Histórias de Londres – Quando vou às casas dos meus filhos, tenho por
hábito rotineiro dar uma espreitadela aos livros que têm à mão de semear ou
numa prateleira. Assim, ao passar a época natalícia (2021) em família, com
filhos e netos, em Londres, chamou-me especial atenção um livro em capa dura,
«Histórias de Londres», do jornalista e escritor catalão, Eric González
(correspondente do jornal El País), com tradução de Carlos Vaz Marques, editado
pela «Tinta da China». Ao folheá-lo verifiquei que não era um exemplar apenas para
nos entreterem, à guisa «de papas e bolos se enganam os tolos». É uma grande
obra de pouco mais de 200 páginas e à medida que vamos lendo, queremos avançar
e descobrir mais e mais. São saberes e mais saberes, muitos dos quais, teríamos
de ler muita bibliografia para os descobrirmos.
É como se fôssemos apanhar
cogumelos a um souto e logo no início estivesse lá uma bela cesta artesanal,
saída das mãos hábeis dos ciganos, Bimba, Fernando ou Picareta, nas regatas do
rio Rabaçal, próximo da minha aldeia. Assim, ficamos a saber como se formou
Londres, a partir da milha quadrada, a «City», o «coração de Londres». Depois,
o autor faz toda uma caminhada pelo «bairro de Albert», «South Kensington
(South Ken, para os londrinos, também “Pequena França”)», o luxuoso e planificado
bairro Belgravia, onde «acampou» a «Exposição Universal» de 1851 (há 120 anos)
e o «Hyde Park». Eu tenho duas paixões por parques urbanos, melhor três: pelo
«Hyde Park», que sendo público encerra a horas menos convenientes e onde há o
maior souto bravo urbano (tem mais castanheiros do que todos os parques
públicos de Portugal); o «Central Park», em Nova Iorque que me esmaga com a sua
imensidão, sendo um certificado do carácter e defesa de um bem superior dos
nova-iorquinos, porque na cidade Braga fui assistindo ao esmagamento ou
amolecimento do carácter dos brácaros de hoje, pela gestão socialista; por fim,
o «Parque da Cidade», de Vila Nova de Famalicão, sendo afirmação duma gestão
estratégica do social-democrata Arquitecto Armindo Costa, a quem alguma
esquerda denegria e, quando chegou à presidência, catapultou, com toda a sua
equipa, Famalicão para o lote dos melhores municípios portugueses, a construção
do parque urbano, que é uma bênção para a cidade, teve uma tenaz oposição
socialista e hoje metem a viola no saco. Adiante, que atrás vem gente. Voltando
ao grande livro, «Histórias de Londres», está dividido em capítulos/temas,
sucedendo-se. Por exemplo, pode saber como nasceu a lendária personagem do
«Peter Pan», ligada aos jardins de «Kensington», ou que os anglicanos, em
religião, pensam mais como os católicos do que como os protestantes. Saber
ainda que a encosta de «Notting Hill», na década de cinquenta do século XX, era
conhecida por «The Potteries», por lá se extrair o barro com que os oleiros
londrinos manufacturavam a louça/porcelana. Os poços que escavavam acumulavam
água pluvial, dos córregos e detritos domésticos sendo apelidada de cloaca, e
junto viviam os miseráveis operários irlandeses (e outros), criando porcos, que chafurdavam naquela
pestilenta massa de água. Onde, há cem anos, a mortalidade infantil era de 419
em 1.000 e a esperança média de vida, pasmem-se, era apenas de 12 anos. Assim,
quando falamos das condições difíceis do tempo da ditadura do Estado Novo,
esquecemo-nos das condições piores em que viviam os operários das grandes
nações. Pior ainda, na Rússia e na China morriam aos milhões de fome e não só.
Volto ao livro, para informar que a Margaret Thatcher (e os que a sucederam),
como Primeiro-Ministro, quando se deslocava na cidade, a sua comitiva
respeitava rigorosamente o limite de velocidade e a sinalética (crio repulsa e
revolta pela prepotência impune dos que nos governam como no acidente do carro
do Ministro (em Inglaterra, haveria prisão, porque o responsável é sempre quem
manda porque o motorista recebe ordens). Voltando ao livro, no «grande reino»
de Sua Majestade havia mais de 700 marcas de cervejas e os pubs oferecem
serviços diversificados. Pela obra em questão pode saber que a Monarquia
Britânica é uma instituição financeiramente rentável para os cofres públicos,
já que devido devido à coroa visitam anualmente o reino mais de 22 milhões de
turistas, gerando grandes receitas, ao contrário da nossa República que só suga
(p. ex., o dobro da monarquia espanhola. A monarquia do Reino Unido emprega
directamente milhares de pessoas. Pela leitura da obra podemos conhecer a
tendência política e social dos vários jornais e revistas e como surgiram, ou
como se criaram os clubes de futebol (O Tottenham Hotspurs – hot=quente e
spurs=cachorro) ou sobre o temível e lendário Jack, o Estripador. Muito do que
se quer saber dificilmente encontra nos livros, mas, está nas suas páginas,
gerando uma leitura estimulante e que aconselho vivamente a quem goste de
opinar bem escudado ou goste de saber mais. Se quer oferecer um bom livro a
alguém e ainda não conhece «Histórias de Londres», vai dar o dinheiro por bem
empregue. Aos portugueses que estão em (ou pensam ir) Londres ou querem saber
mais, até de futebol, de política (p.ex.: como vivia Karl Marx) ou de cultura,
este grande autor serve-os primorosamente.
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