Embora o ser membro do Governo não seja considerado como profissão, façamos
de conta que sim, porque isso em nada diminui o desprendimento da ministra
pelas honrarias e benesses do cargo e a sua generosidade em “dar o lugar a
outras pessoas”. A esse desapego por tais mundanidades chamam as
bem-aventuranças evangélicas “pobreza de espírito”, e também se designa por
“pobreza franciscana”, por ter sido um frade de nome Francisco um dos seus mais
altos expoentes. E eu tenho para mim, cá no meu íntimo, que não é mero acaso o
facto da ministra também se chamar Francisca.
Por tudo isto me custa a crer que haja gente capaz de malsinar os sentimentos
cristãos da virtuosa senhora, insinuando coisas como estas, que eu já ouvi:
como boa entendedora que é, Francisca já terá topado que António Costa a
tenciona desencostar; ora como ela, além de boa entendedora, também é boa a
fazer-se entender, apressou-se a dizer o que disse para que entendêssemos que
não foi António Costa a desencostá-la, foi ela que se desencostou.
Dizem ainda as más línguas que, se ela vem arrostando com os sacrifícios
que a “profissão” comporta, não é pelos lindos olhos da pasta ministerial, mas
por mor de outra pasta, a de metal. Mas eu ponho as mãos no lume pela sua
sinceridade. Notem que ela tem sido ministra não só com prejuízos para si
própria, mas com graves repercussões para os seus familiares. Não deixa de
causar dó a carência afectiva dos seus netinhos por falta de comparência da
vovó com os seus carinhos.
No que toca à tal “remodelação” que Van Dunem diz que esteve “combinada” e
que António Costa sempre negou, é evidente a galga por parte de um dos dois.
Quanto a mim, não tenho quaisquer dúvidas de que tal patranha pertence a
António Costa; a patranha é nele congénita, é o seu idioelecto, a sua marca de
água.
Termino augurando à iminente ex-ministra Van Dunem uma aposentação “posta
em sossego” e na afectuosa envolvência dos seus netinhos. Bem a merece, porque
governantas como ela não há muitas. Reparem que, conhecendo por experiência
própria quão espinhoso é o desempenho de certos lugares, fez os possíveis e os
impossíveis para evitar que a Dr. Ana Carla Almeida fosse sujeita a tais
suplícios, opondo-se a que preenchesse o lugar que lhe estava destinado no
Conselho Europeu, lugar que teve de ser ocupado, com menos sorte, pelo Dr. José
Guerra. São os caprichos do destino: males que vêm por bem e bens que vêm por
mal.
Flávio Vara
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*Utilizo a forma feminina da palavra, obedecendo aos conceitos politicamente mais correctos sobre os géneros, e seguindo o exemplo pioneiro de Dilma Rousseff, que se autochamava “Presidenta” do Brasil. Não confundir com governanta doméstica, sem embargo da domesticidade que Van Dunem revela nas suas palavras a seguir transcritas.
Texto certeiro para uma seguidista, como se estivéssemos nos desgovernos dos piores países do terceiro mundo... JL.
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