Dia 9 de julho
último, no salão nobre da Câmara de Boticas, foi apresentado um magnífico
volume de 950 páginas, profusamente ilustradas, no formato de 22x28, da autoria
da investigadora Maria Isabel Viçoso, intitulado: Boticas – Escreve a sua
História.
O concelho de
Boticas tem 54 aldeias, distribuídas por dez freguesias. Em 1864 essa parte das
Terras de de Barroso tinha cerca de 9300 pessoas. Até 1950 a população cresceu,
chegando às 13247 almas. Foi esse o período maior em habitantes. Desde aí
passou a descer até aos dias de hoje, rondando as 5500 pessoas.
Atualmente
integra-se na Região do Alto Tâmega e Barroso à qual pertencem, além de Boticas
e de Montalegre (que formam Barroso): Chaves, Ribeira de Pena, Valpaços e Vila
Pouca de Aguiar. Estes seis concelhos somam uma área de aproximadamente 2922
km2. De acordo com os dados dos Censos 2021, do Instituto Nacional de Estatística,
a população residente desses seis concelhos andará pelos 84300 habitantes,
correspondendo, sensivelmente, a 2,4% da população da Região Norte de Portugal.
Segundo os
dados estatísticos nacionais, a atividade agrícola e a agro-industrial, destes
seis concelhos da Comunidade Transmontana, detêm um papel de grande relevo no
panorama económico deste território de baixa densidade. Os recursos endógenos
de destacada qualidade constituem-se como um dos fatores de diferenciação
destes municípios, muitos dos quais com garantia de Denominação de Origem
Protegida e de Indicação Geográfica Protegida, produtos entre os quais se
destacam a carne, o mel, o azeite, a castanha, a batata, o folar, os produtos
de fumeiro e os enchidos, entre outros.
Nos últimos anos o poder político
nacional virou costas às Comunidades regionais do interior profundo. Só abriu
os olhos àqueles e àquilo que podia dar votos. Estas comunidades, mormente
Boticas e Montalegre, encravadas entre montanhas, sempre foram vítimas dos
sonhos dos poderosos. E a democracia não trouxe apenas coisas boas à comunidade
do Alto Tâmega e seus pares. Trouxe também perigosas ameaças.
Os protestos populares contra a
exploração do lítio nestes concelhos, tradicionalmente esquecidos e destinados
ao desaparecimento social, são prova clara de que os seus habitantes sabem
reagir às perfídias hostis daqueles que nos julgam parvos. E o concelho de
Boticas acaba de aparecer no panorama das boas surpresas mais incríveis para
esta narrativa cultural.
Este preâmbulo, com que pretendo
contrastar o desprezo político que a região sofreu ao longo dos 9 séculos de
existência de Portugal, cujo nascimento será comemorado em 2028, traz a esta
tribuna esta grande obra monográfica de Isabel Viçoso, que acaba de ser lançada
em Boticas.
Tão profunda e longínqua investigação
mereceria a presença dos mais reconhecidos filólogos do poder científico
nacional, assim como os mais sonantes canais televisivos, radiofónicos e
internéticos, mas, até ao momento em que escrevo este reparo, não só ignoraram
aquele evento histórico e cultural, como ainda não farejaram esse livro que
merece ser conhecido, propalado e colocado à disposição dos leitores nas
bibliotecas públicas, pelo menos do norte do país.
Maria Isabel Viçoso surpreendeu tudo
e todos
O lançamento da mais completa obra
sobre o concelho de Boticas foi presidido por Fernando Queiroga, presidente
daquele Município, que afirmou tratar-se de “uma referência que versa sobre
a nossa identidade. Existiam algumas publicações sobre o concelho, mas ainda
não se escrevera uma obra assim tão completa” e acrescentou que “o
objetivo é preservar a nossa história, dar a conhecer às pessoas o nosso
património cultural e religioso e servir também para memória futura”.
“Esta obra
reflete o esforço que temos vindo a fazer nos últimos anos, no sentido de
valorizar o património natural, arqueológico e cultural que existe no concelho
de Boticas e que nos surpreende com a sua riqueza todos os dias. Eu que conheço
o concelho todo, há lugares e pormenores que desconhecia completamente”
reforçou o autarca.
Por seu lado, a Autora disse que,
depois da elaboração “acabei por me apaixonar muito mais pelo Município de
Boticas, pelo seu passado e pelo seu valioso presente, desde as suas paisagens
naturais à ancestralidade histórica, à antiguidade clássica da época romana e
sobretudo o património construído e recuperado”.
Após a morte de Júlio Montalvão
Machado, em 2013, Isabel Viçoso assumiu a direcção da revista Aquae Flaviae,
desde o número 46 até ao nº 68 que está em preparação. Além destes 22 números
da revista, neste período, para exemplo, publicou três obras de folêgo, a
saber: A Igreja de Santa Maria Maior; Chaves: percurso de históricas
memórias e História da Misericórdia de Chaves:
500 anos de vida .
A autora é mãe da Sofia, médica em
Guimarães, que lhe deu os dois netinhos: Gabriel e Filipe. Tão afortunada
investigadora apareceu no salão nobre de Boticas com a monografia enciclopédica
mais completa, mais profunda e mais atualizada das autarquias do Alto Tâmega.
Maria Isabel Viçoso gastou os últimos oito anos, mais propícios à convivência
com a família, a interpretar a evolução científica. Esta obra é o resultado de
um vasto trabalho levado a cabo sobre o património histórico, cultural e religioso
do concelho de Boticas.
Boticas, Montalegre e Chaves foram
território do qual proviémos. Mais propriamente da Gallaecia. , por aqui nos
encrespámos: nos socalcos, desfiladeiros e rios embruxados, como o Minho,
Rabagão, o Cávado, e o Tâmega, cujos santuários do paganismo se cruzam nos
contrafortes do Gerês, mais propriamente na Ponte da Misarela que o deus
Larouco batiza, no ventre das «senhorinhas» que os «gervázios» geram.
Maria Isabel
Viçoso, nasceu em Gralhós (Montalegre), estudou em Coimbra e fixou residência
em Chaves. Sempre foi uma Barrosã distinta, quer como docente de Matemática,
quer como cidadã que nunca deixou de ser, liderando as causas mais nobres da
cidade e da região do Alto Tâmega. Sua mãe fora uma Professora distinta, dessa
geração de heróis e heroínas que enfrentaram as carências de toda a natureza.
Atravessou a implantação da República e, dessa mudança alastrou o chamado
Estado Novo que se bateu contra as duas grandes Guerras, contra a peste negra
ou bubónica e contra as novas mudanças ideológicas que em cerca de meio século
gerou cerca de quarenta governos.
O interior do
país, mormente o norte, como Trás-os-Montes, perdeu os jovens mais válidos, uns
pelo recrutamento militar, outros pela emigração, deixaram os campos e, salvo,
um ou outro, cujos pais tinham influência material e social, puderam estudar
para preencherem os lugares do ensino e outros serviços públicos. Isabel
Viçoso, graças aos esforços familiares, conseguiu ser um caso raro e disso
beneficiou a sociedade Flaviense. A filha singrou na área da matemática e, tal
estatuto, permitiu-lhe ser selecionada para ser docente na tele-escola. A
família foi bafejada pelo casamento desta grande Senhora com o Presidente da
Câmara de Boticas que fora seu condiscípulo em Coimbra. Não foi preciso mudar
de residência pela curta distância entre Chaves e Boticas. Ambos conciliaram as
suas vidas profissionais. E quer Chaves quer Boticas beneficiaram esses dois
concelhos. Tanto o Dr. José Joaquim de Sousa Fernandes, quer a Drª Isabel
Viçoso deixaram obra marcante. Este esforço regional, nomeadamente no concerne
ao estudo monográfico traduziu-se no campo bibliografia dos três concelhos que
se circunscrevem entre si.
Fernando
Queiroga que tem vindo a ser um dos sucessores de Sousa Fernandes à frente do
concelho de Boticas afirmou que esta obra pretendia "que soubéssemos e
conhecêssemos a história de Boticas desde a época da pré-história até à
atualidade. O livro dá a conhecer as muitas realidades que tem o concelho, umas
à mostra, outras ainda muito escondidas, porque Boticas é detentora de uma
relevante história. Há aqui factos da história que aconteceu na Europa há
milhares de anos, e encontramos aqui reflexos dessas passagens”.
E Isabel
Viçoso garantiu que “quem ler este livro sabe como viveram há muitos anos
neste território, porque vemos os castros e não sabemos o que aconteceu
naquelas terras, como viveram naquela época. Quem ler esta obra fica a saber um
pouco mais. Porque este livro escreve a sua História” documenta o património
cultural, religioso arquitetónico, paisagístico, etnográfico. É constituído por
três fases, que dão a conhecer de forma detalhada e pormenorizada 54 povoações
que fazem parte do concelho de Boticas. Foram oito anos de fascinante
investigação reveladora da presença deste território em cada um dos períodos da
História da Humanidade».
Confesso que não pudemos estar presente nesta
importante sessão cultural. Só agora nos chegou às mãos este valioso livro se
deve chamar, com verdade e objetividade, um grande livro grande.
Mas voltaremos a falar dele para que seja conhecido
quando, em 24 de Junho de 2028, Portugal celebrar os 900 anos do seu
nascimento, no rescaldo da vitória de D. Afonso Henriques na Batalha de S.
Mamede.
Barroso da Fonte
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