sábado, 31 de agosto de 2024

“O desembarcadouro do inferno”

 

https://www.editora34.com.br/detalhe.asp?id=865
Varlam Chalamov (1907-1982) nasceu em Vologda. Filho de um padre ortodoxo, viveu os seus primeiros 22 anos em liberdade e os quase 20 seguintes como prisioneiro político em Kolimá, uma imensa mina de ouro. A trassa era o caminho que os prisioneiros percorriam para alcançar os diferentes campos dispersos pela taiga. São desertos gelados atravessados pelo rio Kolimá. Dois milhões de quilómetros quadrados a leste do Lena, para os quais foram deportados cerca de dois milhões de prisioneiros entre 1932 e 1957. Tanto Anne Applebaum em Gulag, como Evguenia Guinzbourg, em Le Ciel de La Kolyma, o testemunham.

A este lugar, Varlam chama “o desembarcadouro do inferno” . Num dos seus contos descreve minuciosamente técnicas para conduzir um carrinho de mão, de forma a economizar esforço. Quando os pelotões fuzilavam sem descanso, diz-nos: “Durante meses, de dia como de noite, por ocasião das chamadas da manhã e da noite, foram lidas inúmeras condenações à morte. Com um frio de cinquenta graus negativos, os prisioneiros músicos – de delito comum – tocavam uma marcha antes e depois da leitura de cada ordem. As tochas fumegantes não conseguiam atravessar as trevas e concentravam centenas de olhares nas folhas de papel fino cobertas de gelo em que estavam inscritas as horríveis mensagens.” Nas caves realizavam-se fuzilamentos; espaços onde 50 pessoas ocupavam o lugar de 20 com direito a 200 gramas de pão por dia. 

Nota: 

Em 1990 surgiu uma tradução de José Milhazes, da Relógio D'Água, com apenas 11 contos (119 páginas). Para quando  a traqdução de todos os contos, a exemplo da editora 34, brasileira?


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