quinta-feira, 25 de março de 2021

PORTUGAL INSULTADO - Tenham Vergonha

A morte do tenente -coronel Marcelino da Mata no dia 11 de Fevereiro de 2021, que era até à data o militar vivo mais condecorado, não suscitou qualquer interesse da parte das televisões nacionais, tendo apenas a RTP feito uma breve e sucinta alusão ao acontecimento. Todos os outros canais silenciaram o facto, assim como o comunicado do Exército sobre o seu falecimento.

No dia seguinte, perante a continuada ausência de notícias nas televisões, comentei com alguns antigos camaradas de tropa a minha “estranheza” e a convicção de que mais uma vez Portugal não iria honrar os seus heróis.

Pelo que consegui apurar os três portugueses mais condecorados em combate são Paiva Couceiro, nas campanhas de Angola e Moçambique de 1889 a 1895, Alpoim Calvão e Marcelino da Mata na Guiné, na guerra colonial ou do ultramar.

É difícil dizer qual deles é o mais condecorado dado serem épocas diferentes, tornando-se igualmente complicado equiparar condecorações. E na verdade não é importante. O que fizeram para as merecer é o que interessa.

Vejamos quais as condecorações de Marcelino da Mata:

-Cruz de Guerra de 2ª classe (1966)

-Cruz de Guerra de 1ª classe (1967)

-Torre e Espada (1969)

-Cruz de Guerra de 1ª classe (1971)

-Cruz de Guerra de 3ª classe (1973)

-Cruz de Guerra de 1ª classe (1973)

-Medalha dos Promovidos por Feitos Distintos em Campanha

-Medalha dos Promovidos por Feitos Distintos em Campanha

-Medalha Comemorativa da Campanha Guiné 1963-1974

Ora Marcelino da Mata fez 2414 missões de combate, tendo estado permanentemente operacional durante 13 anos, de 1961 a 1974, o que faz dele um caso verdadeiramente excepcional.

Participou nas mais notáveis operações na Guiné:

-Operação Tridente na ilha de Como

-Operação Cajado

-Resgate de 150 soldados portugueses cativos em território senegalês

-Operação Mar Verde, onde conseguiu libertar da mais tenebrosa prisão de Conacri 26 portugueses, entre eles o tenente António Lobato, hoje major, que ali estava em cativeiro há sete anos e meio, bem como 400 senegaleses, vistos como opositores a Sékou Touré e cujo destino era a tortura e em muitos casos a morte.

-Operação Ametista Real

-Também conseguiu resgatar alguns pilotos da FAP que tinham sido abatidos por mísseis do PAIGC.

Como era uso à época, os residentes das províncias ou colónias, como se queira designar, eram incorporados nas Forças Armadas no ano em que faziam 21 anos.

Logo, Marcelino da Mata, nascido na Guiné, de etnia Papel, para todos os efeitos português, entrou para o nosso exército da Guiné em 1960 como soldado.

Foi graças ao seu desempenho e valentia, que foi sendo condecorado e promovido por actos de bravura em combate até chegar a oficial.

Resta-me acrescentar que tinha a nacionalidade portuguesa, e que em 1962 o PAIGC lhe assassinou o pai e a irmã, Quinta da Mata, que estava grávida, ao que se diz por acharem errado que fossem dirigentes cabo-verdianos a exercerem a sua autoridade sobre os militantes guineenses do PAIGC, uma vez que eram territórios distintos.

Temos já aqui, um crime, um crime de guerra desse movimento, cometido contra dois civis desarmados, por “delito” de opinião. Diga-se de passagem que após o final da guerra, os guinéus rapidamente descartaram essa dominação de Cabo-Verde.

Portanto o pai e a irmã de Marcelino da Mata terão sido vítimas do sentimento prevalecente na sociedade guineense de rejeição dos chefes cabo-verdianos que pretendiam dominar a Guiné.

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Embora sabendo do que “a casa gasta”, nos dois dias subsequentes à morte de Marcelino da Mata, portugueses comuns como eu, interrogaram-se sobre a total ausência de qualquer comentário ou posição de quem nos governa acerca deste assunto. Até que nas televisões, apareceram debates e opiniões de agentes e comentadores políticos que, maioritariamente, arrasavam ou insultavam o falecido.

Dessas destaco as de Fernando Rosas, as de Mamadu Ba, e as de Vasco Lourenço.

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Fernando Rosas, diz que Marcelino da Mata é um traidor, um criminoso de guerra e um torturador.

A acusação de traidor é tão patética que apenas tenho a perguntar a esse senhor se porventura a sua nacionalidade é guineense. Talvez então, esteja longe da sua terra !!!


Quanto a criminoso de guerra seria bom que tivesse a hombridade de apresentar provas, o que não fez.

Sobre essa acusação que é comum às outras pessoas mencionadas e que também não apresentam um único caso, abordarei o assunto com mais profundidade, mas por agora vamos à parte da tortura, em que também não é apresentado um único caso.

Sr. Fernando Rosas... o sr. foi fundador do MRPP em 1970, bem como do PCTP/MRPP em 1976, uma mera mudança do nome do partido. Foi sempre um dos seus principais dirigentes. Entre meados de 1975 a 1979 dirigiu o jornal “Luta Popular” dessa organização.

Ora em 15/05/1975 o ex-fuzileiro José Jaime Coelho da Silva e a sua mulher, Natércia Coelho da Silva foram sequestrados por militantes do seu Partido e por militares do RALIS, levados para uma casa no Restelo e posteriormente para outra em Sintra. Em ambas, foram torturados durante os dois dias do rapto. A posterior entrega destes “agentes fascistas” às autoridades militares foi anunciada à comunicação social pelos dirigentes Saldanha Sanches e Carlos Santos.


No dia 18/05/1975 no RALIS Marcelino da Mata foi torturado ao longo de sete horas. Foi espancado, agredido com uma cadeira de ferro, chicoteado, partiram-lhe algumas costelas e finalmente deram-lhe choques eléctricos nos ouvidos, no nariz e no pénis. Os torturadores foram o furriel Duarte, o capitão Manuel Augusto Seixas Quinhones de Magalhães, o tenente-coronel Leal de Almeida, o capitão-tenente João Eduardo da Costa Xavier e vários militantes do MRPP, dos quais se sabe que um deles se chamava Ribeiro e outro Jorge. Foi este último a aplicar os choques eléctricos por ordem do cap. Quinhones. 
É sabido que quem conseguiu salvar Marcelino da Mata desta ignomínia foi o então capitão Dinis de Almeida.


Continue a ler AQUI. Assinado pelo ex-combatente José Araújo e Silva

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