sexta-feira, 26 de novembro de 2021

La Galhega (Notas de Rodapé 224)

 

JORGE  LAGE



É um «Remanse an Mirandés», de Faustino Antão, autor que tem dado contributo à divulgação da língua Mirandesa e foi estimulado pelo já falecido Amadeu

 Ferreira. O livro de Faustino Antão, em formato de bolso, ilustrado por Susana Antão, tem 142 páginas, abrangendo 47 capítulos, que se lêem com gosto e paixão. Afinal, até à construção das barragens no Douro superior, entaladas entre as arribas deste mítico rio, o Planalto de Miranda foi uma realidade antropológica e linguística bem distinta do rectângulo lusitano, iniciando-se, depois, o percurso inverso rumo à globalização, que tritura e descaracteriza as nossas culturas locais, incluindo a linguística.  Esta variante linguística, que julgo assentar no muito antigo falar ibérico fortemente romanizado, recebendo influências do castelhano, do leonês e do português arcaico. Aliado desta minha convicção está o facto de ainda encontrar pessoas de idade avançada, nos concelhos de Chaves, Vinhais, Mirandela e Macedo de Cavaleiros que conservam muitos vocábulos do Mirandês. Este facto senti-o aquando da pesquisa e recolha no terreno para o livro, «Mirandela Outros Falares» e ainda dos livros «Memórias da Maria Castanha» e «Maria Castanha Outras Memórias». Seja como for, a existência do Mirandês como língua minoritária, ao contrário do que possam pensar e escrever alguns «donos da língua» de Camões e Pessoa, a diversidade linguística de região para região, de tema para tema, bem como a língua minoritária Mirandesa, devem tornar-se como generosas fontes de enriquecimento. Voltando ao «Remanse an Mirandés», «La Galhega», apresenta-se de uma roupagem vocabular riquíssima, com um enredo e acção que nos estimula para lermos mais e mais, fazendo-me lembrar a alegoria do burro e da cenoura. O «romanço» tem como centralidade Miranda e o Planalto Mirandês e a construção da barragem entalada na garganta das arribas, gerando desenvolvimento local e atraindo as mais variadas gentes, como a Galhega (Ourora), refugiada das turbulências libertadoras sul-americanas e a Herculana, zorra atirada para a roda da vida. Vale a pena ler este livro que, também, é uma grande lição critica a muito do farisaísmo cristão e para que não restem dúvidas, até o padre vai visitar aquela que vende o corpo para criar o filho e sobreviver. Os meus parabéns ao Faustino Antão, natural de «Zenízio», pelo belo livro em «Mirandés» que nos dá e que honra Miranda do Douro e a sua língua, mas merecia um tipo de caracteres um pouco maior e ter saído com ISBN.


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