Por MARIA da GRAÇA
Enid
Blyton(1897-1968) foi uma das escritoras mais célebres do século xx.
Apenas a
sua contemporânea Agatha Christie rivalizava com ela em popularidade.
Várias gerações de jovens iniciaram-se na leitura recorrendo às suas obras -
sobretudo nas séries Os Cinco (surgida em 1942), Os Sete
(iniciada em 1947) e Noddy (datada de 1949).
Os verbos
estão no passado porque Blyton tornou-se escritora proscrita.
As suas
obras deixaram de ser editadas ou foram desfiguradas até perderem o sentido
como produto de uma época concreta num contexto específico. Como se esse tempo
jamais tivesse existido. Um tempo em que Enid Blyton era difundida em 90
idiomas e vendeu cerca de oito milhões de exemplares só no Reino Unido. Os
Cinco na Ilha do Tesouro, volume inicial da saga que lhe deu mais
fama, perdura na memória de milhões de pessoas.
Modo
envergonhado de designar práticas censórias. «Claro que emendar livros é
censura», reagiu ao Jornal de Notícias a escritora Alice
Vieira, também especializada em literatura infantil e admiradora confessa de
Enid Blyton.
O The
Telegraph, ao divulgar a notícia em Londres, especificou que os leitores só
terão acesso às obras nas versões originais se fizerem esse pedido formal aos
funcionários. Sendo advertidos, mesmo assim, de que tais versões contêm linguagem
«cada vez mais desactualizada».
Nas
estantes de acesso livre mantêm-se apenas os romances devidamente expurgados.
Cumprindo instruções da Hodder & Stoughton. Surgida em 1868, inicialmente
especializada em obras sobre religião, esta editora decidiu em 2010 examinar à
lupa cada livro de Enid Blyton, descaracterizando-os. Como aconteceu com Os
Habitantes da Árvore Longínqua , de 1946, republicado em 2022 sem
alusão a tarefas domésticas para meninas e a inclusão de prédicas sobre
igualdade de género. Os Cinco também foram à tesoura: «Um
menino pescador de rosto moreno» passou a ter «rosto bronzeado» para evitar
acusações de racismo. «Cala a boca» foi outra expressão banida.
Em 1997,
ano do centenário do seu nascimento, Enid Blyton surgiu estampada em selos
britânicos. Algo que talvez hoje não ocorresse por ser «estereotipada» e
«antiquada», na opinião dos críticos agora tornados censores.
Ela -
ainda a quarta autora mais traduzida no mundo, segundo a UNESCO - talvez não
desse excessiva importância à contestação recente, se ainda vivesse.
Costumava
dizer que só lhe interessavam as opiniões dos leitores até aos 12 anos.
In TUDO É
TABU - Pedro Correia
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