terça-feira, 8 de outubro de 2024

O REGRESSO ÀS ORIGENS

Por Maria da Graça


( Nota Do  Coordenador)

O REGRESSO ÀS ORIGENS

JOÃO BARROSO DA FONTE escreveu o seu primeiro poema em Fevereiro de 1958, no dia do seu 19ª aniversário: o soneto "Falando à minha dor". Desde aí não mais parou de respirar e viver intensamente a poesia. E este ano de 2015 é um ano "vintage" na sua longa carreira literária. Além de publicar "Braços de Uma Cruz" 1958-1961 ( que esteve esquecido na gaveta durante 53 anos) , foi distinguido com o «Prémio Nacional de Poesia Fernão de Magalhães Gonçalves», atribuído pela Tartaruga Editora para assinalar as bodas de ouro da edição do seu primeiro livro: "Neve e Altura" (1965).

Este volume pretende celebrar esse meio século da estreia em livro. E porquê o título " Poesia, amoras e presunto", interrogar-se-á o leitor. Porque pretende marcar esses 50 anos com um regresso às origens telúricas, mas também literárias, de Barroso da Fonte.

O poeta nasceu na pitoresca aldeia de Codeçoso, pintada na beleza do planalto barrosão, entre a imponente serra do Larouco e o granítico Coto Ferronho. Uma aldeia que lhe recorda a sua longínqua infância, cheia das saborosas e omnipresentes amoras que polvilham a paisagem de cor e onde o presunto é rei, não faltando em nenhuma casa que se preze, comido à lareira, sobre grossas fatias de pão de centeio, naquelas noites frias do inverno transmontano, em que adormecia no escano ao som das conversas e do crepitar do lume. Ou cortado às lascas com um bom vinho fresquinho, naquelas tardes quentes de estio, quando a família e amigos, após meses de ausência, se reencontram e confraternizam animadamente à sombra da nogueira que se ergue, imponente e protectora, na pequena eira da sua casa natal.

Como candidato a biógrafo de Barroso da Fonte, a quem também me ligam laços de sangue, fui incumbido de organizar um volume que assinale a data com a dignidade que merece.

Assim nasce esta antologia de 228 páginas que reúne uma amostra da produção poética de Barroso da Fonte, por ordem cronológica, começando no seu primeiro poema e encerrando com as últimas quadras  populares, que a veia satírica lhe segredou nas caminhadas diárias até ao café.

A obra, que começa com um esclarecedor prefácio de Ernesto Rodrigues, Professor da Universidade de Lisboa, primeiro Presidente da Academia de Letras de Trás-os-Montes e consagrado escritor, divide-se em três partes: "Primeiros Versos", com poemas de "Braços de Uma Cruz", outros inéditos e também publicados em jornais e revistas da sua juventude; "Eu Livro", onde se faz uma recolha dos seus oito livros publicados até 1995; e "Poesia Dispersa", com poemas recentes e quadras populares, cheias de humor mordaz e crítica social, sobretudo versando temas ligados à região de Barroso, como o fumeiro, a Mijareta, o vinho dos mortos e, claro, amoras e presunto.

Tentando estar à altura da tarefa, espero que esta obra consiga reflectir a longa e fértil caminhada poética de Barroso da Fonte. E que o leitor tenha tanto prazer em desfrutá-la como nós a organizá-la.

JOÃO PEDRO MIRANDA

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