois, houve um empréstimo bancário de 120 mil
euros para patrocinar a estadia parisiense, que segundo fontes
alternativas foi de 150 mil. Por fim, os tais 450 mil euros maternos,
com que o “eng.” Sócrates terá, ou não, pago o empréstimo anterior. No mínimo, os dois anos em França custaram-lhe, ou à pobre (força de
expressão) mãezinha, quase 20 mil euros por mês – e isto com casa graciosamente
fornecida pelo amigo Carlos Santos Silva ou, de acordo com o
Ministério Público, por ele próprio. É
imenso foie gras e
bastante champanhe.
Ainda assim, nada de
especial para quem gastava 18 mil num fim-de-semana em Formentera e,
ao que consta e enquanto primeiro-ministro, 100 mil num par de férias em Veneza e Menorca. Em champanhe
ou Riojas de reserva, a verba dá para uns três comas alcoólicos diários.
E convém não esquecer os jantares das sextas-feiras num restaurante
lisboeta, que juntava o “eng.” Sócrates a fiéis camaradas como os drs.
Galamba e Vieira da Silva, além daquele Silva Pereira, cara e tiques chapados
do “eng.”. O amigo Carlos Santos Silva, que não se sentava à
mesa, recebia a conta com altruísmo, e a conta pesava. É por
isso que há elites e há o povaréu, há
ex-primeiros-ministros e ex-primeiros-ministros: na
semana passada, jantei com Pedro Passos Coelho na capital por 41 euros. Cada um
pagou o seu. Não sei se se nota que permaneço emocionado.
A
emoção que sinto, e que se confunde levianamente com inveja, prende-se
com a minha carência de amigos generosos, que conforme
é obrigação deles financiam habitação decente, refeições de marisco, “vacaciones” e o que
calha. Porém, vou às
lágrimas sobretudo com os recursos da
progenitora do “eng.” Sócrates.
Não são apenas extraordinárias as origens da
fortuna da senhora: mais extraordinária
é a habilidade com que essas origens se alteram no discurso do filho, o filho pródigo e grato e amnésico e emocionado. Ora a
senhora herdara milhões do pai (fortuna que, na sua
desorientação, os procuradores não conseguiram encontrar), ora a
senhora dispunha de prestigiados imóveis (que por coincidência suprema
foram negociados com o amigo Carlos Santos Silva), ora a senhora
possuía móveis prestimosos (sob a forma de um ou dois cofres). Gente
avisada diversifica os investimentos: a
mãe do “eng.” Socrates diversificava as poupanças. E diversificava-as tanto que a determinada altura perdeu-lhes o rasto, já que em telefonema de 2014
escutou-se a dona Adelaide Monteiro confessar-se “depenadinha” e “à rasca”. Dado o
amparo que dedicou ao primogénito, não admira.
Chega, não chega? As trapalhadas do “eng.” Sócrates permitem, e
inspiram, inúmeras graçolas. O que o “eng.”
Sócrates significou e significa para o país não tem graça. Durante
uma eternidade, ele mandou em nós, não por decreto divino ou
golpe de Estado, e sim por livre escolha dos eleitores, que o
quiseram a liderar o governo. E quiseram-no em duas ocasiões, uma
com o maior triunfo da história do PS e a outra em 2009, quando o “caso”
Freeport alimentava há meses razoáveis desconfianças acerca da rectidão do
“animal feroz”.
É lícito, e aconselhável, lembrar que o “eng.”
Sócrates era peça talvez central de uma rede em que se penduravam políticos,
advogados, banqueiros, construtores, empresários e compinchas em geral. Seria
igualmente interessante não esquecer que, no governo, no parlamento e no
partido, centenas e centenas de indivíduos e indivíduas lhe serviram a
mitomania, e o resto, bem para lá das suspeitas e das evidências. Essas
alminhas, que tarde e a péssimas horas tentaram esboçar pureza, não tiveram de
ser cúmplices nos imbróglios que a Justiça investiga para serem cúmplices
do desastre ético, psiquiátrico e económico então em curso. Nem uma
alminha se demitiu a protestar o desastre.
Mas o que impressiona é de facto o
povo, a considerável percentagem do povo que, por um inconcebível período,
acreditou no “eng. Sócrates” à revelia do elementar bom senso, e que, além de
acreditar, ofereceu-lhe promessas de fidelidade, hinos, devoção. E o voto.
[Eu também caí nessa!! Mea culpa! Mas depois estive na
manifestação dos pais e avós da geração milennial, que correu com ele e o
obrigou a ser ele a chamar a troika!!! E convém que ninguém esqueça que FOI ELE
QUE A CHAMOU, já que fora ele que nos lançara na bancarrota que depois tivemos
de pagar!! É que andaram para aí umas vozes a dizer que foi o Passos Coelho que
chamou a troika! Não foi!! Quem nos arranja as bancarrotas é que tem de chamar
quem as cure, sabendo que isso nos vai doer. Como doeu!!!]
Ao longo de seis anos, com uns pozinhos adicionais após a queda,
dois milhões de cidadãos seguiram cegamente os caminhos tortuosos que se
desenhavam na cabeça da criatura, uma criatura de quem qualquer pessoa
equilibrada não aceitaria de borla o proverbial carro usado.
Em
suma, impressiona e assusta a facilidade com que o eng.
Sócrates aldrabou os portugueses.
Melhor
(ou pior): é terrível a facilidade com que os portugueses se
deixaram aldrabar, aliás uma tradição antiga e que não morreu. Muitos
dos que se envergonharam de aclamar um trapaceiro aclamaram sem hesitações os
trapaceiros seguintes. E repetirão a proeza com os próximos. O “eng.” Sócrates foi uma aberração? Não acho, e a
realidade concorda comigo.

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