A
morte do tenente -coronel Marcelino da Mata no dia 11 de Fevereiro de 2021, que
era até à data o militar vivo mais condecorado, não suscitou qualquer interesse
da parte das televisões nacionais, tendo apenas a RTP feito uma breve e sucinta
alusão ao acontecimento. Todos os outros canais silenciaram o facto, assim como
o comunicado do Exército sobre o seu falecimento.
No
dia seguinte, perante a continuada ausência de notícias nas televisões,
comentei com alguns antigos camaradas de tropa a minha “estranheza” e a
convicção de que mais uma vez Portugal não iria honrar os seus heróis.
Pelo
que consegui apurar os três portugueses mais condecorados em combate são Paiva
Couceiro, nas campanhas de Angola e Moçambique de 1889 a 1895, Alpoim Calvão e
Marcelino da Mata na Guiné, na guerra colonial ou do ultramar.
É
difícil dizer qual deles é o mais condecorado dado serem épocas diferentes,
tornando-se igualmente complicado equiparar condecorações. E na verdade não é
importante. O que fizeram para as merecer é o que interessa.
Vejamos
quais as condecorações de Marcelino da Mata:
-Cruz
de Guerra de 2ª classe (1966)
-Cruz
de Guerra de 1ª classe (1967)
-Torre
e Espada (1969)
-Cruz
de Guerra de 1ª classe (1971)
-Cruz
de Guerra de 3ª classe (1973)
-Cruz
de Guerra de 1ª classe (1973)
-Medalha
dos Promovidos por Feitos Distintos em Campanha
-Medalha
dos Promovidos por Feitos Distintos em Campanha
-Medalha
Comemorativa da Campanha Guiné 1963-1974
Ora
Marcelino da Mata fez 2414 missões de combate, tendo estado permanentemente
operacional durante 13 anos, de 1961 a 1974, o que faz dele um caso
verdadeiramente excepcional.
Participou
nas mais notáveis operações na Guiné:
-Operação
Tridente na ilha de Como
-Operação
Cajado
-Resgate
de 150 soldados portugueses cativos em território senegalês
-Operação
Mar Verde, onde conseguiu libertar da mais tenebrosa prisão de Conacri 26
portugueses, entre eles o tenente António Lobato, hoje major, que ali estava em
cativeiro há sete anos e meio, bem como 400 senegaleses, vistos como opositores
a Sékou Touré e cujo destino era a tortura e em muitos casos a morte.
-Operação
Ametista Real
-Também
conseguiu resgatar alguns pilotos da FAP que tinham sido abatidos por mísseis
do PAIGC.
Como
era uso à época, os residentes das províncias ou colónias, como se queira designar,
eram incorporados nas Forças Armadas no ano em que faziam 21 anos.
Logo, Marcelino da Mata,
nascido na Guiné, de etnia Papel, para todos os efeitos português, entrou para
o nosso exército da Guiné em 1960 como soldado.
Foi graças ao seu
desempenho e valentia, que foi sendo condecorado e promovido por actos de
bravura em combate até chegar a oficial.
Resta-me acrescentar que
tinha a nacionalidade portuguesa, e que em 1962 o PAIGC lhe assassinou o pai e
a irmã, Quinta da Mata, que estava grávida, ao que se diz por acharem errado
que fossem dirigentes cabo-verdianos a exercerem a sua autoridade sobre os
militantes guineenses do PAIGC, uma vez que eram territórios distintos.
Temos já aqui, um crime,
um crime de guerra desse movimento, cometido contra dois civis desarmados, por
“delito” de opinião. Diga-se de passagem que após o final da guerra, os guinéus
rapidamente descartaram essa dominação de Cabo-Verde.
Portanto o pai e a irmã
de Marcelino da Mata terão sido vítimas do sentimento prevalecente na sociedade
guineense de rejeição dos chefes cabo-verdianos que pretendiam dominar a Guiné.
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Embora sabendo do que “a
casa gasta”, nos dois dias subsequentes à morte de Marcelino da Mata,
portugueses comuns como eu, interrogaram-se sobre a total ausência de qualquer
comentário ou posição de quem nos governa acerca deste assunto. Até que nas
televisões, apareceram debates e opiniões de agentes e comentadores políticos
que, maioritariamente, arrasavam ou insultavam o falecido.
Dessas destaco as de
Fernando Rosas, as de Mamadu Ba, e as de Vasco Lourenço.
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Fernando Rosas, diz que
Marcelino da Mata é um traidor, um criminoso de guerra e um torturador.
A acusação de traidor é tão patética que apenas tenho a perguntar a esse senhor se porventura a sua nacionalidade é guineense. Talvez então, esteja longe da sua terra !!!
Quanto a criminoso de
guerra seria bom que tivesse a hombridade de apresentar provas, o que não fez.
Sobre essa acusação que é
comum às outras pessoas mencionadas e que também não apresentam um único caso,
abordarei o assunto com mais profundidade, mas por agora vamos à parte da
tortura, em que também não é apresentado um único caso.
Sr. Fernando Rosas... o
sr. foi fundador do MRPP em 1970, bem como do PCTP/MRPP em 1976, uma mera
mudança do nome do partido. Foi sempre um dos seus principais dirigentes. Entre
meados de 1975 a 1979 dirigiu o jornal “Luta Popular” dessa organização.
Ora em 15/05/1975 o
ex-fuzileiro José Jaime Coelho da Silva e a sua mulher, Natércia Coelho da
Silva foram sequestrados por militantes do seu Partido e por militares do
RALIS, levados para uma casa no Restelo e posteriormente para outra em Sintra. Em
ambas, foram torturados durante os dois dias do rapto. A posterior entrega
destes “agentes fascistas” às autoridades militares foi anunciada à comunicação
social pelos dirigentes Saldanha Sanches e Carlos Santos.
Continue a ler AQUI. Assinado
pelo ex-combatente José Araújo e Silva
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