sábado, 26 de outubro de 2024

Forte de S. Francisco de Chaves merecia ser lembrado pela morte do seu benemérito António dos Ramos

 

Em 16 de Janeiro de 1989 o Forte de S. Francisco, em Chaves, foi cedido, a título precário, à Câmara local. De acordo com a súmula que se lê na Net, na segunda metade da década de 1970, o imóvel desse Forte foi aproveitado para servir de apoio aos desalojados do Ultramar. O edifício fora classificado como Monumento Nacional pelo Decreto n° 28.536, publicado em 22 de Março de 1938. Durante muitos anos esteve desaproveitado, tendo que ser intervencionado para aquele acolhimento. Em 1957 foi registado na Direção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, quando lhe foram executadas obras de conservação. Diversas etapas de consolidação, limpeza, desobstrução, reparação e reconstrução tiveram lugar nas décadas seguintes.

O Forte remonta ao Convento franciscano com o nome de Convento de Nossa Senhora do Rosário, erguido no início do século XVI. De acordo com uma escritura celebrada com Frei Rodrigo de Morais, em 1446, terá sido o arquiteto Mestre Ioannes de Cibrão que projetou a abóbada do Convento.

No contexto da Guerra da Restauração da independência, reconhecendo-se a importância da posição estratégica da cidade, junto à fronteira, impôs-se a modernização das suas defesas medievais. Visando evitar que as colinas vizinhas fossem ocupadas por baterias de artilharia inimiga, estas posições foram guarnecidas.

Os trabalhos desenvolveram-se sob as ordens do Governador das Armas da Província de Trás-os-Montes, D. Rodrigo de Castro, conde de Mesquitela, entre 1658 e 1662. Os trabalhos de defesa de Chaves foram complementados com a construção de novos panos de muralha ligando o forte aos antigos muros medievais, reforçados ou reconstruídos na ocasião, envolvendo-se os bairros que se haviam expandido extra-muros medievais.

No início do século XIX, quando da Guerra Peninsular, Chaves e suas defesas não estavam em condições de defesa. Após diversos embates com as tropas napoleónicas sob o comando do General Soult, as tropas portuguesas, sob o comando do General Francisco da Silveira Pinto da Fonseca Teixeira, recuaram para pontos estratégicos, deixando a cidade com uma pequena guarnição sob o comando do Tenente-coronel Pizarro. Estas forças, assim como a de milicianos que enfrentou o inimigo, foram aprisionadas e depois libertadas. O Forte de São Francisco foi utilizado como quartel-general dos franceses na ocasião e, nessa qualidade, foi alvo da contra-ofensiva do General Silveira, em Março de 1809. Após seis dias de violentos combates, a guarnição francesa rendeu-se e Chaves foi libertada.

Em 1994 as dependências do forte foram requalificadas como uma unidade hoteleira, empreendimento promovido pela Sociedade Forte de S. Francisco, Hotéis, Ldª, com projeto do Arquiteto Pedro Jalles. Dado o historial deste valioso monumento, o Forte de São Francisco Hotel, inaugurado em 19 de Maio de 1997, encontra-se classificado com quatro estrelas e disponibiliza cinquenta e oito quartos aos visitantes, assim como bar e restaurante, court de ténis, piscina e sauna, entre outros serviços. No início de 2019, o Hotel sofreu um grande conjunto de obras de remodelação e decoração, acrescentando modernidade e conforto sem perder todo o seu contexto histórico.


Em 19/01/1942 nasceu em Vilarelho da Raia, concelho de Chaves, António dos Ramos que chegou ao Brasil em 1959, quando tinha 17 anos. Fundou a firma Ramos Representações Lda, dedicada ao sector das autopeças, e iniciou a carreira de vendedor viajante. Em pouco tempo floresceu a sua parte comercial, a cultural e também a social.

A Casa de Portugal de São Paulo foi uma das suas interferências Lusóficas, culturais e políticas. Praticamente fez daquela instituição luso-brasileira o cérebro da sociedade transfronteiriça.

Em 1960 fundou uma sociedade que chegou aos confins do Brasil. A empresa ramificou-se e, com os irmãos Frederico dos Ramos e João Batista, formaram um império. A fama e bom nome trespassou fronteiras, negociando em todo o enorme país-irmão que logo se rendeu ao seu dinamismo industrial e comercial.

Todos os Presidentes da República cumpriam os seus compromissos, de ida e de volta, com medalhas e medalhões, títulos e afins para engrandecer a Lusofonia. Mário Soares, Cavaco Silva, Sampaio e Marcelo foram oratórios de passagem obrigatória na Casa de Portugal em S. Paulo.

Em 26 de Julho último, a Embaixada de Portugal em Brasília divulgou a mensagem de condolências à Família e aos associados da Casa de Portugal pela morte do grande líder da Portugalidade, o comendador António dos Ramos.

As mais importantes instituições Portuguesas e Brasileiras primaram pelo silêncio, mormente pelas televisões que se atropelam em todos os cantos e recantos de ambos os países. António dos Ramos foi, possivelmente, um dos mais produtivos contribuintes do progresso social.

Escrevo esta nota ao fim do dia em que morreu o nosso cantor Marco Paulo. Merecidamente chorado.

Barroso da Fonte

 

RAMOS, António dos

Nasceu em Vilarelho da Raia, concelho de Chaves, em 19.1.1942. Chegou ao Brasil em 1959, com ape¬nas 17 anos de idade. No ano seguinte (1960) fun¬dou a firma Ramos Repre¬sentações, Lda., na qual iniciou a activida¬de como vendedor ambulante no ramo de peças para automóveis. Três anos depois (1963), fundou com os irmãos: Frederico dos Ramos e João Baptista dos Ramos a Ginjo Auto Peças, Lda., distribuidora de pe¬ças para viaturas auto ligeiras, camiões e tractores, em todo o Brasil. Essa firma man¬tém se hoje e é uma das maiores daquele país, dentro do seu ramo. Aí desempenha o cargo de Director Executivo de Negócios. Entretanto casou com Selene Fátima de Oliveira Ramos, natural de Anadia (Portu¬gal), de quem teve duas filhas: Ana Caro¬lina e Flávia. Em 1985 foi eleito Presidente da Casa de Portugal, em S. Paulo. Desde 1991 é o Presidente do Conselho da Comu¬nidade Portuguesa do Estado de S. Paulo. E em 10.9.1997 foi eleito Presidente do Conselho da Comunidade Portuguesa do Brasil (naquela cidade). É também o Vice- Presidente da Federação das Associações Portuguesas e Luso Brasileiras. Em 1987, aquando da visita do Presidente da Repú¬blica, Mário Soares, ao Brasil foi António dos Ramos condecorado com a Comenda Medalha do Infante Dom Henrique. Nesse mesmo ano foi igualmente condecorado pelo Governo Brasileiro com a Medalha de Honra ao Mérito do Trabalho. Em 1994 a Câmara Municipal de São Paulo atribuiu-lhe o título de cidadão Paulista. Mas não se limita ao Brasil a sua acção. Quis, com os irmãos, homenagear a sua Cidade Mãe, recuperando o histórico Forte de S. Fran¬cisco, fazendo dessa antiga fortaleza uma unidade hoteleira de nível europeu. O acto inaugural, com a presença do Presidente da República, constituiu um acontecimento raro para Chaves e pouco vulgar no país.

(In Dicionário dos Mais Ilustres Transmontanos e Alto Durienses, vol. 1, pág. 514/5, 1998)


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Forte de S. Francisco de Chaves merecia ser lembrado pela morte do seu benemérito António dos Ramos

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