A Associação Recreativa
e Desportiva de Gralhas esmerou-se para assinalar um primeiro ensaio
associativo, a anteceder, na vizinha freguesia de Vilar de Perdizes, o próximo
congresso de medicina popular.
Gralhas é uma das mais
donairosas freguesias do país barrosão que, há um século atrás, tinha 35
freguesias, e 139 lugares, por onde se estendiam cerca de trinta mil almas. No
espaço de um século tudo mudou. O Larouco assistiu a todas as intempéries dos
maus tempos, no meio século do Estado Novo, em que escondeu a fome, entre ele e
a democracia. E, no outro meio, que trouxe a liberdade, a corrupção, a guerra
planetária.
O mês de agosto assumiu
a liderança das visitações anuais, aos sítios em que se nasceu. Um mês que
tende a desaparecer, à medida em que os dias ficam mais quentes, mais curtos e
mais evasivos, no custo de vida que agrava nos: encargos, nas praias, nos
casamentos, nas viagens, e em alguns desvarios.
Há 41 anos surgiu uma
experiência pagã, cá por estas bandas, subúrbios da segunda mais opulenta
altitude serrana do continente. Sabemos todos que o paganismo nasceu com o
homem e com ele se prolongará por muitos mais séculos. Este mistério ainda não
foi certificado por qualquer doutrina, por mais tentativas que surjam, todas
hipotéticas, inatingíveis e fora do alcance dos atuais cientistas.
Em1983 as Terras de Barroso foram surpreendidas com uma espécie de profanismo crónico que, anos antes, quase às escondidas, se revelava em práticas “satânicas”, em gestos grotescos e em formulários míticos que o mais mediático padre Barrosão, Lourenço Fontes, assumiu, no chão histórico de Vilar de Perdizes, paredes meias com mais meia dúzia de freguesias raianas: Gralhas, Stº André, Meixide, Solveira e Meixedo.
O Congresso de Medicina
Popular fez de mim um peregrino fiel ao paganismo que, nesse ano de 1983,
escancarou as portas, subiu e desceu atalhos e os miradouros raianos, como a mourela,
o gerês, os cornos das alturas de Barroso, o ferronho e o
moradal. Todos estes montículos adoram o deus Larouco que as bruxas e
zangons, pelos séculos dos séculos, ora se afastam, ora se aproximam, deste
marco granítico que, dia 15 de Agosto de cada ano, acolhe os habitantes das
freguesias da redondeza, que lá sobem esfaimados e descem de barriga cheia.
Cada uma destas comunidades terá razões de sobra para delas se escreverem
tratados antropológicos, míticos, gastronómicos e outros.
Se falo de Gralhas é
para exaltar a dinâmica cultural desta freguesia fronteiriça que, dia 13 de
agosto, abriu uma exposição de retratos antigos na sede da Associação
Recreativa Desportiva e Sócio-Cultural. Centena e meia de fotografias
biográficas, com envolvimento da comunidade, exibidas sob o título: "Quem
somos?" e que estiveram patentes até ao fim de semana, junto à igreja
paroquial.
Foi no ano letivo de
1924/25 que Gralhas viu partir dessa simpática freguesia o 1º seminário da
diocese de Vila Real.
O autor desta notícia
orgulha-se de ter sido aluno de três dos primeiros alunos do seminário de
Gralhas. Neste dia 13 de agosto tive o privilégio de conviver, na viagem e em
cortesia com o diretor e proprietário da Barrosana, Domingos Chaves, e
visitar, em Chaves, um ilustre filho de Santo André que foi oficial miliciano,
como subalterno do saudoso capitão Salgueiro Maia. Com a sua invocação
regressei, enriquecido e encantado, pelo perfil cívico e bravura patriótica,
com que nos deliciou. Afinal, o Professor João Gonçalves Damião, além de ser Barrosão
e viver em Chaves, foi docente, em Montalegre e também passou pelo Seminário de
Vila Real. Embora lá convivêssemos dois anos, (1960-1962) já dele pouco sabia.
Ofereceu-me um livro que tenho andado a ler e que muito me conforta, para os 85
invernos que por mim passaram. Chama-se “Nutrição e Saúde”. Tem 180
páginas com chancela da Chiado Books. Talvez dele possa tirar alguns
conselhos práticos para continuarmos a conviver durante mais alguns anos.
Barroso da Fonte
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