terça-feira, 25 de outubro de 2022

Camilo Castelo Branco em Santo Tirso


JORGE  LAGE


Tive uma agradável surpresa à medida que ia lendo o livro, «Camilo Castelo Branco em Santo Tirso», de António Jorge Ribeiro. É editado pela «Tartaruga», sendo a capa um original do saudoso Escultor capilonense, Espiga Pinto, com o rosto do escritor Camilo Castelo Branco. A impressão das 210 páginas, desta obra, com várias fotografias antigas e fac-similes, é num tom castanho, imagem de marca da editora. O autor porfiou em fazer um trabalho específico e de qualidade, servindo-se de documentação mais acautelada e dos jornais coevos e posteriores, dando-nos a conhecer facetas menos divulgadas ou inéditas de Camilo? As badanas referem que António Jorge Ribeiro, economista de formação e cedo «começou por publicar textos no jornal do Colégio de Trofa, no jornal Mãos Dadas e na revista Prelúdio, dos alunos do Liceu Alexandre Herculano, de que foi director… (…)

 Foi o quarto director do Jornal de Santo Tyrso (…) o mais antigo do distrito do Porto (…)». Colaborou noutros jornais da região e de Espanha. Publicou textos em prosa e em verso, tendo prontos outros trabalhos para publicação. Ocupou cargos relevantes e foi agraciado pela Câmara Municipal de Santo Tirso. O livro, «Camilo Castelo Branco em Santo Tyrso», elege o conde de S. Bento, Manuel José Ribeiro, como uma das figuras que lhe azedam a pena, mantendo-o por perto. A sua saúde débil leva-o a que as consultas a médicos amigos (como o Dr. Pedrosa, Dr. Ricardo Jorge e Dr. Ferreira) e outros de nomeada estejam presentes na sua vida atribulada. As lutas entre liberais (malhados ou mijados) e os absolutistas (cachamôrros ou miguelistas) estendem-se, principalmente, pelas regiões do Minho, do Douro Litoral e de Basto, entrando personagens, temíveis umas e grotescas outras, em acção. Atente-se no excerto: «(…) o alferes (de Lamelas), faminto de vingança, (…) ia pedir contas aos Trêpas e aos Andrades de Santo Tyrso, uns malhados, cujas cabeças havia de deixar espetadas em pinheiros». A paixão pela amante e mulher, Ana Plácido, leva-o a viver uma vida amorosa intensa. 

O episódio da sedução e rapto da jovem, Maria Isabel, para casar com o seu filho Nuno, para lhe garantir um futuro sem sobressaltos, é outro episódio marcante da vida de Camilo. A sua vida acontece com mais intensidade no triângulo: Porto, V. N. de Famalicão e Sto. Tirso. Além de Ana Plácida outras personagens importantes, movem-se neste pormenorizado ensaio, do jornalista, António Jorge Ribeiro, como, por exemplo, «a Bruxa de Monte Córdoba». Bruxa ou santa? Eu inclino-me pela segunda. Isto leva-nos a afirmar que a imprensa regional e nacional, bem como a epistolografia de St. Tirso, coevas (e posterior) de Camilo, foram vistas em pormenor. Um devoto camiliano, por mais visitas que faça ao reduto de Camilo e Ana Plácido, em Seide, complementadas com as idas seroadas ao Mosteiro (de Alberto Pimenta) de Landim, nunca ficará tão esclarecido sobre a imensa obra e a vida atribulada de Camilo se não ler este completíssimo trabalho que tem por epicentro Santo Tyrso e que abrange um palco bem maior, num tempo em que as personagens se movem à vontade. Curioso é constatarmos como Ana Plácido anda constantemente a farejar histórias, enredos e personagens para novos livros de Camilo Castelo Branco, garantindo-lhes assim uma vida menos parca. Fosse como fosse, a sua obra de 179 títulos coloca-o como um dos mais prolíferos escritores lusos. O livro, com esta nova vertente da sua vida e obra, pode ser pedido à Livraria Minho (Braga - lminho@livrariaminho.pt ) ou à Livraria Académica (Porto – livraria-academica@sapo.pt ) que o farão chegar aos interessados, sendo o preço aconselhável da venda de 7 €. Também estarei disposto a esclarecer qualquer dúvida na sua aquisição. Os pedidos não ficarão sem uma resposta – jorge.j.lage@gmail.com. O Natal está quase a «um salto de pardal» e pode ser uma boa prenda para si, familiares e amigos.

Jorge Lage

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