sexta-feira, 16 de agosto de 2024

Em nome do Seminário de Gralhas só o Larouco é mais imponente

 

 

A Associação Recreativa e Desportiva de Gralhas esmerou-se para assinalar um primeiro ensaio associativo, a anteceder, na vizinha freguesia de Vilar de Perdizes, o próximo congresso de medicina popular.

Gralhas é uma das mais donairosas freguesias do país barrosão que, há um século atrás, tinha 35 freguesias, e 139 lugares, por onde se estendiam cerca de trinta mil almas. No espaço de um século tudo mudou. O Larouco assistiu a todas as intempéries dos maus tempos, no meio século do Estado Novo, em que escondeu a fome, entre ele e a democracia. E, no outro meio, que trouxe a liberdade, a corrupção, a guerra planetária.

O mês de agosto assumiu a liderança das visitações anuais, aos sítios em que se nasceu. Um mês que tende a desaparecer, à medida em que os dias ficam mais quentes, mais curtos e mais evasivos, no custo de vida que agrava nos: encargos, nas praias, nos casamentos, nas viagens, e em alguns desvarios.

Há 41 anos surgiu uma experiência pagã, cá por estas bandas, subúrbios da segunda mais opulenta altitude serrana do continente. Sabemos todos que o paganismo nasceu com o homem e com ele se prolongará por muitos mais séculos. Este mistério ainda não foi certificado por qualquer doutrina, por mais tentativas que surjam, todas hipotéticas, inatingíveis e fora do alcance dos atuais cientistas.

Em1983 as Terras de Barroso foram surpreendidas com uma espécie de profanismo crónico que, anos antes, quase às escondidas, se revelava em práticas “satânicas”, em gestos grotescos e em formulários míticos que o mais mediático padre Barrosão, Lourenço Fontes, assumiu, no chão histórico de Vilar de Perdizes, paredes meias com mais meia dúzia de freguesias raianas: Gralhas, Stº André, Meixide, Solveira e Meixedo.


O Congresso de Medicina Popular fez de mim um peregrino fiel ao paganismo que, nesse ano de 1983, escancarou as portas, subiu e desceu atalhos e os miradouros raianos, como a mourela, o gerês, os cornos das alturas de Barroso, o ferronho e o moradal. Todos estes montículos adoram o deus Larouco que as bruxas e zangons, pelos séculos dos séculos, ora se afastam, ora se aproximam, deste marco granítico que, dia 15 de Agosto de cada ano, acolhe os habitantes das freguesias da redondeza, que lá sobem esfaimados e descem de barriga cheia. Cada uma destas comunidades terá razões de sobra para delas se escreverem tratados antropológicos, míticos, gastronómicos e outros.

Se falo de Gralhas é para exaltar a dinâmica cultural desta freguesia fronteiriça que, dia 13 de agosto, abriu uma exposição de retratos antigos na sede da Associação Recreativa Desportiva e Sócio-Cultural. Centena e meia de fotografias biográficas, com envolvimento da comunidade, exibidas sob o título: "Quem somos?" e que estiveram patentes até ao fim de semana, junto à igreja paroquial.

Foram dias em que os emigrantes puderam devolver a fraternidade dos tempos do primeiro seminário do distrito de Vila Real, que existiu em Gralhas. Foi em 1921 e até 1924, esse seminário ainda esteve sob a administração da diocese de Braga. Aí recebeu cerca de 20 alunos. Mas foi extinto em 27/02/1925, passando para Poiares da Régua. Só, em 1930, o Seminário de Vila Real começou a receber os primeiros alunos. Nesse 1º ano entraram 21. O 1º foi Abel da Silva Pinheiro Júnior, da Vila de Montalegre; o António Gonçalves da Costa, de Donões, foi o 3º; e João Rodrigues Canedo, da nossa vila, foi o oitavo.

Foi no ano letivo de 1924/25 que Gralhas viu partir dessa simpática freguesia o 1º seminário da diocese de Vila Real.

O autor desta notícia orgulha-se de ter sido aluno de três dos primeiros alunos do seminário de Gralhas. Neste dia 13 de agosto tive o privilégio de conviver, na viagem e em cortesia com o diretor e proprietário da Barrosana, Domingos Chaves, e visitar, em Chaves, um ilustre filho de Santo André que foi oficial miliciano, como subalterno do saudoso capitão Salgueiro Maia. Com a sua invocação regressei, enriquecido e encantado, pelo perfil cívico e bravura patriótica, com que nos deliciou. Afinal, o Professor João Gonçalves Damião, além de ser Barrosão e viver em Chaves, foi docente, em Montalegre e também passou pelo Seminário de Vila Real. Embora lá convivêssemos dois anos, (1960-1962) já dele pouco sabia. Ofereceu-me um livro que tenho andado a ler e que muito me conforta, para os 85 invernos que por mim passaram. Chama-se “Nutrição e Saúde”. Tem 180 páginas com chancela da Chiado Books. Talvez dele possa tirar alguns conselhos práticos para continuarmos a conviver durante mais alguns anos.

Barroso da Fonte


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