BARROSO da FONTE
O Jornal comunitário em Português abc,
de 9 a 15 do corrente noticiou a morte do Combatente Manuel Andrade Guerra, em
30 de Novembro.
Nasceu em 1946 e foi mobilizado, como
alferes miliciano, para Angola. Entre Dezembro de 1971 e Abril de 1974, esteve
integrado na Companhia de Cavalaria 3862.Em 1972 quando, comandava uma coluna,
desde Gago Coutinho para Mussuma, a viatura em que seguia fez detonar uma mina,
ficando gravemente ferido. Foi louvado pelo seu comandante e, no fim da
comissão esteve destacado, como comandante militar de Benguela.
O abc escreveu: «De regresso ao
continente voltou a trabalhar no Diário de Notícias, até ser saneado
pela equipa gestora do PCP, onde se integrava José Saramago. Com outros
saneados, formou o Grupo dos 24. Esse Grupo chegou a publicar (2 vezes),
um jornal alternativo na defesa da liberdade de Imprensa. Foi um dos Fundadores
de «O dia», dirigido pelo Prof. Vitorino Nemésio. Fundou ainda o
semanário «Dez de Junho». Participou em muitas atividades culturais e
publicou 4 livros, incluindo alguns sobre aspetos da Guerra. Um desses livros
chamou-se: A dor da Nação - Deficientes das Forças Armadas, em parceria
com Marques Valentim. Aí recolheram 34 depoimentos de militares portugueses,
com deficiências graves adquiridas no decurso da guerra no Ultramar». Um outro
livro do jornalista saneado por Saramago, teve o título de «Dor que perdura
- realidade surpreendente».
Foi também sub - diretor do Correio da
Manhã. Agostinho de Azevedo, chefe da Redação, nos anos 80, escreveu sobre
Andrade Guerra: «ele tinha chegado com o que chamava a sua coroa de glória –
ter feito parte dos "saneados (do José Saramago) do DN [Diário de
Notícias]. Nos anos 90, já na Av. João Crisóstomo, partilhámos a Direção, de
que ele foi adjunto. Separámo-nos em 2001
por força da orfandade que sucedeu à venda do jornal».
Andrade Guerra, escreveu: «acabámos por seguir caminhos diferentes e não tivemos oportunidade de reatar o companheirismo de tantos anos. Mas recordo a sua bonomia, a sua formalidade, o seu culto da ordem, a sua capacidade didática. Era uma pessoa confiável e segura. Fazia tudo com rigor, às vezes excessivo. Completava-me na minha forma mais "desarrumada" de fazer as coisas e de expressar as ideias. A sua morte levou algo indissociável da minha vida». A perda do jornalista, Manuel Andrade Guerra, mereceu-lhe um voto de pesar na Assembleia Municipal de Lisboa, apresentado pelo deputado do partido Aliança, Jorge Nuno de Sá. Esse voto pretendeu destacar o percurso profissional de Manuel Andrade Guerra, que iniciou a sua carreira, como jornalista no jornal Diário de Notícias, cargo de que foi destituído por José Saramago, juntamente com mais 23 saneados. Duas coincidências opostas se deram em Novembro recente. Dia 5 foi a proclamação da Cátedra Saramago, com pompa e circunstância, na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro. Dia 30 entornou-se o caldo com a morte de um dos 24 saneados por esse mesmo Saramago. A fatalidade humana foi cruel para contrapor ao demérito da exaltação de 25 dias antes. A UTAD terá de abrir, de imediato, na sumptuosidade da Catedral Saramaguesa, um sarcófago para depositar os esqueletos dos 24 mártires da democracia científica. Barroso da Fonte
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