quinta-feira, 13 de janeiro de 2022

Histórias de Londres


JORGE  LAGE


Histórias de LondresQuando vou às casas dos meus filhos, tenho por hábito rotineiro dar uma espreitadela aos livros que têm à mão de semear ou numa prateleira. Assim, ao passar a época natalícia (2021) em família, com filhos e netos, em Londres, chamou-me especial atenção um livro em capa dura, «Histórias de Londres», do jornalista e escritor catalão, Eric González (correspondente do jornal El País), com tradução de Carlos Vaz Marques, editado pela «Tinta da China». Ao folheá-lo verifiquei que não era um exemplar apenas para nos entreterem, à guisa «de papas e bolos se enganam os tolos». É uma grande obra de pouco mais de 200 páginas e à medida que vamos lendo, queremos avançar e descobrir mais e mais. São saberes e mais saberes, muitos dos quais, teríamos de ler muita bibliografia para os descobrirmos. 

É como se fôssemos apanhar cogumelos a um souto e logo no início estivesse lá uma bela cesta artesanal, saída das mãos hábeis dos ciganos, Bimba, Fernando ou Picareta, nas regatas do rio Rabaçal, próximo da minha aldeia. Assim, ficamos a saber como se formou Londres, a partir da milha quadrada, a «City», o «coração de Londres». Depois, o autor faz toda uma caminhada pelo «bairro de Albert», «South Kensington (South Ken, para os londrinos, também “Pequena França”)», o luxuoso e planificado bairro Belgravia, onde «acampou» a «Exposição Universal» de 1851 (há 120 anos) e o «Hyde Park». Eu tenho duas paixões por parques urbanos, melhor três: pelo «Hyde Park», que sendo público encerra a horas menos convenientes e onde há o maior souto bravo urbano (tem mais castanheiros do que todos os parques públicos de Portugal); o «Central Park», em Nova Iorque que me esmaga com a sua imensidão, sendo um certificado do carácter e defesa de um bem superior dos nova-iorquinos, porque na cidade Braga fui assistindo ao esmagamento ou amolecimento do carácter dos brácaros de hoje, pela gestão socialista; por fim, o «Parque da Cidade», de Vila Nova de Famalicão, sendo afirmação duma gestão estratégica do social-democrata Arquitecto Armindo Costa, a quem alguma esquerda denegria e, quando chegou à presidência, catapultou, com toda a sua equipa, Famalicão para o lote dos melhores municípios portugueses, a construção do parque urbano, que é uma bênção para a cidade, teve uma tenaz oposição socialista e hoje metem a viola no saco. Adiante, que atrás vem gente. Voltando ao grande livro, «Histórias de Londres», está dividido em capítulos/temas, sucedendo-se. Por exemplo, pode saber como nasceu a lendária personagem do «Peter Pan», ligada aos jardins de «Kensington», ou que os anglicanos, em religião, pensam mais como os católicos do que como os protestantes. Saber ainda que a encosta de «Notting Hill», na década de cinquenta do século XX, era conhecida por «The Potteries», por lá se extrair o barro com que os oleiros londrinos manufacturavam a louça/porcelana. Os poços que escavavam acumulavam água pluvial, dos córregos e detritos domésticos sendo apelidada de cloaca, e junto viviam os miseráveis operários irlandeses (e outros),  criando porcos, que chafurdavam naquela pestilenta massa de água. Onde, há cem anos, a mortalidade infantil era de 419 em 1.000 e a esperança média de vida, pasmem-se, era apenas de 12 anos. Assim, quando falamos das condições difíceis do tempo da ditadura do Estado Novo, esquecemo-nos das condições piores em que viviam os operários das grandes nações. Pior ainda, na Rússia e na China morriam aos milhões de fome e não só. Volto ao livro, para informar que a Margaret Thatcher (e os que a sucederam), como Primeiro-Ministro, quando se deslocava na cidade, a sua comitiva respeitava rigorosamente o limite de velocidade e a sinalética (crio repulsa e revolta pela prepotência impune dos que nos governam como no acidente do carro do Ministro (em Inglaterra, haveria prisão, porque o responsável é sempre quem manda porque o motorista recebe ordens). Voltando ao livro, no «grande reino» de Sua Majestade havia mais de 700 marcas de cervejas e os pubs oferecem serviços diversificados. Pela obra em questão pode saber que a Monarquia Britânica é uma instituição financeiramente rentável para os cofres públicos, já que devido devido à coroa visitam anualmente o reino mais de 22 milhões de turistas, gerando grandes receitas, ao contrário da nossa República que só suga (p. ex., o dobro da monarquia espanhola. A monarquia do Reino Unido emprega directamente milhares de pessoas. Pela leitura da obra podemos conhecer a tendência política e social dos vários jornais e revistas e como surgiram, ou como se criaram os clubes de futebol (O Tottenham Hotspurs – hot=quente e spurs=cachorro) ou sobre o temível e lendário Jack, o Estripador. Muito do que se quer saber dificilmente encontra nos livros, mas, está nas suas páginas, gerando uma leitura estimulante e que aconselho vivamente a quem goste de opinar bem escudado ou goste de saber mais. Se quer oferecer um bom livro a alguém e ainda não conhece «Histórias de Londres», vai dar o dinheiro por bem empregue. Aos portugueses que estão em (ou pensam ir) Londres ou querem saber mais, até de futebol, de política (p.ex.: como vivia Karl Marx) ou de cultura, este grande autor serve-os primorosamente.

 NOTAS DE RODAPÉ (225)


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